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Cruzeiros

Entrevista: Marco Ferraz faz panorama da temporada

 

Marco Ferraz, presidente da Clia Abremar

Marco Ferraz, presidente da Clia Abremar

Ainda longe do auge registrando em 2012, com um total de 805 mil hóspedes, a temporada brasileiras de cruzeiros 2017/18 deve apresentar uma tímida evolução em relação a anterior tanto em oferta, quanto em movimentação financeira. Serão seis navios dedicados exclusivamente à costa brasileira, sendo três da MSC, dois da Costa e um da Pullmantur. Além destes, outro navio da MSC deve contar com paradas no Brasil, partindo da Argentina. As sete embarcações devem significar uma oferta de 400 mil leitos ao longo da temporada, número  pequeno, se comparado aos 25,8 milhões previstos para este ano em todo o mundo. Para o presidente da Clia Brasil, Marco Ferraz, estes números demonstram que existe muito potencial a ser explorado no setor de cruzeiros. Fazendo uma avaliação sobre a próxima temporada, o executivo destaca a necessidade de se trabalhar arduamente para resolver questões relacionadas à infraestrutura,burocracia, custos de operação e novas opções de destino, considerados os pontos fundamentais para alavancar a participação de armadoras no mercado nacional.

Na próxima temporada de cruzeiros (2017-18) o Brasil contará com seis navios dedicados integralmente à costa, além de um navio da MSC que terá diversas paradas em portos brasileiros. Quais são os resultados esperados para esta temporada? Haverá crescimento em relação ao ano passado?
Com este número a gente se mantém estável em número de navios em relação a última temporada, mas aumentamos o número de cabines, porque a NCL, que estava aqui no ano passado, teve poucas saídas do Brasil. Já este navio da MSC, que substituiu como o sétimo navio terá mais saídas, o que deve aumentar a oferta. A expectativa é de 400 mil leitos para esta temporada, contra 383 mil da última. É uma melhora, mas é muito aquém do que imaginávamos. Não tem como não comparar com o crescimento do resto do mundo, que no ano passado fechou acima das expectativas, com 24,7 milhões de hóspedes, e que este ano deve ultrapassar os 25,8 milhões. Estar com apenas 400 mil leitos ofertados é estar na contramão do mundo. Por isso estamos trabalhando todo dia para aumentar a competitividade do país e atrair mais navios dedicados integralmente à costa brasileira.

Como está o Brasil no mercado de cruzeiros em relação ao resto do Mundo?
Cerca de 2,7% dos navios estão na América do Sul. Se a gente comprar com Caribe, que tem mais de 35%, Europa com mais de 33%, além de China, que vem crescendo muito, e Austrália, que já ultrapassou um milhão de cruzeiristas, é possível perceber que há muito para crescer ainda. Nós temos um potencial muito grande, com uma população de 200 milhões e com uma classe média muito grande. Queremos atrair mais navios para abastecer os cruzeiristas de primeira viagem, para isso temos que resolver questões como infraestrtutura, custos, tripulação, impostos e novos destinos para tornar mais atrativo a operação de um navio no Brasil. Lá fora há lugares que pagam para trazer navios, cientes da movimentação econômica que eles trazem.

Um dos grandes problemas apontados pelas armadoras são as questões trabalhistas. Como resolver este problema?
As interpretações da legislação trabalhista causam uma insegurança jurídica. Existe a MLC 06, uma convenção internacional feita pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) que o Brasil foi signatário. Mas é preciso ratificar isso na legislação brasileira. Este assunto estava parado no Ministério do Trabalho. Nós conseguimos avançar e hoje o texto está no Congresso. A tramitação é de uma lei normal, passando pelas comissões, por votação nos plenários da Câmara e Senado e pela sanção do presidente. Depois de todo este processo, nós vamos produzir um livro com uma reflexão sobre Direito Internacional para ser lançado em seminários do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e em alguns TRTs (Tribunais Regionais do Trabalho) justamente para trazer à tona este assunto para os juízes trabalhistas, que muitas vezes não sabem como lidar com estes assuntos e acabam interpretando ações de acordo com a CLT. Para se ter uma ideia, hoje há R$400 milhões envolvidos em ações trabalhistas e nenhuma empresa está disposta a ter mais ações. Ano após ano os trabalhadores entram com ações e isto vai se acumulando. Isso é ruim, pois não se tratam só de eventuais condenações, mas dos gastos com o processo. Nós já assinamos um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público do Trabalho que já entende como correta a MLC 06, agora o trabalho é levar isso para o judiciário.

Como você avalia os custos de operação no Brasil?
Há impostos que só a gente tem, como Pis/Cofins. Os custos são 40% mais altos do que no resto no mundo. Isso inclui a taxa de embarque, praticagem, atracação, serviço de portos e os sindicatos envolvidos. Somente a taxa de praticagem chega a ser 400% mais caras que a média mundial. No Amazonas chega a ser 1000% mais cara. Um navio de 1.100 passageiros paga R$700 mil para ir até Manaus e voltar ao oceano. Nós concordamos com o serviço, mas questionamos o preço. O modelo hoje é basicamente monopolista. Não há regulação ou concorrência. Nós queríamos que Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) assumisse esta regulação, pois com certeza teríamos preços mais competitivos. Nós não queremos ser o mais barato do mundo, podemos ser até o mais caro, mas não tão mais caro. Temos um acordo de desconto em Santos e Ilhabela, que chega a 26%. Estamos em negociações avançadas com os estados de Rio de Janeiro de Bahia. Ao mesmo tempo estamos acompanhando cinco projetos de leis no Congresso sobre praticagem.

Além destes, existem outros projetos para estimular o setor?
Temos diversos projetos. Conseguimos agora uma liberação temporária de vistos temporários para quem tem carteira de marítimo. Há outro projetos, como de isenção de Pis/Cofins, outro para pagar ISS somente sobre o lucro e outro para que o Ecad seja cobrado somente sobre áreas comuns excluindo cobrança em áreas de cabines.

Na última temporada foi realizada uma escala teste em Balneário Camboriú. Como fica este destino para a próxima temporada e quais outras possibilidades de paradas?
Balneário Camboriú já tem dez paradas programas da Pullmantur e outras sete da MSC. Estamos aguardando a definição da Costa, que já confirmarmou que muitas passagens estão sendo estudadas. Será uma nova fase oferta com novos itinerários criados pelas armadoras. Estamos tentando o alfadegamento de Porto Belo, que é próximo a Camboriú. Quando isso acontecer os navios que virão de Argentina e Uruguai poderão parar ali, criando essas duas novas paradas.  Estamos trabalhando novos destinos como, Florianópolis, Vitória e Guarapari (ES), além de tentar retomar São Francisco do Sul (SC) e Itajaí (SC). Quem sabe até o fim do ano nós não conseguíramos uma escala testes em alguns destes destinos.

Com novos destinos, é possível implantar um modelo com cruzeiros durante o ano inteiro no Brasil?
Cruzeiros o ano inteiro seria possível no nordeste, mas teríamos que começar com um navio menor, pois esta é uma demanda que ainda não existe e precisaria ser criada. Um navio do nordeste para o nordeste talvez não interesse tanto a população da região, por isso é necessário criar uma logística para que pessoas de outras regiões possam chegar com facilidade ao cruzeiro. Esta logística para chegar com 3 ou 4 mil passageiros no mesmo dia não existe. Por isso teríamos que começar com navios de mil passageiros e crescer ano a ano. É uma opção interessante, mas temos que convencer algum armador que tenha este tipo de navio, para começar a operação, e também conversar com estados envolvidos, para conseguir uma redução de impostos e custos, além de ajudar na promoção. É algo que eu não diria que seja para os próximos dois anos.

Agências de viagens e operadoras vêm apontando o aumento do interesse de brasileiros por cruzeiros no exterior. Como está este mercado atualmente?
O último número que temos é de 133 mil cruzeiristas em 2015. Em 2016 acho que hpuve uma redução por conta do câmbio. Mas o que escutamos dos nossos associados e que esta procura está voltando e que houve um crescimento de dois dígitos, o que indica que teremos bons resultados em 2017.

Qual a participação dos agentes de viagens na venda de cruzeiros?
A participação dos agentes de viagens é de cerca de 80% de todas as vendas. Tem muito para crescer ainda, pois há muitas agências que ainda não vendem cruzeiros e precisam de treinamento para isso. Nós queremos em um futuro breve trazer ferramentas para não só treinar as agências, mas fazer com que tenham acesso a promoções exclusivas, bônus e certificados para terem em sua prateleira os cruzeiros. É um espaço a ser ocupado. Um navio é bem complexo de se vender, mas se o agente acerta o perfil do cliente dele com o do navio ele ganha um cliente de cruzeiro para a vida toda.

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