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Opinião

OPINIÃO: Dia Nacional do Turismo – Quase nada a comemorar

Por Mariana Aldrigui*

Mariana Aldrigui presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP

Mariana Aldrigui presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP

Dia 8 de maio é considerado o Dia Nacional do Turismo no Brasil. Entre centenas de outros “dias nacionais”, é mais uma que passa quase que totalmente despercebida. A data é fruto de um projeto de lei de Max Rosenmann, apresentado em 2007 e publicado no Diário Oficial da União em 9 de maio de 2012, pela Lei n.°12.625, de 9/5/2012. A justificativa da criação do dia, que consta do projeto original – mas não da publicação da lei –, é que em 8/5/1916 o aviador Alberto Santos Dumont se reuniu com o então presidente do Paraná a fim de convencê-lo da necessidade de desapropriar as terras onde estavam as cataratas do Rio Iguaçu, pertencentes a um cidadão uruguaio, e torná-la um parque aberto à visitação pública. As terras foram desapropriadas três meses depois, porém, o Parque Nacional do Iguaçu foi criado oficialmente somente em 1939, ou seja, 23 anos depois.

As buscas nas plataformas digitais de pesquisa revelam pouco ou (praticamente nada) da real motivação da origem dessa data, e não é difícil acreditar que foi mais um movimento de pouca expressão de nossos legisladores. Além disso, até 2012, ano da publicação dessa lei, documentos (cuja fonte é questionável) apontam para o dia 2 de março como o dia a se comemorar essa atividade econômica relevante ao Brasil. Há 25 anos atuando no setor, nunca ouvi e nem sequer participei de comemorações da data – nem em março, tampouco em maio. Pelo contrário, diferentes empresas e entidades participam da celebração conjunta do Dia Mundial do Turismo, em 27 de setembro, especialmente em função da relevância da atividade quando esta envolve turistas estrangeiros e a entrada de recursos para o país.

Estaríamos em outro tipo de discussão se, com o decreto de um Dia Nacional do Turismo, houvesse também espaço e tempo, nos veículos oficiais de comunicação, para destacar o significado do setor para o País, sem números inventados. Há anos convivemos com estimativas e projeções equivocadas, que levam empresários a tomar decisões de investimento que acabam sem o retorno projetado, justamente por confiar nas informações disponíveis.

Há mais tempo ainda, aceitamos que profissionais sem as devidas qualificações e comprovação de experiência se arvorem no papel de consultores, indicando o que deve ser feito em termos de gestão pública, e direcionando equivocadamente os parcos recursos disponíveis. Projetos sem critérios técnicos, sem elementos que permitam avaliar seus resultados e, em sua maioria, sem nenhum resultado efetivo para os locais onde são “implementados”.

O Dia Nacional do Turismo deveria, junto com todos os outros dias, ser um dia para refletir sobre o quanto é necessário abrir mão do achismo e das frases feitas, há muito tempo repetidas, e começar a trabalhar seriamente pelo setor – identificando sua real dimensão e sua capacidade de geração de emprego para diferentes tipos de pessoas e qualificações, a imediata redistribuição de renda que acontece com a chegada de mais visitantes e a capacidade efetiva de preservar os recursos naturais e culturais de um dado local.

Em ano de eleição, tão definitivo para os rumos nacionais, quem sabe possamos repensar as forças que movem a economia e elevar o turismo ao patamar em que ele deve estar: entre as principais geradoras de emprego do Brasil.
*Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, acumula 25 anos de experiência em diferentes empresas do turismo brasileiro, é professora e pesquisadora e integra o corpo docente da Universidade de São Paulo (USP) desde 2006. Participa ativamente de grupos internacionais que se dedicam ao debate sobre turismo e seus papéis econômico e social. Desenvolve análises sobre o turismo em São Paulo e no Brasil, com destacado interesse na área de políticas públicas, educação e desenvolvimento do turismo.

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