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Política

Trade comenta impacto de protestos na imagem turística do país

Manifestações durante o jogo Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, no Estádio do Maracanã [Tânia Rêgo/ABr]

Manifestações durante o jogo Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, no Estádio do Maracanã [Tânia Rêgo/ABr]


A onda de protestos que ocupou as ruas das principais cidades brasileiras, com o comportamento violento de uma minoria e as consequências da forte ação policial, ganhou a atenção da mídia internacional. Governos no exterior alertam seus cidadãos para que tenham cautela em viagens ao Brasil. Os protestos, os maiores já vistos no Brasil em mais de 20 anos, foram convocados principalmente para lutar contra o aumento do custo dos transportes públicos e os gastos de sediar Copa e Olimpíadas. A Copa no Brasil já custa R$ 28 bilhões em financiamentos e investimentos públicos, quase três vezes o aplicado na Alemanha, em 2006. A questão agora é com o reflexo dos atos violentos na imagem turística do país. A ONU já alertou para que o Brasil investigue o uso excessivo de força policial.

O secretário-executivo do Ministério do Turismo, Valdir Simão, em coletiva de imprensa, ressaltou, no entanto, que os episódios fazem parte do processo democrático e que não afetarão a imagem do país. “A Copa é um evento muito bem planejado, inclusive na questão da segurança pública”. Antonio Pedro Figueira de Mello, secretário de Turismo do Rio de Janeiro, também se mostrou tranquilo com a repercussão das manifestações no exterior. “Chegaram os grandes eventos, chegaram as grandes manifestações. Enquanto forem pacíficas, está tudo certo. Estivemos na Espanha durante a última Jornada Mundial da Juventude e presenciamos diversas manifestações contra o evento. Nenhuma delas vai atrapalhar os nossos, enquanto forem pacíficas”.

Uma rápida pesquisa da ABIH-RJ indica um impacto na ocupação dos hotéis do Rio de Janeiro. Das reservas para a semana de 17 a 24 de junho, 27,57% foram canceladas no Centro da cidade. Já no Flamengo/Botafogo, o índice de cancelamentos foi de 12%, enquanto em Copacabana/Leme registrou 7,14% e Ipanema/Leblon, 4,96%. Na Barra da Tijuca, os índices não chegaram a 1%. “Os números confirmaram as estimativas da ABIH-RJ de que acontecessem pontualmente cancelamentos nos locais onde as maiores manifestações se concentraram, em função da preocupação do visitante com deslocamento e segurança. Nos demais locais, o índice de cancelamento foi pequeno”, comentou o presidente da ABIH-RJ, Alfredo Lopes.

Para George Irmes, presidente da Abav-RJ, dizer que as manifestações não afetam a imagem turísticas do país é uma besteira. “Turismo é paz, precisa de absoluta segurança. Nenhum turista quer ir para um lugar onde há bombas e policiais perseguindo as pessoas”, acredita, apesar de não concordar com a legitimidade da continuação dos protestos, para ele, as reivindicações já foram atendidas. “As empresas têm que funcionar, as pessoas têm que trabalhar, estudar. Parar o país só prejudica ainda mais a situação. Abre brecha, por exemplo, para atuação de bandidos. Já estão misturando Carnaval com passeata. Temos um país maravilhoso, de belezas naturais e diversidade cultural. Mas, dessa forma, fica muito complicado. Se os protestos continuarem, prejudicarão o setor. Não vamos conseguir atender os grandes eventos”.

Bayard Boiteux, coordenador do curso de Turismo da UniverCidade, concorda com a legitimidade dos protestos e o perigo da infiltração de grupos extremistas e do abuso na força policial. “Esse clamor popular tem um aspecto positivo. O ‘quebra-quebra’ no final das manifestações, no entanto, passa uma imagem negativa do destino para o mercado turístico. Países emissores como Alemanha já pedem para que os cidadãos tomem cuidado. O problema não é a manifestação em si, que é bonita. Mas a atuação de vândalos pode afugentar os turistas. Estou preocupado com o reflexo disso na Jornada Mundial da Juventude. Quando os policiais assumem uma postura um pouco mais ‘contundente’ também, é preocupante”.

A ONU, em meados de junho, pediu ao Brasil um diálogo aberto com os manifestantes e a investigação do uso excessivo de força policial. Registro de prisões arbitrárias, ataques a pessoas aleatórias, inclusive dentro de estabelecimentos, foram denunciados pela população durante as manifestações. A polícia do Rio de Janeiro, em meados de junho, recebeu dois mil artefatos produzidos em Angola, onde a concentração de lacrimogêneo é de 20% – no Brasil, o máximo permitido é de 10%.

Ralf Aasmann, diretor geral da Emirates para o Brasil, ressalta que já se nota uma redução no comércio de passagens aéreas para o Brasil – situação que se soma ao mau momento do Turismo em geral, com a alta do dólar. “Essa turbulência está assustando as pessoas. Os Estados Unidos e a Inglaterra, por exemplo, colocaram um aviso no site alertando sobre viagens ao Brasil. Quem perde é o receptivo brasileiro e as aéreas. As pessoas estão mudando seu planos de viagem”.

Paulo Senise, superintendente do Rio CVB, alerta para o perigo da infiltração de pessoas nas manifestações, não comprometidas com os objetivos delas. “Essa situação cria um estado de alerta com desdobramentos futuros. Essas manifestações estão muito em linha com as que acontecem em outros países da Europa e da Ásia, por exemplo. O impacto vai depender da extensão do lado negativo, da infiltração de marginais”. De acordo com ele, o setor carioca não observou impacto negativo na atração de eventos com os protestos.

As reivindicações chegaram ao corpo policial, pelo menos no Nordeste do país. No final do mês passado, a Associação dos Cabos e Soldados Militares do Estado do Ceará (ACSMEC) anunciaram que entrariam nos protestos, antes da partida entre Espanha e Itália, para lutar contra a imagem de truculência, a sombra do militarismo e incluir a segurança pública na pauta do governo. De acordo com o presidente da ACSMCE, Flávio Sabino, 98% dos soldados eram a favor das manifestações. “Qual é a polícia que está sendo vista pela sociedade? A polícia truculenta, que bate e traz a repressão. Mas nós sabemos que ali a grande maioria dos policiais não faz isso de coração, são imposto diante do militarismo. Recebem ordem arbitrárias de seus comandantes”, disse Sabino. “A sociedade só enxerga a polícia que solta bomba, gás e que corre atrás de manifestantes que estão lutando por direito de todos os cidadãos. Está na hora de a gente se engajar e virar o jogo. Quem não participa da luta, não participa das conquistas”, completou.

Recentemente, o deputado Romário, presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, mobilizou a sociedade ao levantar os números dos gastos para os grandes eventos, e alertar para o esquecimento de projetos importantes para a mobilidade urbana, que seriam um dos grandes legados da Copa. De acordo com ele, a Copa no Brasil já custa R$ 28 bilhões de financiamentos e investimentos públicos, quase três vezes o aplicado na Alemanha, em 2006, e no Japão, em 2002. A África do Sul, por exemplo, gastou apenas R$ 7,1 bilhões, quase três vezes menos.

Michel Tuma Ness, presidente da Fenactur, reforça a questão dos altos investimentos nos estádios de futebol brasileiros. “Acho que a manifestação é justa e correta. O investimento que foi feito nos estádios de futebol para a Copa foi muito grande. O de Brasília, por exemplo, recebeu um investimento de R$ 1,2 bilhão e nem tem um time de futebol na cidade. É um lugar que vai ficar às moscas. Porque não se constroi um estádio para receber shows, mas
para partidas de futebol. Não adianta falar que ele vai servir para outra coisa depois”.

Pamela Mascarenhas

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