
Com dívida e pressões da cadeia global de aviação, a Azul decidiu dar um passo que vinha resistindo há anos: entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. A notícia, confirmada oficialmente nesta quarta-feira (28), muda o rumo de negociações com a Gol e deixa em segundo plano a ideia de uma fusão entre as duas empresas — pelo menos por enquanto.
Até então, a Azul era a única entre as grandes companhias aéreas brasileiras que não havia buscado a proteção da Justiça americana para reestruturar suas finanças após a pandemia. A virada de chave veio com um plano arrojado: levantar US$ 1,6 bilhão em financiamento DIP e limpar cerca de US$ 2 bilhões da sua dívida, especialmente com arrendadoras de aeronaves.
“O objetivo é concluir o processo ainda neste ano”, disseram fontes próximas à companhia. Mas há um reconhecimento de que o caminho é imprevisível. “O Chapter 11 é cheio de surpresas e reviravoltas”, afirmou uma das pessoas envolvidas.
A estratégia mira também uma redução de 35% na frota, permitindo a devolução de aviões hoje difíceis de operar por falta de peças — especialmente os modelos maiores, como os Airbus. Enquanto isso, a empresa aposta no modelo de operação ACMI (aluguel de avião com tripulação, manutenção e seguro), recém-liberado pela Anac.
A Azul já firmou acordo com a EuroAtlantic e, segundo fontes, está em vias de trazer a portuguesa Hi Fly para reforçar as operações. A medida tenta contornar o rombo causado pela escassez global de componentes, que chegou a cortar até 3% da oferta de assentos da empresa em apenas um mês.
Mas o movimento mais surpreendente veio dos Estados Unidos. Azul conseguiu atrair aportes de até US$ 300 milhões de duas gigantes norte-americanas: American Airlines e United. O detalhe que chamou atenção do mercado? A American é justamente uma das principais parceiras da Gol — e sua investida na rival Azul pegou o setor de surpresa.
Os recursos estão condicionados a critérios ainda não divulgados, mas sinalizam uma aposta de peso na reestruturação da empresa brasileira. A United, que já era acionista da Azul, reforça sua posição, enquanto a American dá sinais de reconfiguração estratégica.
A possível união entre Azul e Gol, anunciada em janeiro em um memorando de entendimento, vinha sendo tratada com mais empenho pela Azul. A Gol, por sua vez, estava concentrada em finalizar sua própria reestruturação — processo que deve ser oficialmente encerrado em 6 de junho.
Nos bastidores, a avaliação é que a Azul resolveu correr por fora. O Chapter 11 da Gol, iniciado em janeiro de 2024, teve que lidar com embates com credores internacionais e foi impactado por variações cambiais e altas de juros nos EUA, o que empurrou a conclusão do processo para além do prazo inicial.
*Com informações do Valor