
O mercado imobiliário espanhol vive um novo boom, impulsionado por investidores internacionais e pela alta demanda gerada pelo turismo. Em cidades como Madri, Barcelona e nas Ilhas Canárias, moradores têm enfrentado dificuldade crescente para acessar moradias a preços viáveis, enquanto cresce a oferta de imóveis voltados exclusivamente para locação temporária.
Apartamentos pequenos, sem ventilação adequada ou licença de habitação, têm sido alugados por até 1.300 euros ao mês, especialmente para estudantes e estrangeiros. Em muitos casos, antigos estabelecimentos comerciais estão sendo adaptados para uso residencial, mesmo sem regularização.
De acordo com o banco espanhol BBVA, a demanda por imóveis supera amplamente a oferta em destinos turísticos, o que tem pressionado os preços. Cidades como Bilbao, Alicante e Barcelona registraram aumento expressivo na oferta de locações temporárias – com alta de até 36%, segundo levantamento da plataforma Idealista.
Pressão sobre o setor público e protestos locais
A escassez de moradia acessível tem motivado protestos frequentes da população local, que atribui o problema à “invasão turística” e à especulação imobiliária por parte de estrangeiros e fundos de investimento. Estima-se que mais de 4 milhões de imóveis estejam vagos na Espanha, e outros 2,5 milhões sejam usados apenas de forma esporádica.
Como resposta, o governo espanhol determinou a retirada de quase 66 mil anúncios irregulares da Airbnb e discute medidas como a aplicação de um IVA de 21% sobre o aluguel de curta duração — o dobro do imposto cobrado para quartos de hotel. Apesar disso, entidades como o Sindicato de Inquilinos consideram as ações insuficientes.
Impactos sobre a indústria do turismo
A discussão traz efeitos diretos para o setor de turismo e hospitalidade. A popularização dos contratos temporários, muitas vezes com pouca ou nenhuma regulamentação, tem redesenhado a forma como se consome hospedagem na Espanha. Ao mesmo tempo, a escassez de moradias para residentes gera tensões sociais que podem afetar a percepção dos destinos por parte de viajantes e operadores.
Somado a isso, o país conta com baixa cobertura de habitação social e não oferece suporte público estruturado para estudantes, o que pressiona ainda mais o mercado. O aluguel médio em cidades como Madri e Barcelona já ultrapassa 1.400 euros por mês, valor incompatível com a média salarial nacional, de pouco mais de 2.600 euros brutos mensais.
Desafio para manter equilíbrio entre turismo e qualidade de vida
Com mais de 90 milhões de visitantes internacionais por ano e crescente presença de nômades digitais e estudantes estrangeiros, a Espanha se vê diante do desafio de manter o turismo como motor econômico sem comprometer a qualidade de vida da população local.
Especialistas apontam a necessidade de políticas públicas mais robustas para equilibrar o uso dos imóveis entre moradores, turistas e investidores — e garantir que o crescimento do turismo continue sendo sustentável no longo prazo.