
A crise de hospedagem em Belém, cidade-sede da COP30 marcada para novembro de 2025, levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a recomendar oficialmente que suas agências e organismos parceiros reduzam o tamanho das delegações para o evento. A orientação consta em uma carta enviada no último dia 9 de setembro pelo secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), Simon Stiell, aos chefes do sistema ONU.
No documento, Stiell afirma que, “tendo em vista as limitações de capacidade em Belém”, as equipes devem ser revistas e diminuídas “sempre que possível”. O alvo principal são os chamados overflow badges, credenciais extras usadas para incluir assessores, consultores, técnicos e convidados que não fazem parte do quadro oficial de funcionários da ONU.
Esse grupo cresceu de forma expressiva em conferências anteriores. Só na COP29, realizada em Baku, mais de 14 mil pessoas entraram com esse tipo de crachá. Para tentar minimizar o problema em Belém, a ONU anunciou que ampliará a participação virtual, permitindo que parte das equipes acompanhe as negociações a distância.
“Atualmente, as organizações da ONU não têm limitações no registro do número de participantes para a COP, mas serão orientadas a reduzir esse número, sobretudo no caso dos overflow badges. A participação virtual estará disponível para todas as organizações da ONU e mais informações serão divulgadas oportunamente”, diz um trecho da notificação.
Hospedagem em foco
A recomendação da ONU ocorre em meio a crescentes dificuldades logísticas para a conferência. Nesta semana, o governo federal informou que 71 países já confirmaram presença em Belém, entre eles Japão, Espanha, Noruega, Portugal, Arábia Saudita, Egito, República Democrática do Congo e Singapura.
Apesar da adesão, a preparação do evento segue marcada por incertezas. Delegações estrangeiras pressionam para que sejam subsidiadas as diárias de hospedagem, já que o valor atual pago pela ONU — US$ 140 (cerca de R$ 756) — não cobre os custos na capital paraense. Na plataforma oficial da COP30, as opções mais baratas giram em torno de US$ 350 (quase R$ 2 mil).
Segundo a Casa Civil e a Secretaria Extraordinária para a COP30 (Secop), uma das principais demandas de países em desenvolvimento é que a ONU aumente o valor do subsídio. Ao mesmo tempo, a ONU pediu que o governo brasileiro ajudasse a custear hospedagens para delegações mais pobres, proposta que foi recusada pelo Brasil.
Tentativa de solução
Para tentar acelerar o processo de confirmações, o governo federal anunciou a criação de uma força-tarefa. A ideia é que um grupo técnico entre em contato diretamente com as delegações estrangeiras para identificar obstáculos e buscar alternativas.
“A gente acredita que muitos países estavam esperando a reunião do bureau para ver o que traríamos como respostas. A ideia é termos um grupo de pessoas para ligar para os pontos focais dessas delegações para saber o que está acontecendo e como podemos ajudar”, explicou o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia da Silva.
Com pouco mais de um ano para o início da conferência, as pressões crescem tanto sobre a ONU quanto sobre o governo brasileiro para que as soluções logísticas sejam encontradas a tempo de garantir a participação plena dos países membros.