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Points de Vue

A retomada, num mundo do turismo mais caro e mais exclusivo

Característica importante da retomada no Brasil, a explosão dos preços das viagens, tanto nacionais que internacionais, parece mesmo ser uma tendência global. Na Europa, nos Estados Unidos e até na Nova Zelândia, autoridades e profissionais estão anunciando que os custos que dispararam com a pandemia e a guerra vão inviabilizar muitas práticas de turismo “low cost”. Foi assim por exemplo que o presidente da Ryan Air, Michael O’Leary anunciou essa semana que os tempos de vendas de passagens promocionais a 10 euros ou menos, outrora bandeira-mor da empresa e da sua rival Easy Jet, já tinham acabado.

Numa entrevista na BBC, O’Leary deixou claro que esses aumentos podem multiplicar por até 5 vezes as tarifas atuais das companhias low cost, especialmente nas viagens rápidas, pacotes de finais de semana nas grandes capitais européias. A tendência seria irreversível, pelo menos pelos próximos cinco anos, porque vários custos vão continuar a aumentar ou pelo menos não baixar. É não somente o caso do combustível, mas também das taxas cobradas pelos aeroportos, dos salários que disparam frente as dificuldades para reencontrar mão de obra qualificada no setor, bem como da volta de uma inflação beirando os dois dígitos.

A nova atitude dos destinos em relação ao turismo vai também contribuir ao aumento dos preços. Se lugares amaçados como Machu Pichu ou as Ilhas Galapagos já adotaram há muito tempo politicas de quotas, a ideia está caminhando no mundo inteiro. Amsterdã já anunciou querendo reduzir o numero de visitantes de 20%, Veneza quer cobrar uma entrada a todos os visitantes, Marselha obriga a ter uma reserva para visitar suas “calanques”. Taxas turísticas (as vezes chamadas de ecológicas) devem ser instauradas ou reforçadas no Butã, na Tailândia, e na Nova Zelândia, vários países da Europa já pensando fazer o mesmo.

Reabrindo seu pais depois de dois anos de isolamento sanitário, o ministro neo-zelandês do turismo foi ainda mais longe (ou pelo menos mais claro). Numa entrevista com o The Guardian , Stuart Nash declarou ter “nojo de viajantes sem dinheiro” e que não queria mais “atrair turistas que gastam USD 10 por dia, comendo macarrão pré-cozido”. Afirmou que não devia ter vergonha de uma nova estratégia de marketing, focada em atrair turistas “de alta qualidade”, seja gastando muito dinheiro e contribuindo assim a melhorar a economia do pais.

As declarações do ministro já abriram uma polémica. Profissionais do setores já lembraram que os turistas mais humildes têm um papel importante. Seus gastos globais podem ser mais importantes porque as estadias muito mais longas compensam o baixo nível de gasto diário. Alem disso muitas atividades tem preços fixos e não dependem do poder aquisitivo de cada um. É o caso dos museus, dos parques, dos transportes públicos ou dos teleféricos. Com menos recursos, os viajantes de classe media têm em geral um impacto menor sobre o meio ambiente, especialmente nas pegadas de carbone.

Mesmo se o debate vai sem dúvidas se acirrar, a tendencia parece hoje irreversível. Profissionais e políticos deverão encontrar soluções para que as conquistas democráticas do turismo sejam preservadas para os viajantes e os moradores. Mas o novo mundo das viagens vai ser cada vez mais caro e mais exclusivo.

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