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Points de Vue

Barcelona está cansada do turismo?

A nova prefeita de Barcelona, Ada Colau, deve apresentar nas próximas semanas um projeto de “des-crescimento turístico”, parte do programa que a ajudou a ser eleita nas eleições de 2015. Pode parecer estranho numa cidade que é considerado um exemplo-mor do turismo internacional, um modelo de estratégia de desenvolvimento que começou com os Jogos Olímpicos de 1992, atraindo hoje 29 milhões de turistas e sustentando 160 mil empregos, 14% do seu PIB. Mas a capital catalã parece hoje vítima do seu sucesso. E um sucesso que deve ainda se ampliar com novas oportunidades trazidas pelas companhias low cost, e pelos cruzeiros atraídos pelo terminal marítimo onde quase 3 milhões de passageiros devem chegar esse ano.

Mas, desde 2014, os moradores, os comerciantes e as associações de bairros (El Raval, Barceloneta ou Barri Gotic) se queixam do disparo dos aluguéis, da transformação de mais de 30 mil apartamentos em residência de turismo, da inflação do preço dos alimentos, da saturação dos transportes coletivos, das brigas noturnas, e do congestionamento dos lugares turísticos nos arredores da Rambla, da Sagrada Família ou do Parque Guell. Nas ruas do centro, e até no famoso mercado La Boqueria, os comércios tradicionais – a vida e a alma da cidade – estariam se transformando em lojas de souvenirs, em fast-food, em locadoras de bicicletas ou em discotecas para « turismo de borrachera ».

Querendo preservar a identidade de Barcelona, capital do Mediterrâneo da festa, do sol, da praia e da vida cultural, a prefeita já suspendeu 38 projetos hoteleiros – inclusive um Four Season -, mandou controlar a legalidade dos aluguéis de apartamentos e multou a Airbnb. No seu projeto final, a cidade terá o zoneamento em três áreas, reduzindo a oferta de apartamentos na cidade velha, bloqueando o crescimento nos bairros da Sagrada Família e da Vila Olímpia, e autorizando de forma controlada o desenvolvimento na periferia. Está sendo também estudada uma taxa especial para os cruzeiristas, cujas receitas, juntas com as outras taxas turísticas, seriam agora utilizadas não mais para promoção mas exclusivamente para melhorias das infraestruturas.

Barcelona vai, sem dúvidas, dar uma importante virada em direção a um turismo sustentável, mais em linha com os seus moradores. Mas as decisões que serão tomadas pela prefeita, os vereadores, o Consórcio Turismo Barcelona e o recém-criado Conselho municipal do turismo (onde encontram-se moradores, ecologistas, hoteleiros e comerciantes) deverão respeitar duas considerações. A primeira é a importância do turismo como primeira atividade econômica da cidade, tanto nos hotéis que conseguem agora manter uma taxa anual de ocupação de 85%, no porto que recebe 750 escalas de 40 navios, gerando 400 milhões de euros de receitas, quanto nos milhares de restaurantes ou de comércios. Mas esse sucesso só poderá perdurar se a cidade guardar as suas características, preservar o seu patrimônio e seu modo de viver, respeitar a diversidade dos seus bairros, aproveitar os seus comércios e suas animações genuínas, e acima de tudo, continuar com a participação e o carinho dos seus moradores.

Barcelona vai, sem dúvidas, contribuir para invenção de um novo turismo urbano mais sustentável e mais respeitoso com o jeito de viver dos seus habitantes. A capital catalã é seguida com muita atenção por muitas cidades como Amsterdã, Bruges, Berlim, Roma, Lisboa e até Veneza. Todas elas querem também seguir um caminho que combine, de um lado, o sucesso econômico e, do outro, o bem estar dos moradores cuja felicidade é cada vez mais um componente chave de um destino turístico bem sucedido.

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