CAMPO GRANDE – Criatividade, pertencimento e senso comunitário. Estes pilares foram capazes de transformar uma comunidade carente no interior da Paraíba. Por meio do Turismo Criativo, a comunidade de Chã de Jardim, localizada no município de Areia, a 118 km de João Pessoa, criou um ecossistema econômico que beneficiou pequenos agricultores, artesãs e jovens, que ao invés de deixar a comunidade, concluíram curso superior e passaram a contribuir em sua evolução.
Quem contou esta história foi Luciana Balbino, consultora de turismo de base comunitária, e coordenadora do projeto turístico de Chã do Jardim. O projeto da comunidade, que iniciou com uma associação, união dos jovens locais e ideias criativas, foi apresentado no encerramento do seminário “Isto é Mato Grosso do Sul”, na tarde desta quarta-feira (20), em Campo Grande.
“Esses jovens estavam na hora de decidir se ficavam ou iam para São Paulo o Rio de Janeiro. A gente decidiu ficar lá, mas para viver com dignidade, não para passar a necessidade que as pessoas passavam. Então decidimos usar o turismo como ferramenta. Depois que a gente montou a associação aproveitamos as portas abertas e fizemos cursos. Descobrimos como usar o que tinha de único na nossa região”, destaca Luciana Balbino.
O primeiro passo foi a criação de um roteiro de caminhadas e trilhas nos cenários de Mata Atlântica e o brejo de altitude do povoado. A atração se desdobrou em outras, como piqueniques na mata, sessões de relaxamentos, plantação e piqueniques ao céu aberto, com alimentos produzidos pela própria comunidade.
“O que a comunidade almeja é que o turista fique no lugar e gaste dinheiro. A gente que trabalha com dinheiro tem que aproveitar o momento em que o turista mergulha na comunidade local. É quando ele deixa de ser expectador e passa a ser protagonista. Nada mais é que escutar as necessidades do turista e a comunidade produzir”, ressaltou.
O passo seguinte foi incentivar o artesanato para que produtos locais pudessem ser consumidos pelo turista. O resultado foi o ganho de poder econômico das artesãs.“Queríamos ajudar aquelas mulheres a comprar o pão. Mas além do pão elas conseguiram comprar mortadela, o café e alimentar suas famílias”, conta.
“Elas entenderam que podiam vender o artesanato, mas elas entenderam que o turista não queria o produto, ele queria a história. Queria o saber e hoje essas mulheres fazem oficinas. O turista leva hoje a peça que ele fez, a peça das artesãs e vive a experiência que o turismo criativo nos proporciona, para o turista que está cansado de tirar foto e fazer compra, mas que busca essa experiência”, completa.
O que fazer e o que comprar estava resolvido. Os próximos passos seriam ‘onde comer’ e ‘onde dormir’. E estas etapas foram concluídas de maneira única. Dificuldades na construção fizeram a comunidade adotar alternativas criativas para a construção do restaurante da comunidade, o Restaurante Rural Vó Maria, com elementos da cultura local, que virou um sucesso da região e logo ampliado para abrigar 200 pessoas.
A criatividade também esteve na solução do problema de estadia. Com um terreno disponível, mas sem autorização para construir no local, foi desenvolvido o Camping e Hotel de Barracas, um acampamento com barracas já montadas com leitos, roupas de cama, de banho e kit de higiene, além de atrações no local.
Hoje o Chã de Jardim impacta 52 famílias diretamente e 200 de maneira indireta e virou um case de sucesso nacional e internacional pelos atrativos, pelo empreendedorismo e principalmente pela transformação da comunidade, que continua desenvolvendo novos projetos empreendedores, democratizando ainda mais os recursos e dando possibilidades antes nunca pensadas aos moradores
“O turismo consegue chegar a muita gente, mas temos que ter a sensibilidade de olhar. O mais bonito é saber que a comunidade de Chão de Jardim, que não tinha nada, hoje é conhecida no Brasil e no mundo”, finaliza Luciana.