CAMPO GRANDE – Com uma grande extensão territorial e um grande volume de recursos naturais, o Brasil apresenta um grande potencial para o crescimento do nicho de trilhas de longo curso. Este potencial, no entanto, ainda é pouco explorado na comparação com demais países que já apostam neste nicho. Para mudar este cenário, surgiu em 2018 a Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade, Rede Trilhas, criada por meio de uma portaria Interministerial.
O objetivo da Rede Trilhas é interligar unidades de conservação, paisagens e ecossistemas naturais, criando grandes rotas regionais e até nacionais. Outra meta é estabelecer uma sinalização que identifique a respectiva trilha e o caminho a ser seguido. Em pouco mais de um ano desde a sua implementação, o Brasil já passou de 300 para 2 mil quilômetros de trilhas sinalizadas. A meta é estruturar 18 mil quilômetros em 20 anos, com estimativa de movimentar 2 milhões de pessoas por ano.
Este avanço foi apresentado durante o seminário “Isto é Mato Grosso do Sul”. Luiz Aragão, da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, da Associação Trilha Transmantiqueira (ATT) e do Conselho Consultivo da Trilha Transespinhaço (MG), apresentou os modelos seguidos no Brasil para desenvolver o segmento e também o cenário do setor ao redor do mundo.
No Brasil, um dos destaques foi a criação de pegadas estilizadas para diferenciar as diferentes trilhas e adoção das cores preta e amarela, como no modelo internacional. “Nossa ideia é criar um regionalismo através de uma pegada estilizada e depois uma seta para apontar a direção da trilha nas cores preta e amarela. A ideia da pegada é gerar pertencimento e afinidade com a respectiva trilha, gerando engajamento para os roteiros”, explicou Luiz Aragão.
TRILHAS
Aragão falou sobre os circuitos já existentes, como o Litorâneo, do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS); o Caminhos Coloniais, do Rio de Janeiro até Goiás Velho (GO); o Caminhos dos Goyases, entre Goiás Velho e a Chapada dos Veadeiros (GO); e o Caminhos do Peabiru, ligando o Parque Nacional do Iguaçu (PR) ao litoral paranaense, e a Trilha Velho Chico, da nascente à foz do Rio São Francisco, da Serra da Canastra à Piçabaçu, em Alagoas..
Entre as trilhas já sinalizadas, estão o Caminho da Serra do Mar (RJ), a Transcarioca (RJ), a Transespinhaço (MG), a Rota Darwin (RJ-PE) e o Caminho das Araucárias (RS/SC), que integram o corredor Litorâneo; o Caminho de Cora Coralina (GO), Caminho dos Veadeiros e o Caminho da Floresta Nacional de Brasília, que fazem parte do Caminhos dos Goyases; a Trilha Chico Mendes (AC); e a Transmantiqueira (RJ, MG e SP), que estão sendo percorridas pelos primeiros grupos.
Ele destacou ainda a importância da participação do setor público e dos voluntários para a consolidação das trilhas no Brasil. “A gente acredita que o envolvimento dos municípios e dos voluntários é importante. Na Serra da Mantiqueira os trechos que deram mais certo foram os que as secretarias acreditaram nas trilhas como fator gerador de emprego e renda”, conta.
NO MUNDO
Se no Brasil a política pública para o setor surgiu só em 2018, no EUA o Sistema Nacional de Trilhas já existe desde 1968. O país também foi o pioneiro na criação de trilhas, com a Trilha dos Apalaches (Appalachian Trail), em 1921. O resultado disso é um total de 225 mil quilômetros de trilhas, sendo 95 mil quilômetros sinalizados.
O mercado de trilha nos EUA movimentou US$ 427 bilhões de dólares em 2017, superando setores de mineração e indústria química. Somente na Trilha dos Apalaches os caminhantes gastam em média US$ 10 mil dólares por temporada.
Na Europa há 70 mil quilômetros, distribuídos por 12 trilhas de longo curso. A associação do setor reúne cerca de 3 milhões de pessoas. Na Espanha, a caminhada foi o terceiro esporte mais popular do país em 2017, com 4 milhões de praticantes. No Reino Unido as trilhas movimentaram 6,14 bilhões de libras