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Azul adota estratégia rara e avançada no Chapter 11: quais outras aéreas já seguiram esse modelo?

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Janaina Brito

Publicado - 28/05/2025 - 13:06

Número de assentos, entre fevereiro e junho, comparado com o mesmo período em 2024, também terá crescimento de 34% (Divulgação/Azul)
Azul adota estratégia rara e avançada no Chapter 11: confira quais aéreas já seguiram esse modelo (Divulgação/Azul)

A entrada da Azul no processo de reestruturação judicial sob o Chapter 11 dos Estados Unidos já chama atenção por um detalhe crucial: não se trata de um pedido emergencial motivado por colapso de caixa, mas de um plano pré-negociado, com acordos firmados com credores, arrendadores e parceiros estratégicos antes mesmo de recorrer ao tribunal. Esse tipo de operação, conhecida como pre-packaged Chapter 11, é sofisticado, relativamente raro na aviação, e praticamente inédito na América Latina.

Mas, afinal, quem mais no setor aéreo mundial já seguiu um roteiro parecido?

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Casos globais com estrutura semelhante

Embora muitos processos de Chapter 11 tenham sido reativos ou caóticos, algumas companhias aéreas globais já entraram com planos articulados, apoio de stakeholders e financiamento DIP previamente garantido, tal como a Azul:

Delta Air Lines (2005)

A Delta se preparou cuidadosamente antes de entrar no Chapter 11. Negociou com fornecedores, sindicatos e arrendadores e já tinha apoio de partes-chave. Obteve financiamento DIP robusto, usou o processo para renegociar contratos e modernizar sua frota. Entrou em 2005 e saiu em 2007, mais enxuta e competitiva.

Semelhança com a Azul: Entrada planejada, financiamento DIP garantido, suporte de stakeholders e continuidade das operações.

American Airlines (2011)

A American seguiu um plano bem articulado de reestruturação com foco claro: viabilizar uma fusão. Entrou com suporte relevante de credores e DIP em andamento. A operação incluiu acordos prévios com sindicatos e fornecedores. Ao sair do processo, fundiu-se com a US Airways, criando a maior aérea do mundo.

Semelhança com a Azul: Estruturação prévia, operação normal mantida, foco em transformação estratégica além da dívida.

Latam Airlines (2020)

Apesar de motivada por um choque externo (pandemia), a Latam surpreendeu ao apresentar logo no início do Chapter 11 um financiamento DIP de US$ 2,45 bilhões, viabilizado por acionistas relevantes como Delta Air Lines, Qatar Airways e o grupo Cueto. Ainda assim, não foi “pre-packaged” no sentido técnico, faltaram acordos amplos com bondholders e arrendadores no início.

Comparação com Azul: Latam teve DIP assegurado e suporte de investidores, mas não entrou com tudo já amarrado, como a Azul.

Avianca Holdings (2020, Colômbia)

A Avianca também usou o Chapter 11 com algum nível de suporte inicial, mas entrou pressionada por liquidez e sem acordos amplamente costurados com credores e lessors. Conseguiu DIP dentro do processo, mas não com antecedência.

Comparação com Azul: Caso mais tradicional e emergencial, sem o nível de planejamento e garantias iniciais da Azul.

O que torna o caso da Azul singular?

O que diferencia a Azul é o conjunto simultâneo de fatores:

  • Acordos firmados com os principais bondholders, arrendadores e parceiros estratégicos antes da entrada no tribunal

  • Financiamento DIP de US$ 1,6 bilhão já fechado

  • Financiamento de saída de até US$ 950 milhões já delineado, incluindo conversão em equity

  • Apoio explícito de duas grandes aéreas americanas (United e American)

  • Processo proativo, sem quebra operacional ou colapso de caixa imediato

O resultado é que a Azul entra no Chapter 11 com rota e combustível já definidos, o que tende a tornar o processo mais rápido, previsível e eficaz, segundo especialistas.

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Enquanto outras aéreas já usaram o Chapter 11 para se recuperar, aparentemente poucas entraram com um plano tão bem estruturado quanto o da Azul. A operação, apesar de inspirada em práticas internacionais, é pioneira na aviação brasileira e pode redefinir os parâmetros de reestruturação no setor na América Latina.