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Agências e Operadoras

Magda Nassar: “É aqui mesmo que eu tinha que estar”

Magda Nassar, presidente da Abav Nacional

Articulações por medidas pra o setor, gestão de uma entidade, organização de um novo modelo de feira e ainda administração da própria empresa. Esse acúmulo de tarefas talvez faça Magda Nassar ser categórica ao responder sobre chances de reeleição: “Não quero”.

No último dia 14 de setembro, Magda Nassar completou 15 meses como presidente da Associação Brasileira das Agências Viagens (Abav Nacional). Além do desafio de ser a primeira mulher à frente da entidade, ela também se deparou com aquela que talvez seja a gestão mais desafiadora destes quase 67 anos de história da associação. Em 2019, com grandes dificuldades e apenas três meses, Magda e sua equipe conseguiram colocar de pé uma Abav Expo, que acabou se mostrando uma das edições mais interessantes dos últimos anos. Esse feito, somado a um perfil de liderança participativa e representativa, a reconduziram por aclamação à presidência, em eleição realizada em dezembro do ano passado.

Mas se a feira foi um desafio, os meses seguintes seriam outro ainda maior. A pandemia de Covid-19 paralisou o setor e afetou severamente o segmento de agências de viagens, composto em sua maioria por micro e pequenas empresas, que se viram praticamente sem faturamento durante alguns meses. O momento exigia medidas emergenciais por parte do setor público, e certamente, ter uma das principais lideranças do Turismo no comando da associação que representa as agências contribuiu para que essas medidas fossem formatadas para atender às demandas emergenciais da categoria.

Paralelamente a tudo que acontecia, Magda Nassar também teve que encontrar uma solução para a não realização da Abav Expo em 2020, principal feira do setor de Turismo no Brasil. Esta solução veio por meio da Abav Collab, que mais do que uma alternativa acabou se mostrando uma iniciativa inovadora e com diversas possibilidades, reunidas em um evento híbrido, que contará com uma grande estrutura virtual e uma presencial, em menor escala, em Salvador.

"Tem uns que vão da feira ao baile. Eu fui da feira à pandemia", diz Magda Nassar

“Tem uns que vão da feira ao baile. Eu fui da feira à pandemia”, diz Magda Nassar

Gerir uma entidade, ouvir agências, lutar pela sobrevivência do setor, buscar apoio de autoridades, realizar uma feira e ainda gerir a própria empresa, isso tudo ainda encontrando tempo para desempenhar o seu papel de mãe. Este leque de atividades talvez explique o semblante muitas vezes exausto de Magda nas dezenas de lives e eventos online em que sua participação é requisitada. Esse também é o motivo de ela rechaçar uma possível reeleição. Mas Magda não encara este cenário como algo ruim, e sun como uma tarefa que está disposta a cumprir. Em sua visão, ela está exatamente onde deveria estar neste momento.

MERCADO & EVENTOS: Em junho você completou um ano na presidência da Abav, como está sendo a experiência? Quais foram as vitórias neste período?

Magda Nassar –  Eu só peguei bucha. Esta é a definição. Tem uns que vão da feira ao baile, eu fui da feira à pandemia. Quando eu assumi foi totalmente inesperado. Não foi um cargo que eu tinha me programado pra ter, mas acabou acontecendo e eu não sou uma pessoa de dar as costas para problemas. Acabou que fizemos um trabalho bem-sucedido. Conseguimos dar uma reorganizada na Abav.

Hoje eu consigo olhar para trás, após seis meses de pandemia, e ver que era aqui mesmo que eu tinha que estar

Aí chegou a pandemia e isso foi um desafio muito maior do que qualquer coisa que eu já passei na vida. Foi um desafio em etapas regulamentar o setor, encontrar saídas e se posicionar como parceiro dos empresários e funcionários do turismo. Agora estou vivendo um momento de ansiedade em ver a Collab desabrochar paralelamente a todos estes problemas e vamos nos virando. Cada vitória é uma vitória de muita gente e saber que é um trabalho que eu coloquei a mão para mim é muito importante, pois o turismo é minha vida profissional inteira.

M&E – E quanto a uma possível reeleição?

Magda Nassar – Não quero. Primeiro que meu mandato só termina em dezembro do ano que vem e eu ainda penso em entregar antes. Houve uma pressão para que eu ficasse e as coisas acabaram acontecendo. Não vou dizer que tudo que passamos foi a coisa mais legal da minha vida, mas não foi a pior. Sou uma pessoa de resultado e não só de discursos. Hoje eu consigo olhar para trás, após seis meses de pandemia, e ver que era aqui mesmo que eu tinha que estar, pois estaria agoniada em estar na minha empresa vendo tudo isso acontecer sem poder resolver estes problemas do setor.

M&E – Como estão os preparativos para a Abav Collab?

Magda Nassar – Estamos esperando mais de que os 32 mil inscritos da feira no ano passado. É um evento longo. Vamos ter abertura dia 27 de setembro e no dia 28 teremos um dia inteiro de navegação, para as pessoas se habituarem, então muita gente vai acabar se escrevendo no dia. Mas é interessante se inscrever antes, até porque teremos diversas ativações. Quem se inscrever antes pode receber uma surpresa em casa e participar de algumas destas ativações.

Prévia de como funcionará a Abav Collab

Prévia de como funcionará a Abav Collab

No Brasil tem mais de 70 mil CNPJs de agências de viagens abertos. Este evento não é só para agentes de viagens. Ele foi feito pelos agentes de viagens e é para o trade inteiro. Todo mundo pode estar no evento em sua totalidade. Uma agência pode inscrever todos os funcionários que podem entrar e sair do evento. Eu acho que vamos bater muitas metas, pois as pessoas têm nos procurado e falado muito do evento. Será um conteúdo sensacional, com grandes apresentações e ativações muito legais. Também temos o Black Friday.

M&E – Como foi a escolha de Salvador para receber a abertura oficial e a parte física do evento?

Magda Nassar: Quando a gente decidiu fazer a abertura oficial, queríamos comemorar isso de alguma forma, até porque é o dia mundial do Turismo. Resolvemos conversas com todos os presidentes das Abavs estaduais e pensamos em destinos como Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro e acabamos em Salvador. O prefeito ACM Neto foi um grande parceiro, assim como Secretário de Cultura e Turismo, o Pablo Barrozo. Eles foram sensacionais e abraçar a ideia na hora.

Para nós o evento não é só uma questão comercial, mas é algo que tem a obrigação de movimentar o setor.

É uma honra para gente, pois vamos praticamente inaugurar o novo centro de convenções, obviamente em um evento muito restrito e exclusivo por conta da Covid-19. Vamos ter um show do Olodum, que vamos transmitir em uma live para o país inteiro. Teremos muitos players do mercado e muita gente falando sobre o dia mundial do Turismo, inclusive com o envolvimento da Organização Mundial do Turismo. É uma coisa para a gente celebrar a nossa resiliência.

M&E – Em que a experiência da Abav Collab pode agregar para as futuras edições da Abav Expo? Este ambiente digital deve estar presente também na próxima edição da feira?

Magda Nassar – É a primeira vez que qualquer um nesse país faz um evento virtual deste porte, com tantos parceiros importantes, com esse olhar tão amplo. Mas vamos analisar isso depois. Acho que os encontros presenciais têm sua força, mas nesse novo olhar de ampliar os horizontes, o Collab é um caminho, tanto para um evento híbrido, quando para uma Abav Expo transmitida ao vivo. A Abav tem um compromisso com o agente de viagens, ela existe por causa dele.

Acho que o setor não teria sobrevivido minimamente sem esta ajuda

Para nós o evento não é só uma questão comercial, mas é algo que tem a obrigação de movimentar o setor. Este evento já é híbrido, pois tem pontos físicos, mas este híbrido pode aumentar e o virtual acompanhar. Não é tão fácil fazer um evento como a Collab. Estamos com um time inteiro trabalhando, então fazer isso e mais um presencial do tamanho que é a Abav Expo simultaneamente eu não sei se é possível. Não são apenas salas de Zoom com palestras, é importante que se ressalte isso. É um grande evento comercial.

M&E – Algumas ações, como as MPs 936, 948 e 963 foram fundamentais para garantir um respiro ao setor. Qual o balanço é possível fazer sobre a importância destas medidas para as agências de viagens e da atuação do governo parta o setor de turismo?

Magda Nassar – Foram fundamentais. Junto com outra MP, a 944, essas MPs foram se complementando. A Abav trabalhou muito em todas elas, seja na aprovação, no texto, ou no texto e aprovação e nas bases das medidas. A gente se envolveu bastante em todas, sempre levando contribuições importantes, indo atrás dos líderes e fazendo reuniões. Isso resultou na criação do G20, esse grupo de associações que trabalharam juntas.

Magda Nassar, presidente da Abav, com Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo

Magda com Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo. Articulações foram vitais para garantir medidas emergências para o setor.

Acho que o setor não teria sobrevivido minimamente sem esta ajuda. Agora, com a MP 963, a gente chega nos finalmentes do escoamento destes recursos do Fungetur, que para nós é fundamental. Trabalhamos muito para que esse crédito chegasse nas agências. É um recurso exclusivo para o turismo e tem funcionado. Fizemos um acordo com a Caixa Econômica Federal, para facilitar o acesso dos associados a esse crédito. Já a 948 fui fundamental para estabelecer este acordo entre clientes e agentes de viagens e também fornecedores. Foi uma vitória para esmagadora, pois a gente conseguiu a retenção da comissão para os agentes, pois o entendimento é de que ele prestou o serviço, diferentemente de outros elos da cadeia. A Abav teve uma atuação exemplar e conseguiu amenizar as dores do setor. A nossa grande luta agora é para conseguir uma lei sobre a responsabilidade solidária para que ela seja menos canibal.

 

M&E – A nota técnica divulgada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) isenta as agências desta responsabilidade solidária. Ela não é suficiente para resolver esta questão?

Magda Nassar – Ela encaminha, mas não é uma lei. Queremos uma lei e estamos brigando por isso. Acho que tem que ser tudo muito claro, e por isso eu gosto de leis. Tentamos emplacar isso na Lei Geral do Turismo, o que não foi possível, mas em tempos de pandemia conseguimos que muita gente nos ouvisse. As coisas estão acontecendo porque estamos brigando muito.

M&E – Após estas ações, que vieram para “estancar a sangria”, quais as demandas são prioridades para o setor?

Magda Nassar – Acho que essa medida da responsabilidade solidária é fundamental. Precisamos também nos organizar para criar seguros aplicáveis ao mercado, incluindo seguro para passageiros, seguro contra quebra para empresas e também para a responsabilidade civil. Temos que trabalhar para ter viajantes e empresários cobertos de eventuais problemas. Outro ponto é a regulação dos transportes terrestres, que a Abav tem trabalhado. Temos também a compra de passagens pelo governo, que é uma causa de que somos simpatizantes, pois queriam comprar diretamente com as companhias aéreas e pular as agências, o que é inadmissível.

Para mim o IRRF é um tema absurdo, pois ele penaliza o setor

M&E – As mudanças em relação a alíquotas de IRRF para remessas ao exterior acabaram sendo excluídas na votação da MP 907 (MP da Embratur), o que levou ao veto presidencial, por questões de responsabilidade fiscal. Como o setor está lidando com esta questão? Já existe uma movimentação para uma nova MP ou projeto de lei que aborde a questão?

Magda Nassar – O IRRF estava na 907 e acabou sendo vetada na presidência, porque houve um entendimento errado na hora do voto. O imposto voltou para 6% e isso não era permitido pela LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). O Congresso entendeu que o texto com estava seria um aumento de imposto. A gente já preparou outra MP junto com o Ministério do Turismo, mas esta MP infelizmente está empacada na Receita Federal, pois estão analisando uma compensação (para a redução do imposto). Não sei por que a compensação, pois obviamente o movimento deste ano não será igual ao do ano passado. Estamos brigando, mas essa é uma MP já pacificada. Tenho certeza que quando a Receita liberar essa MP ela vai para a presidência e será assinada. Essa nova MP estabelece 6% de alíquota.  Para mim o IRRF é um tema absurdo, pois ele penaliza o setor. O que nos consola, é que nos países em que o Brasil tem acordo o dinheiro pode ser enviado sem tributação. Mas a MP está pronta e a gente espera esse olhar mais efetivo para o setor.

M&E – O que a pandemia já modificou no segmento de agenciamento de viagens. E qual é sua visão sobre o futuro do setor após esta crise?

Magda Nassar – Eu acho que se os agentes continuarem nessa linha, vamos ter grandes consultores de viagens provando seu valor. Vamos ter uma nova percepção desse ofício. Em algum momento a percepção errada de que é mais caro comprar com o agente, ou que não é necessário ou até que o consumidor pode saber mais que o agente. Essa percepção errada foi colocada à prova durante a pandemia, pois vimos pessoas totalmente perdidas. Os agentes fizeram repatriação reembolsos, restituições, remarcações. Foi um setor que exigiu muito dos profissionais, pois eles tiveram que lidar com imprevistos muito difíceis. Os consumidores que não tinham estes profissionais enfrentaram muito mais dificuldades. Essa mudança de percepção vai ser fundamental nessa caminhada dos agentes de viagens, mostrando que as técnicas profissionais são insubstituíveis.

Esta e outras entrevistas com lideranças do turismo você confere na edição especial do Mercado & Eventos para a Abav Collab.

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