
A fusão entre Azul e Gol, anunciada em janeiro, pode mudar o jogo no setor aéreo brasileiro. Segundo o CEO da Azul, John Rodgerson, a ideia de que a união seja uma medida desesperada para salvar as companhias endividadas não existe. Para ele, o movimento é estratégico para fortalecer o setor e aumentar a competitividade do Brasil no mercado global.
“Vamos criar uma empresa aérea brasileira que pode concorrer com qualquer um”, afirmou Rodgerson em entrevista exclusiva ao E-Investidor. “A Azul pode andar sozinha, a Gol pode andar sozinha, mas desde 2014 o mercado não cresceu. Acreditamos que juntos teremos habilidade para brigar mundialmente”, completou.
A fusão acontece em um momento de pressão financeira. A Azul acumula prejuízos desde 2019, com perdas de R$ 700 milhões em 2023 e R$ 4,6 bilhões até o terceiro trimestre de 2024. A Gol, por sua vez, teve um déficit de R$ 951 milhões no mesmo período. Ambas renegociam dívidas, e a Gol passa por um processo de recuperação judicial.
Rodgerson defende que a fusão trará eficiência e novas oportunidades. “Não estamos juntando a Gol de hoje com a Azul de ontem. Estamos criando uma nova Azul com uma nova Gol”, argumentou.
Sinergia e impacto no preço das passagens
A fusão deve gerar sinergias de até US$ 500 milhões, segundo estimativas do BTG Pactual. O CEO da Azul concorda: “O número é bem factível. A Gol opera nas grandes cidades, e a Azul tem mais conexão com o interior. Isso vai facilitar as viagens e aumentar a oferta”.
Sobre o impacto no preço das passagens, Rodgerson acredita que a tendência é de queda. “Se colocarmos mais oferta no mercado, o que acontece? O preço cai”, explicou.
Com a nova companhia dominando mais de 60% do mercado doméstico, a fusão precisa do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Rodgerson argumenta que o setor aéreo no Brasil enfrenta desafios específicos, como combustível caro e dificuldade de acesso ao crédito. “O governo quer a mesma coisa que nós: um Brasil que cresce e que tem mais empregos”, concluiu o CEO.