A indústria aeronáutica tem sido afetada pela falta de aviões e de abastecimento de peças, fazendo com que as companhias aéreas sejam forçadas a cancelarem suas rotas. A ausência de suprimentos essenciais, além de obrigar as empresas a desmontarem aeronaves para suprir a demanda de outras, deve fazer o preço das passagens subir. E mesmo diante deste cenário nada favorável, a previsão é que o setor encerre 2025 com um lucro recorde de mais de R$ 6 trilhões (US$ 1 trilhão).
Companhias aéreas
Diversas companhias aéreas estão readequando suas malhas e cancelando rotas devido à falta de suprimentos, justificados, principalmente, pelos seguintes fatores:
- redução ou interrupção da produção e perda de mão de obra qualificada durante a pandemia em todo o mundo;
- aumento rápido da demanda causado, principalmente, pela retomada do transporte aéreo no pós-pandemia e pela modernização das frotas;
- dificuldades em obter alumínio, titânio e outros compostos essenciais;
- conflitos geopolíticos como a guerra na Ucrânia, além de sanções comerciais dificultando o acesso a materiais;
- limitação de opções de fornecedores no setor.
Muitas aéreas tomaram a decisão de desmontar suas aeronaves, em condições de voo ou não, para manter as demais operando. Se há menos frequência de voos, há a consequência do encarecimento do valor das passagens. Outra consequência é a necessidade de readequar o cronograma de voos e até mesmo cancelar os planejados. Como é o caso da:
- Virgin Atlantic, que cancelou rotas que seriam inauguradas com destino a Acra (Gana) e postergou o retorno dos voos a Tel Aviv (Israel).
- British Airways reduziu a frequência de voos entre Londres (Inglaterra) e Nova York (EUA) e entre Londres e Doha (Qatar), além de postergar a rota entre Londres e Kuala Lumpur (Malásia).
- Air India cancelou 60 voos entre o país asiático e os EUA devido à falta de aviões de fuselagem larga, tipicamente usados em viagens de longa distância.
- Copa Airlines irá suspender, temporariamente, voos do Panamá com destino a Santiago de los Caballeros (República Dominicana), Tulum (México), Aeroporto Internacional Felipe Ángeles (próximo à Cidade do México) e Armênia (Colômbia), devido ao atraso na entrega de novos aviões.
- Lufthansa deve reduzir a frequência de voos da rota entre o Rio de Janeiro e Frankfurt.
John Rodgerson, presidente-executivo da Azul Linhas Aéreas, relatou à Flap TV a dificuldade e citou a necessidade da empresa em passar a voar com um avião usado de outra empresa: “Pegamos uma aeronave da Air Asia [um A330]. Não era algo preto ou branco, era cinza. Não era o padrão da Azul, mas vai me levar para Orlando (EUA). Então, é voar ou não voar”. “Hoje, eu estou usando aqueles dois motores [como peças de reposição] para voar porque há uma crise mundial [da cadeia de abastecimento]. Às vezes, a gente toma decisões que, para pessoas de fora não fazem sentido, mas são para proteger uma coisa maior. Nós estávamos olhando pra frente, sabendo que ia faltar aeronave e motor no mundo, [então, pensamos] ‘temos uma oportunidade. Esta aeronave é uma merda, mas tem um motor bom, então, vamos incorporá-la em nossa frota'”, disse Rodgerson.
Entregas reduzidas
Os principais fornecedores de aeronaves do mundo também reduziram o ritmo de entregas durante 2024. A Boeing, desde as quedas do Boeing 737 Max, ainda não mantém o ritmo de entregas desejado.
A Airbus começou o ano de 2024 com mais entregas no primeiro trimestre do que o mesmo período de 2023, mas nos períodos seguintes, teve uma leve queda.
Receita
A Iata (International Air Transport Association, ou, Associação do Transporte Aéreo Internacional) acredita que os problemas na cadeia de suprimentos da aviação continuarão a gerar problemas para o setor em 2025. Isso eleva a idade média da frota em uso, passando da média de 13,6 anos entre 1990 e 2024 para 14,8 anos.
Ao mesmo tempo, a quantidade de aeronaves entregues ano a ano ainda não se recuperou, estando longe do recorde de 2018, quando 1.813 aeronaves foram entregues aos seus donos. Em 2024, a estimativa é de que esse número não tenha passado de 1.254 aviões, mas 2025 pode chegar a um total de 1.802 novas unidades, valor ainda abaixo da previsão anterior, de o ano contaria com 2.293 novos aviões entregues.