
A notícia do pedido de recuperação judicial da Azul nos Estados Unidos pegou muita gente de surpresa — especialmente quem já tem passagem comprada com a companhia aérea. No pré-mercado da Bolsa de Nova York, as ADRs da empresa chegaram a desabar mais de 40%, mas para o consumidor, o impacto imediato é bem diferente do que parece à primeira vista.
De acordo com Fernando Canutto, especialista em Direito Empresarial e sócio do Godke Advogados, a chance de um passageiro ficar sem embarcar é muito pequena. “Quanto a um cancelamento de voo, não posso dizer que é impossível, mas é altamente improvável que haja impacto imediato. A maioria das companhias aéreas continua a honrar as reservas durante o processo de reestruturação”, afirmou.
O pedido feito pela Azul foi protocolado nos EUA com base no Chapter 11, um mecanismo que permite que a empresa siga operando normalmente enquanto negocia suas dívidas com credores. Segundo a companhia, o plano já conta com apoio de parceiros estratégicos — como a AerCap (sua maior arrendadora), além das norte-americanas United Airlines e American Airlines.
A ideia é reduzir mais de US$ 2 bilhões em dívidas e levantar até US$ 950 milhões em novos aportes de capital, sendo US$ 650 milhões por meio de uma oferta de ações e até US$ 300 milhões adicionais, condicionados a metas específicas.
O processo de reestruturação também inclui um financiamento DIP (debtor-in-possession) de US$ 1,6 bilhão, destinado a manter as operações da companhia durante o processo. Tudo isso foi articulado após a dívida da Azul atingir R$ 31 bilhões no primeiro trimestre de 2025 — uma alta de mais de 50% em um ano.
Canutto destaca ainda um ponto importante: “Ao contrário da falência, que geralmente implica na liquidação da empresa, o Chapter 11 permite que a empresa continue operando enquanto reestrutura suas dívidas. É uma tentativa de salvar a empresa e evitar a falência”.
Ou seja, apesar do baque no mercado financeiro, a rotina de quem está com passagem marcada tende a seguir normalmente — com possíveis ajustes de horários ou rotas, mas não com cancelamentos em massa.