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Belém sob risco: países pedem nova sede para COP30 após diárias 15 vezes mais caras

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Brasil corre para salvar COP30 após escândalo internacional com hotéis de Belém (Bruna Brandão/MTur)

Belém, palco da primeira COP da ONU na Amazônia, está no centro de uma crise que ameaça o próprio futuro da conferência no Brasil. O alto custo da hospedagem na capital paraense durante o evento, previsto para novembro de 2025, gerou revolta entre países participantes, principalmente nações em desenvolvimento, e já provocou pedidos formais para que a COP30 seja realocada para outra cidade.

A denúncia partiu do próprio presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, que revelou durante encontro com a Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE), em parceria com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), que a situação é considerada grave e tem gerado mal-estar diplomático.

“Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou.

De acordo com Corrêa do Lago, enquanto em outras edições da conferência as tarifas hoteleiras duplicaram ou triplicaram, em Belém alguns valores foram multiplicados por 10 ou até 15 vezes. A prática, vista como abusiva por diplomatas internacionais, já motivou declarações públicas e pedidos de transferência da conferência para outras cidades brasileiras.

O cenário ficou ainda mais tenso após uma entrevista do negociador africano Richard Muyungi à agência Reuters, revelando que países africanos solicitaram oficialmente a mudança do local. “Ficou público que países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém”, disse Corrêa do Lago.

Pressão internacional

Em reunião de emergência do “COP Bureau” da ONU realizada nesta semana, a delegação brasileira foi cobrada a dar uma resposta concreta sobre a questão da hospedagem. O governo se comprometeu a apresentar um relatório até 11 de agosto com soluções para garantir a participação inclusiva dos países.

“Recebemos a garantia de que revisitaremos isso no dia 11 para ter certeza se a acomodação será adequada para todos os delegados”, afirmou Muyungi. “Não estamos prontos para reduzir os números. Queremos que o Brasil dê respostas melhores, em vez de nos pedir para limitar nossa delegação.”

A insatisfação não vem só de nações em desenvolvimento. Países como Holanda e Polônia também relataram dificuldades para garantir hospedagem. “Não temos acomodações. Provavelmente teremos que reduzir a delegação ao mínimo”, declarou o vice-ministro do Clima da Polônia, Krzysztof Bolesta.

Governo corre contra o tempo

Para tentar amenizar o impacto, o governo brasileiro anunciou a chegada de dois navios de cruzeiro, que somarão 6 mil leitos aos cerca de 18 mil já disponíveis em Belém. Além disso, foram reservadas acomodações com diárias de até US$ 220 para países em desenvolvimento, valor ainda acima do auxílio-moradia oferecido pela ONU, de US$ 149.

Dois diplomatas consultados pela Reuters revelaram que receberam cotações de até US$ 700 por noite, o que, segundo eles, compromete completamente a viabilidade da participação de diversas delegações.

A Casa Civil coordena um grupo de trabalho para tentar conter os preços. No entanto, o embaixador Corrêa do Lago alerta que o Brasil não pode impor limites às tarifas cobradas. “O que nos resta é o diálogo”, resumiu.

Com previsão de reunir cerca de 45 mil pessoas de 190 países, a COP30 é considerada um evento histórico para o Brasil e um marco para a Amazônia. Mas, com menos de 15 meses para o encontro, Belém ainda precisa convencer o mundo de que está pronta, e acessível.

*Com informações do G1

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