
A rodada era decisiva, mas a aposta ficou para depois. O Senado decidiu adiar a votação do projeto que legaliza cassinos, bingos, jogo do bicho e outras modalidades de jogos de azar no Brasil. O motivo? Um placar desfavorável e um racha que expôs o quanto o tema ainda divide a política brasileira.
O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), anunciou a retirada do texto de ofício, alegando baixa presença no plenário — apenas 56 senadores — e uma forte divergência interna. Nos bastidores, a conta era clara: 36 votos contra e apenas 31 a favor.
A proposta, que revoga uma lei de 1946 e cria regras para legalizar apostas no país, já havia passado na Câmara em 2022 e na Comissão de Constituição e Justiça do Senado em 2024. Mas a resistência ganhou força entre senadores conservadores, que apontam riscos sociais, como vício, aumento da criminalidade e impacto nas periferias.
“A arrecadação não compensa os custos sociais. Vai aumentar a violência, a ludopatia e sobrecarregar o sistema de saúde”, alertou o senador Eduardo Girão (Novo-CE).
Mesmo nomes da base do governo, como Humberto Costa (PT-PE), engrossaram o coro contrário. “Esse projeto tem alvo social: os mais pobres. É nos bairros vulneráveis que essas casas de jogo vão se espalhar como erva daninha”, disparou.
Do outro lado, o relator da proposta, senador Irajá (PSD-TO), defende que os jogos já existe, só que de forma ilegal. Para ele, legalizar é tirar do crime e colocar sob controle do Estado. “É uma atividade econômica relevante que merece ser regulamentada”, argumenta.
O projeto cria um sistema de concessões e fiscalização, com regras específicas para cada tipo de jogo. Cassinos seriam permitidos apenas em resorts ou embarcações, bingos em casas fixas com licenças de 25 anos, e o jogo do bicho operado digitalmente, com registro das apostas, mas sem necessidade de identificação de quem ganha prêmios isentos de IR.
Mas a batalha está longe de acabar. Sem data para nova votação, o projeto agora entra num limbo político.
*Com informações do G1