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Tarifaço de Trump e resposta do Brasil: o que isso significa para o turismo

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Janaina Brito

Publicado - 15/07/2025 - 08:30

BRASIL EUA Tarifaço de Trump e resposta do Brasil: o que isso significa para o turismo
Medida dos EUA provoca reação do Brasil e traz incertezas para o setor de turismo

Nesta terça-feira, 15 de julho de 2025, começa a valer a regulamentação da Lei da Reciprocidade, que autoriza o Brasil a retaliar comercialmente os Estados Unidos após a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras ao país. A medida, publicada hoje no Diário Oficial da União, abre caminho para restrições a concessões comerciais, investimentos e direitos de propriedade intelectual. A decisão marca um novo capítulo nas tensões entre Brasília e Washington, e seus efeitos já começam a se espalhar, inclusive no setor de turismo.

Mais do que um embate comercial, o tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump representa uma pressão adicional sobre cadeias logísticas, eleva custos na aviação, desestimula compras no exterior e pode alterar o comportamento dos turistas brasileiros.

Aviação comercial sob impacto direto

Um dos setores mais atingidos é a aviação. A Embraer, que registrou um salto de 27% nas exportações de aeronaves para os EUA entre janeiro e maio deste ano, pode ver uma desaceleração nas encomendas. A sobretaxa compromete a competitividade dos modelos brasileiros no mercado americano. Companhias aéreas regionais dos EUA, grandes compradoras da fabricante nacional, já avaliam adiar planos de renovação de frota.

No Brasil, o impacto também é sentido. Companhias que operam com aviões da Embraer enfrentam aumento nos custos de manutenção, peças e serviços, muitos dos quais são importados dos EUA. Isso pode encarecer rotas nacionais e internacionais, afetar contratos de leasing e elevar o custo do seguro aeronáutico. O resultado? Passagens mais caras e possíveis cortes na frequência de voos, especialmente para destinos nos Estados Unidos.

Turismo de compras perde atratividade

Os viajantes brasileiros que tradicionalmente visitam os EUA com foco em compras podem repensar seus planos. O aumento no custo de insumos tende a se refletir no preço final de produtos como eletrônicos, roupas, cosméticos e acessórios. Cidades como Miami e Orlando, que historicamente atraem consumidores do Brasil, podem perder parte desse fluxo. Vale lembrar que o turista brasileiro está entre os que mais gastam em solo americano.

Apesar das projeções otimistas do Escritório Nacional de Viagens e Turismo dos EUA para 2025, os dados recentes mostram queda: em março, o número de visitantes internacionais caiu 11,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Especialistas atribuem esse recuo não só às tarifas comerciais, mas também ao endurecimento das políticas migratórias no segundo mandato de Trump.

Viagens de negócios e intercâmbios também sentem o peso

A imagem de hostilidade e imprevisibilidade do atual governo americano pode afastar executivos, estudantes e profissionais. Viagens de negócios, essenciais para parcerias, feiras e eventos, enfrentam uma nova realidade de custos elevados e barreiras regulatórias. Ainda assim, o câmbio se mantém relativamente estável, com o dólar abaixo dos R$ 6, o que, por ora, evita um recuo mais forte do turismo para os EUA.

E os efeitos no Brasil?

A aplicação da Lei da Reciprocidade pode impactar diretamente o turismo nacional. Equipamentos e tecnologias usados em resorts, parques temáticos, centros de convenções e cruzeiros, muitos importados dos EUA, devem ficar mais caros, encarecendo novos projetos e dificultando investimentos em infraestrutura turística.

Por outro lado, o cenário de tensões comerciais pode acelerar a busca por novos parceiros. Acordos com a União Europeia e países asiáticos ganham força, e destinos como a China surgem como alternativas promissoras para o turismo e os negócios brasileiros.

Turismo interno: alternativa com ressalvas

As incertezas externas favorecem o turismo doméstico, que segue como principal motor do setor. Com mais brasileiros priorizando destinos locais, operadoras e destinos nacionais continuam atraindo visitantes. Porém, o movimento pode ser limitado por uma inflação interna persistente.

O Brasil optando por tarifas recíprocas sobre produtos americanos faz com que setores que dependem dessas importações como alimentos industrializados, máquinas e insumos agrícolas repassem os aumentos ao consumidor. Isso pressiona o orçamento das famílias, reduzindo a margem para gastos com lazer e viagens. Além disso, o encarecimento de combustíveis e peças também pode influenciar nos preços do transporte terrestre e pacotes turísticos.

Esses são apenas alguns dos impactos visíveis no curto prazo, o turismo, setor sensível a variações econômicas e políticas, pode sofrer ainda mais com decisões unilaterais e com o aprofundamento das tensões comerciais. A instabilidade no ambiente global exige cautela, planejamento e flexibilidade por parte de empresas, governos e viajantes.