
Governo precisa mostrar compromisso fiscal para mudar a visão do mercado atual para valor do dólar cair, afirma economista (Arte/Patrick Peixoto/M&E)
No mercado financeiro da última quarta-feira (8), o dólar comercial fechou em leve alta de 0,08%, cotado a R$ 6,11 e o dólar turismo a R$ 6,18 para compra e R$ 6,36 para venda. A moeda norte-americana avançou à medida que os investidores reagiam a novas notícias sobre os planos tarifários do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e a dados sólidos da maior economia do mundo. Segundo a CNN, Trump está considerando declarar emergência econômica nacional no país como uma forma de fornecer justificativa legal para a imposição de uma grande quantidade de tarifas de importação sobre aliados e adversários.
Aproveitando o assunto, também nesta quarta, a corretora XP Investimentos revisou suas projeções econômicas de 2025 no Brasil, com aumento da:
- taxa Selic de 15 para 15,5%, com um possível corte nos juros apenas para o ano que vem;
- taxa de câmbio de R$ 5,85 para R$ 6,20 este ano, e de R$ 6 para R$ 6,40 em 2026;
- inflação a 6,1% devido à demanda interna aquecida e à desvalorização cambial
No cenário internacional, acredita-se que as primeiras medidas do presidente Donald Trump terão impacto nos mercados emergentes, onde o Federal Reserve (banco central dos EUA) deve realizar dois cortes de 0,25 pontos percentuais na taxa de juros no primeiro semestre de 2025, alcançando uma taxa terminal de 4%. A XP alerta para riscos crescentes de instabilidade ou até mesmo uma elevação dos juros, que pode acontecer caso a atividade econômica no país continue alta e a inflação permaneça acima da meta de 2%.
PROJEÇÕES ECONÔMICAS E O TURISMO
Para entender como essas informações impactam nossas viagens, o M&E conversou com um especialista no assunto: o economista Alex André. De forma mais simplificada, a inflação significa o aumento de preços dos bens e serviços de um país, influenciado pelo valor de determinado produto que, na maioria das vezes, é cotado em dólar.
Alex dá como exemplo as passagens aéreas: “O preço do querosene de aviação, que é o combustível que é utilizado pela companhia aérea nos seus aviões, subiu. Por quê? O preço do querosene é cotado em dólar no mercado internacional. Sem contar que o querosene é feito de petróleo, que é um produto dolarizado. Isso também acaba afetando a grande parte dos custos das companhias aéreas, que repassam em reais para seus consumidores.”
O fato de estarmos em alta temporada também é citado: “Esta época tem baixa disponibilidade de aeronaves no mercado, e aí o preço dessas aeronaves fica mais alto. O leasing é também um componente principal das companhias aéreas, e esse aluguel é cotado em dólar. Então basicamente, sendo bem simplista, a grande parte do custo de uma companhia aérea é dolarizado, que vai ser repassado em sua totalidade ou em grande parte.”
Vale ressaltar que o Brasil é conhecido como exportador de matérias-primas, que são cotadas em dólares. Ou seja, grande parte dos nossos produtos também são relacionados à indexação da moeda norte-americana e todo valor desse processo será repassado ao consumidor. “Por isso que, com o câmbio mais alto, ele se torna muito mais maléfico para a inflação”, pontuou.
COMO CONTER A INFLAÇÃO?
“Para conter o aumento de preços, o Banco Central precisa elevar os juros. E cada vez que isso acontece, todos os títulos [como a taxa Selic] que o governo precisa pagar para os seus investidores, acabam ficando mais caros, ou seja, ele acaba gastando mais dinheiro e os juros acabam penalizando até o próprio governo nesse sentido, como detentor de títulos.”
A tentativa de conter o aumento da inflação pelo Banco Central, elevando os juros, prejudica as contas públicas. E para equalizar precisam ser feitos pacotes de gastos, que inclusive foram apresentados pelo governo no final do ano passado, mas que o mercado entendeu como insuficiente. Sendo assim, já nestes primeiros dias de janeiro, foi noticiado que o governo pode trazer novas vertentes para diminuir a percepção de risco tanto por parte dos juros e também da moeda norte-americana. “Essa medida pode fazer o dólar baixar, já que ele significa um termômetro para os investidores”, complementou.
INVESTIDORES NO BRASIL
Tudo o que envolve a segurança econômica de um país, como taxa de juros e endividamento, por exemplo, determina o interesse de investimento. Atualmente, o cenário do Brasil está desfavorável e enfraquece o real, tendo como consequência o fortalecimento do dólar. “Hoje a XP Investimentos anunciou sua perspectiva para um câmbio de R$6,20. E grande parte das instituições também vão para esse caminho. Ou seja, um câmbio acima de R$6 para esse ano. Se o governo mostrar um compromisso fiscal para mudar a visão do mercado atual, isso pode tirar um pouco de risco, fazer o dólar cair e fortalecer o real ao longo do período.”
DICA DE ESPECIALISTA
Para minimizar danos ao bolso do consumidor que pretende viajar para fora do país, Alex indica:
- levar dólar, seja físico, ou em uma carteira digital;
- escolha uma carteira digital que não utilize o câmbio turismo, mas o comercial para conversão da moeda (em casas de câmbio o spread é mais caro)
- se escolher comprar produtos com cartão de crédito, conheça o valor que o banco cobra de taxa, pois varia de um para outro;
- caso vá viajar mais para o fim do ano, comece desde agora a comprar dólar periodicamente, pois como o mercado é volátil, a média de gasto será muito menor do que um viajante que decide comprar a moeda na hora de viajar.