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Opinião

OPINIÃO – O meio ambiente e a fome: um paradoxo mundial

Por Oreni Braga*

Oreni Braga

Oreni Braga

Há quase 50 anos, a Organização das Nações Unidas instituiu o dia 05 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data é alusiva ao dia em que foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada na cidade de Estocolmo na Suécia.

Pois bem, desde lá o mundo acompanha as discussões a respeito da Sustentabilidade que está pautada no Ecologicamente Correto, no Socialmente Justo e no Economicamente Viável.

Como ambientalista que sou, defendo as políticas de preservação e de conservação dos recursos naturais, pois sem esse pacto entre os países, a terra poderá vir a ser um grande deserto ou quem sabe, ser inundada pelas águas oceânicas, embora Deus tenha nos prometido de que não mais destruiria a humanidade com dilúvio.

No entanto, a desobediência do homem e a ganância pela riqueza desenfreada, podem fazer o Criador mudar de plano, ou permanecer com a promessa, e deixar que a criatura siga seu próprio arbítrio e continue fomentando as mudanças climáticas que, a cada ano, mandam recado com o desgelo das calotas polares que estão 6 vezes mais aceleradas do que nos anos 90.

Quanto ao planeta se tornar em deserto? Isso não está longe de acontecer. Quem diria que o inóspito, quente e deserto Saara, no norte da África, um dia foi uma região com savanas, bosques e lar de caçadores que coletavam animais e plantas, sustentados por lagos permanentes e chuvas intensas. Pois é! Era assim há 5 mil anos. Foi conhecido como o Saara Verde.

E ainda tem gente que não acredita que a Amazônia poderá se transformar em uma grande savana se continuar sendo desmatada. Eu não apostaria nisso diante dos ligeiros atos de ocupação e desflorestamento desenfreados. Derrubando a floresta é menos vento, menos chuva, menos animais e, basta mais um passo para o deserto. Outras regiões mundiais vivem o mesmo drama.

Ainda nessa esteira, é mister não fazer juízo de valor a respeito do uso dos recursos naturais como uma política única para o desenvolvimento sustentável. Se analisarmos a Política de Desenvolvimento da Alemanha, aquele país criou a estratégia da Paz Global, da redução da pobreza e da fome, junto aos países parceiros da Ásia, África e América Latina. Existe um comprometimento governamental para o bem-estar mundial. Os alemães agradecem. O índice de desemprego naquele país é de 3,7%, enquanto que no Brasil é de 11,6%.

A Agenda da Organização das Nações Unidas (ONU), para 2030, pauta o Desenvolvimento Sustentável Global em busca do progresso econômico do mundo, em harmonia com a justiça social e no âmbito dos limites ecológicos da Terra. O esforço da ONU tem sido visível quando se trata dos resultados alcançados no tocante a redução da pobreza no planeta. De 2012 para 2016 caiu o número dos mais pobres no mundo de 12,8% para 9,6%. Todavia, o consumo desenfreado dos recursos naturais, a destruição ambiental e as desigualdades sociais, atrelados ao elevado índice de desemprego, ainda é muito preocupante. O mais agravante disso é que existe uma expectativa de que a população mundial chegará ao montante de 9,7 bilhões, em 2050.

E aqui no Brasil o que está sendo realizado para que haja a redução da pobreza e da fome?

O Brasil é conhecido como o país que tem a maior desigualdade de renda no mundo. A pobreza no país é um fenômeno muito complexo que envolve salário insuficiente para o consumo das necessidades básicas, para o acesso a educação e saúde, além de não ter poder de voz. Isso reflete no elevado índice de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, ou seja, 23,8% da população nacional passam fome (aproximadamente 49 milhões de pessoas).

Neste contexto, perguntamos onde estão as riquezas naturais do país que não são disponibilizadas para que as populações miseráveis possam ter acesso ao bem-estar? A maioria dessa pobreza encontra-se no Nordeste. Ah, mas no Nordeste é difícil água para plantar. Então porque não adotar políticas públicas mitigadoras da miséria e oferecer qualidade de vida para esse povo, adotando tecnologia que transformou o deserto de Israel em pólo produtivo de cultivo? 50% da produção agrícola são abastecidos com água de reuso. Enquanto o Brasil é o país com a maior disponibilidade de água por habitante no planeta, Israel tem clima desértico. Como entender isso?

E no Amazonas, não se assuste!

Mesmo vivendo no planeta água, com a maior diversidade de ictiofauna (peixes) da terra, com a maior floresta tropical do mundo, etc., etc., quase metade da população do Estado vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, aproximadamente 1 milhão e 200 mil amazonenses. É isso mesmo. E não sou eu que inventei esse número não. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirma isso em recente pesquisa realizada no mês de novembro de 2019.

São décadas que o nosso povo vem ouvindo a palavra mágica Desenvolvimento Sustentável na Amazônia, mas onde estão os resultados disso? Quem tem ganhado dinheiro na região? Por certo, os aproveitadores que vem lá do inferno da pedra, sob o manto de entidade sócio-ambiental, ganham fortunas usando os nossos caboclos como moeda de troca, junto aos fundos mundiais de ajuda humanitária ou de investimentos que destinam recursos sem contrapartida. O que sobre para nossa gente é migalha!

Sustentabilidade é oferecer alternativa econômica para o caboclo viver bem. É dar o caniço para ele pescar, no lugar de dar o peixe. Nenhum pai de família sem assistência social e econômica advindos do poder público vai deixar um filho morrer de fome para preservar qualquer recurso natural que seja. Involuntariamente, ele passar a ser um predador potencial diante da ameaça da vida humana e da oferta vantajosa, advinda do criminoso ambiental.

Mas é difícil chegar com projetos comunitários nas regiões da Amazônia. Já ouvi isso. Difícil é, mas não é impossível. Muitas comunidades já desenvolvem atividades econômicas de maneira empírica, basta que os governos cheguem junto e fomentem com recursos, infraestrutura de acesso, assistência técnica e serviços constitucionais (saúde e educação).

Atrelado a isso, o Estado tem um Modelo de Desenvolvimento que hoje sangra (a Zona Franca de Manaus), mas que antes disponibilizava milhões para o Fundo de Fomento, Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento (FTI), porém esses recursos nunca chegaram às comunidades para fomentar o artesanato, a piscicultura, o turismo de base comunitária, a agricultura de base familiar, enfim, nunca desenvolveu nada no interior e nem nas periferias de Manaus. Uma utopia!

Está na hora de criar a Matriz Econômica Sustentável do Amazonas tendo o Turismo e a Piscicultura como molas propulsoras da economia, uma vez que para o turismo não precisa importar insumos, tudo está aqui. Para a piscicultura é só adotar tecnologia e verticalizar com a industrialização dos peixes menos nobres, exportando proteínas para os países miseráveis e assim, o Amazonas além de reduzir o índice de pobreza de seu povo, ajudará a matar a fome de muitos irmãos na terra.

Ainda temos a água que pode ser transformada em bem commodity. O aquecimento global, a estiagem no mundo, a redução dos recursos naturais e a necessidade de maior quantidade de alimentos para a população do planeta, já demandam a negociação da água em alguns países. Se o Amazonas tem o rio com o maior volume e extensão de água da terra, o que falta para negociar esse bem assim como é negociado o petróleo? A água é a estrela do novo ciclo de Commodities no mercado. Basta criar os mecanismos legais, por em prática e transformar isso em riqueza para a nossa gente.

Apenas para reflexão, finalizo dizendo que somos um povo sentado em cima de um pote de ouro sem saber como abri-lo!

*Oreni Braga é mestre em Gestão e Auditoria Ambiental, especialista em Ecoturismo, Planejamento e Gestão de Parques e Design de Ecolodges e vice-presidente do Instituto de Ecoturismo e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – IEDAM

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