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Opinião

OPINIÃO – Um presente para São Luís, patrimônio cultural da humanidade

Por José Reinaldo Tavares*

José Reinaldo Tavares

Kátia Bogéa, que hoje preside uma importante fundação na prefeitura de São Luís, já é de muito a responsável por manter a capital cada vez mais bela, deslumbrante mesmo, cidade que foi honrada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com um título que, por si só, nos distingue de outras capitais brasileiras, uma cidade belíssima e cheia de mistérios como poucas no Brasil. Vivemos em uma cidade linda, de paisagens e logradouros deslumbrantes.

Na sua passagem pela presidência do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), ela foi em busca dos recursos para tornar realidade projetos importantíssimos para a cidade, projetos executados com rigor técnico, dentre outros a Praça da Biblioteca, a Rua Grande, a Praça João Lisboa, a praça em frente ao Convento das Mercês e a recuperação de muitos prédios na área tombada. E, silenciosamente, trabalhou com Mário Ribas, presidente da OCBPM (Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial) para formatar junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) um programa para contratação dos projetos para recuperação e manutenção do patrimônio histórico e cultural das cidades consideradas Patrimônios Culturais da Humanidade. E Kátia, conhecedora profunda dessas engrenagens, já está trabalhando com o projeto de São Luís em parceria com o IPHAN, Sebrae e OCBPM. O prefeito Eduardo Braide foi de uma lucidez enorme ao escolher Kátia para sua equipe de trabalho. Só precisa dar amplas condições materiais para que ela possa desenvolver o seu trabalho, o que colocará a administração de Braide em outro patamar.

O BNDES aprovou R$ 19,85 milhões em recursos não reembolsáveis para a OCBPM. O recurso será destinado à promoção do turismo nos sítios declarados Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

A cidade deve muito a Roseana Sarney quando estava no governo e, principalmente, a seu pai José Sarney –  que arregimentaram técnicos muito competentes e ligados ao setor para preparar toda a documentação necessária junto à Unesco.  E graças à rede de amigos que Sarney tem na França e na Unesco,  conseguiram elevar São Luís a tão alta distinção mundial.

Nós nunca fizemos uma grande homenagem à Unesco e a essas pessoas que fizeram tanto por São Luís. Está na hora de fazermos, chamando personalidades mundiais a darem seu testemunho, transformando essa homenagem em um grande acontecimento, aguçando a grande curiosidade dos brasileiros em conhecer o nosso Patrimônio Histórico. A Prefeitura, quem sabe, poderia se encarregar disso com ajuda da classe empresarial ligada ao turismo, assim como também o Governo do Estado, a Academia Maranhense de Letras e muitas outras entidades. É apenas uma ideia. Mas que maravilha se pudéssemos fazer isso! Mostraria ao mundo como nos orgulhamos dessa distinção. Isso atrairia ainda mais do que já atrai, os turistas.

Investir em Turismo – Eu soube compreender isso. São Luís, no meu período de governo, bateu todos os recordes na atração de turistas, um grande trabalho do secretário de Turismo, Airton Abreu, que recebeu todo o apoio para colocar em prática a luta para atrair os turistas para conhecer nossa cultura, nossa culinária, nosso Centro Histórico, a nossa cultura popular, fortíssima com o nosso carnaval de rua, nossos grupos de boi, tão fantásticos, com os bois de Matraca, de Zabumba e de Orquestra, com nossos arraiais espalhados pela cidade e muitas outras brincadeiras populares.

Na época, aqui tínhamos aviões fretados pela CVC. Voos fretados do Chile, de Lisboa e da Guia Francesa. Transformamos o nosso aeroporto em Aeroporto Internacional, com ajuda da alfândega e da Polícia Federal. Airton Abreu viajava o mundo, vendendo nossas atrações. Fizemos uma semana de exibição na FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em São Paulo, no térreo, dando direto para a Avenida Paulista, onde todos os dias, às 18 horas, havia um grupo de Boi para atrair os passantes e lá tínhamos torta de camarão e arroz de cuxá, doces, guaraná Jesus, onde distribuíamos muitos folhetos mostrando nossas belezas. Foi um imenso atrativo para os turistas que, em sua maioria, vêm de São Paulo. Construí as sedes dos bois e das escolas de samba para que pudessem receber bem os turistas à noite. E criamos a jardineira, atração forte no carnaval. Fui a muitos eventos em São Paulo, mostrando o Maranhão, esse que é o estado maior emissor de turistas no Brasil. Fui a Strasbourg, na França, onde estava havendo um festival mundial de turismo e, além de Grupos de Boi e Cazumbá, levei a Orquestra da Escola de Música, que as cidades próximas logo contrataram e que quase que não volta mais, diante de tantas ofertas que tiveram. A orquestra era comandada pelo nosso grande maestro e professor de música, meu secretário de Cultura, Antônio Padilha, doutor em Música por Coimbra, Portugal.

Fazíamos parte de todas as reuniões de empresas de agentes de viagem. Foi muito suor gasto, com Airton viajando muitas vezes sozinho, carregando os painéis e cartazes, muito material promocional de nosso turismo. Fizemos uma grande noite maranhense na sede da Embaixada de Portugal, grande parceiro do nosso turismo. O resultado desse trabalho nós vimos já em 2005. O fluxo de turistas aumentou 193%. Em 2001, eram 610.655 e, em 2005, foi de 1.179.764. E o Maranhão encerrou a sua participação no 33º Congresso Brasileiro de Agentes de Viagens (ABAV 2005) com garantia de melhor roteiro e de melhor marca turística. A desigualdade caiu de 0,6185 para 0,5732. (quanto mais próximo de 1, mais desigual é o estado e quanto mais próximo de 0, menos desigual). E o menor salário no estado era de R$ 365,00, enquanto o Salário Mínimo do País era de R$ 350,00. E o turismo contribuiu com tudo isso.

Colaboramos com a TV Globo para fazer uma de suas novelas de maior Sucesso, “Da Cor do Pecado”,  filmada no Centro Histórico, mostrando também nossas belezas naturais como os Lençóis Maranhenses. Ana Maria Braga fez o seu programa, top da manhã da Globo, durante uma semana daqui de São Luís, mostrando as delícias de nossa culinária. Um sucesso total.

A lição que fica é a seguinte: Secretaria de Turismo é fundamental, mas o trabalho para atrair o turista é para abnegados que se sacrificam, pessoalmente, na missão. E é preciso construir credibilidade e dar muita atenção aos turistas quando chegam. Mas não há outra maneira de conseguir criar tanto emprego, lembrando que o maranhense, principalmente o ludovicense, é quase natural seu envolvimento com a nossa cultura popular. É precisa educar e preparar os guias que têm que ser bilíngues e conhecer a nossa história, sem enrolação. Credibilidade faz o turista querer voltar.

Precisamos honrar o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Não é possível aceitar que uma cidade que mereceu honraria tão grande por parte da UNESCO ainda conviva com a falta de saneamento básico, com o esgoto correndo pelas ruas, com a interdição de nossas belíssimas praias para banhos de mar. Isso é inaceitável e, no momento, com a aprovação do Marco Legal do Saneamento temos todas as condições de entrarmos nesse mundo que respeita os cidadãos e a cultura, o turista e a sua cidade. Não é legal conviver com isso mais. E muitas empresas virão correndo resolver o problema, se forem chamadas. Fica o desafio.

*José Reinaldo Tavares foi governador do Maranhão entre 2002 e 2006 e ministro dos Transportes entre 1986 a 1990.

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