Em uma entrevista exclusiva ao M&E, Leandro Aragonez, que acaba de ser promovido a diretor de Engajamento de Parcerias Globais e Patrocinadores da International LGBTQ+ Travel Association (IGLTA), reflete sobre a trajetória da associação, os desafios da inclusão e a evolução do turismo LGBT. Ele compartilha sua visão sobre como o turismo pode ser uma força transformadora para a inclusão, destaca o impacto econômico do segmento e revela como a IGLTA está combatendo a discriminação globalmente. Com sua atuação incansável, Aragonez é uma dessas forças que está trabalhando para moldar o futuro do turismo LGBT. Confira:
M&E – O que muda na sua atuação agora com a promoção ao cargo de diretor?
Leandro Aragonez – A promoção aconteceu há duas semanas e ainda não foi amplamente divulgada, mas foi uma grande conquista pessoal e profissional. Agora, meu papel será mais estratégico, focado em planejar a longo prazo e ampliar nossa rede de parcerias.
M&E – Qual é o papel da IGLTA em relação aos destinos que não são inclusivos para a comunidade LGBT?
Leandro Aragonez – Atualmente, 64 países criminalizam a comunidade LGBT e 12 países incluem a pena de morte como punição apenas por serem quem são. Imagine ter risco de morte apenas por ser você mesmo. Em alguns países, há o risco de prisão pelos mesmos motivos. A IGLTA acredita na construção de pontes e não de muros. Assim como diz o nosso presidente e CEO, John Tanzella, em vez de boicotar países que criminalizam a comunidade LGBT, buscamos criar diálogo e promover a inclusão. Acreditamos que o turismo pode ser uma ferramenta de conexão e progresso, mesmo em lugares onde há restrições severas.
A IGLTA acredita na construção de pontes e não de muros. Em vez de boicotar países que criminalizam a comunidade LGBT, buscamos criar diálogo e promover a inclusão
M&E – Como a IGLTA orienta os viajantes que buscam destinos conhecidos por não serem acolhedores à comunidade LGBT?
Leandro Aragonez – Oferecemos orientações e guias de viagem para ajudar os viajantes a se informarem sobre as leis e costumes locais. Trabalhamos com parceiros em mais de 80 países para promover operações turísticas seguras e inclusivas. Em destinos como o Egito, por exemplo, é possível encontrar operadores turísticos que apoiam a diversidade e a inclusão.
M&E – Como combater a opressão muitas vezes vividas pelos viajantes da comunidade LGBT?
Leandro Aragonez – Acredito que a indústria do turismo deve continuar a desenvolver globalmente os valores de diversidade e inclusão, proporcionando mais visibilidade e proteção para a comunidade LGBT, incluindo a comunidade transgênero e garantindo maior segurança para as mulheres. Também é essencial abordar questões como o racismo, a situação dos povos originários e o acesso para pessoas com deficiência. Quando falamos de diversidade e inclusão, a opressão não é uma luta isolada; é uma luta de todos. Manter as portas abertas e promover o diálogo é fundamental. O respeito é a base de tudo. Em um mundo com mais de 7 bilhões de pessoas, é impossível que todos tenham a mesma opinião. No entanto, com diferentes opiniões e visões, podemos alcançar entendimento através do respeito mútuo e colaborar para um progresso conjunto. O objetivo é construir uma sociedade global mais acolhedora, justa e igualitária.
Quando falamos de diversidade e inclusão, a opressão não é uma luta isolada; é uma luta de todos
M&E – Qual o impacto das viagens da comunidade LGBTQIA+ no setor turístico? Quais dados relativos ao Brasil você destacaria?
Leandro Aragonez – As viagens da comunidade LGBTQIA+ têm um alto impacto no setor turístico global, sendo uma das principais forças econômicas da indústria. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, 10% de todo o fluxo mundial de viajantes é composto por pessoas LGBTQIA+, representando 15% da receita global em viagens. Além disso, o turismo LGBTQIA+ é 30% mais rentável, evidenciando o poder econômico do segmento.
Globalmente, o gasto total com turismo LGBTQIA+ foi estimado em 218 bilhões de dólares em 2023, com uma projeção de alcançar 600 bilhões de dólares até 2030. O vice-presidente do nosso Departamento de Parcerias Globais e Patrocinadores, Clark Massad, recentemente apresentou uma análise com uma perspectiva impressionante: se a comunidade LGBTQIA+ fosse considerada um país, seria a terceira maior economia do mundo, com um poder de compra global estimado em 4,7 trilhões de dólares, superado apenas pelos Estados Unidos e China. No Brasil, esse impacto também é significativo. O Brasil lidera o mercado de turismo LGBTQ+ na América Latina, com um impacto econômico estimado em aproximadamente 27 bilhões de dólares, posicionando o país como um dos principais destinos internacionais desse segmento.
Globalmente, o gasto total com turismo LGBTQIA+ foi estimado em 218 bilhões de dólares em 2023, com uma projeção de alcançar 600 bilhões de dólares até 2030. Se a comunidade LGBTQIA+ fosse considerada um país, seria a terceira maior economia do mundo
M&E – Como é hoje a relação da IGLTA com os órgãos de turismo do Brasil?
Leandro Aragonez – Na última semana, estive com a Embratur, junto do presidente Marcelo Freixo e sua equipe técnica, Bruno Reis, Fabio Montanheiro e Alexandre Nakagawa, e o trade turístico do Rio de Janeiro, onde a Embratur apresentou excelentes atualizações sobre ações promocionais e o portal de dados em inteligência de mercado. A Embratur, que é parceira da IGLTA há muitos anos, incluirá estudos específicos sobre a comunidade LGBTQ+ e a IGLTA estará à disposição para contribuir com isso. Esse entendimento aprofundado permitirá decisões mais assertivas, ajudando a promover um ambiente turístico mais seguro e acolhedor para todos. Esses dados mostram não apenas o impacto econômico substancial da comunidade LGBTQIA+ no turismo, mas também a necessidade urgente de continuar avançando em políticas de inclusão e segurança para apoiar esses viajantes e fortalecer o setor turístico global.
M&E – Como você vê o fato da Câmara dos Deputados estar agora discutido, através do PL (Projeto de Lei) 580 de 2007, a união homoafetiva, com a possibilidade da mesma – permitida pelo STF desde 2011 – ser proibida por Lei?