PARINTINS – As três noites de duração do Festival Folclórico de Parintins, que termina neste domingo (02), já deixam saudades antecipadas da festa – classificada como Patrimônio Cultural do Brasil – dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso. Um de seus ingredientes marcantes, a rivalidade entre os bois, divide a Ilha Tupinambarana ao meio, cada parte defendendo uma das cores: vermelho ou azul. Nesta 56ª edição não foi diferente, já que aqui em Parintins, literalmente, não existe meio termo. Neste segundo dia de apresentações o confronto, principalmente entre as galeras mais uma vez ficou patente.
GARANTIDO – As apresentações do boi vermelho talvez, até momento, tiveram como características força, garra e emoção demonstradas claramente na arena. Movidos pelo enredo “Por toda vida ao lado do povo”, o Garantido também se posicionou em defesa da vida, da mistura, do respeito à inclusão e pela diversidade.
Crítica, a agremiação não deixou de se posicionar contra os crimes ambientais em todo o país, mas na região Amazônica como um todo de maneira mais forte. Convocou todos os povos indígenas e as forças da natureza para o combate ao desmatamento, às madeireiras, fazendeiros e mineiros ilegais que destroem a floresta Amazônica. Alegorias gigantescas representando o espírito da floresta, sua fauna e flora, arquétipos mágicos e fantásticos de ritos e lendas amazônicas contaram à galera toda influência indígena do festival de Parintins.
O cacique Raoni, por exemplo, que abriu a primeira apresentação do Garantido na arena do bumbódromo, saudou e prestigiou os representantes de povos originários que participam da festa folclórica do boi vermelho, além de convocar as forças da natureza e se unir no combate aos crimes ambientais.
Destaque ainda na apresentação do Garantido neste segundo dia às homenagens, ao apoio e solidariedade à nação yanomami. “Resistência” foi a palavra chave que marcou o posicionamento dos povos originários em relação à luta yanomami contra a invasão de seu território, a fome e doenças.
CAPRICHOSO – “O brado do povo guerreiro” conduziu o azul e branco à resistência dos povos indígenas nesta festa originalmente dos povos da floresta. Tanto, que pela primeira vez nesta edição do festival, e válida de aqui por diante, o termo “povos” substituiu o até então usado por todos: “tribos”. O Caprichoso cantou a toada “Brasil terra indígena”, de Gerlean Brasil, resignificando os povos indígenas, antes tratados de forma pejorativa de tribos. A partir deste festival 2023, as toadas tem que respeitar esse detalhe na trilha sonora da agremiação.
A apresentação do Caprichoso foi magistral. A agremiação não economizou em alegorias, estandartes bandeiras e toda sorte de adereços para conquistar a galera e os jurados. Em todos os momentos, os brincantes tomaram a arena por completo, com muito volume, cores, danças e história. O visual com tanta informação vinha do alto, como o boi-bumbá logo no início da apresentação, ao som de uma toada mais clássica e tranquila; das laterais e do corredor central cortando a bateria.
A pegada forte dos tambores e o canto da galera apaixonada e coreografada na arquibancada ao som de “campeã”, marcaram e impactaram o bumbódromo. Ao contrário do boi adversário, o som do berrante tanto na abertura como ao longo de toda a apresentação também marcou o Caprichoso, uma tradição da agremiação, bem como o tambor da resistência.
PATROCÍNIO – Para a realização da 56ª edição do Festival Folclórico de Parintins, o Governo do Amazonas investiu R$ 10 milhões – R$ 5 milhões para cada bumbá, mais R$ 2 milhões de última hora, enquanto os patrocinadores destinaram R$ 2,5 milhões.
Somente integrantes da comunidade parintinense conta com seis mil ingressos gratuitos para assistir, na arquibancada, torcer e se envolver na busca pelo título de melhor torcida, como são avaliados os torcedores na arena que interagem com o canto e evolução das toadas.
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