É comum encantar-se com golfinhos nadando e fazendo rodopios. Difícil é estudar e preservar o fenômeno da alta concentração de golfinhos-rotadores no arquipélago de Fernando de Noronha, em Pernambuco. E é exatamente isso o que fazem há 21 anos os pesquisadores e educadores ambientais do Projeto Golfinho-Rotador, um trabalho reconhecido e respeitado por autoridades e especialistas em conservação do Brasil e do exterior.
“A alta frequência de golfinhos-rotadores, a falta de conhecimento sobre estes animais, a iminência do crescimento desordenado do turismo náutico em Fernando de Noronha, bem como a aspiração de mais de dez anos para viver no arquipélago e minha situação de recém-formado em Oceanografia, me levaram a criar o projeto”, lembra o analista ambiental José Martins, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – que criou o projeto em agosto de 1990.
Nesses anos, os pesquisadores e educadores do projeto somaram 5.323 dias e 35.589 horas de observação e 1.278 mergulhos com os cerca de 10 mil golfinhos existentes em Fernando de Noronha, atenderam a 232 mil turistas, promoveram mais de 610 oficinas teóricas e práticas de educação ambiental para estudantes e capacitaram cerca de 7,5 mil alunos. Realizaram ainda 45 cursos profissionalizantes em ecoturismo para a comunidade noronhense, atingindo 1.975 ilhéus.
O projeto acumula vários resultados positivos para os rotadores, para a população noronhense, para os visitantes e para a comunidade científica. Martins destaca os ganhos econômicos – com o estímulo ao turismo –; educativos ambientais – aumento da consciência dos habitantes e visitantes -; e conservacionistas – fiscalização e criação de normas de conservação. Além disso, o Projeto Golfinho-Rotador deu importante contribuição para a criação do Santuário de Baleias e Golfinhos do Brasil.
Por conta das ações de preservação desenvolvidas pelo projeto, a quantidade de golfinhos no arquipélago permanece praticamente a mesma desde 1990, quando foi iniciado o projeto. Na Baía dos Golfinhos, o local de preferência desses cetáceos (presentes na baía em 95% dos dias do ano), os animais descansam, comunicam-se, reproduzem e amamentam seus filhotes.
Além do estudo e proteção dos golfinhos, o projeto também promove a sustentabilidade. O modelo do prédio-sede, por exemplo, ganhou o Prêmio Procel nacional pela preocupação com o consumo de energia. A construção prevê melhor circulação de ar cruzada, para evitar o uso de condicionadores de ar; aberturas para amenizar a incidência solar; projeto hidrossanitário, com reuso das águas pluviais; e projeto elétrico com aquecimento solar das águas dos chuveiros. Faz-se uso de produtos biodegradáveis elaborados pela própria equipe, plantio de plantas endêmicas e frutíferas, entre outras preocupações sustentáveis.
Patrocinado desde 2001 pela Petrobras, o projeto conta ainda com apoio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direito Difuso (Ministério da Justiça) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).