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Curiosidades / Destinos

Overtourism: como destinos e viajantes têm buscado soluções para uma indústria mais sustentável

O Overtourism tem comprometido a experiência de viajar para os turistas e a qualidade de vida dos moradores locais

O Overtourism tem comprometido a experiência de viajar para os turistas e a qualidade de vida dos moradores locais

A palavra ‘Overtourism’ – que em português pode ser interpretada como ‘turismo em excesso’ ou ‘turismo em massa’ – foi considerada uma das palavras do ano segundo o Oxford English Dictionary em 2018. Seu significado faz referência ao número excessivo de visitantes simultâneos em um só destino, ação que pode provocar um impacto negativo não apenas no meio ambiente, mas também na sociedade que vive no local.

Nos últimos anos, o Overtourism tem sido pauta recorrente dos destinos mais populares do mundo, que visam alertar sobre as consequências do turismo em massa e propor soluções para esse problema. O contínuo crescimento do setor turístico, que em 2019 registrou 1,5 bi de chegadas de turistas internacionais – sendo este o décimo ano consecutivo de crescimento, é motivo de comemoração, mas o desenvolvimento do setor precisa vir acompanhado de planejamento.

FLUXO SUSTENTÁVEL

As causas deste fenômeno são claras. Além do aumento de viajantes globais, a facilidade de viajar também beneficia o turismo em massa. A maior conectividade aérea entre os destinos, o aumento do turismo marítimo, os custos mais baixos graças a soluções como Airbnb e as low costs são alguns dos propulsores desta máquina.

A falta de infraestrutura, a má gestão turística e até mesmo a influência das redes sociais também podem ser apontadas como os responsáveis pelo turismo em excesso. O Instagram, por exemplo, é um dos principais motivos que levou destinos a experimentarem um “boom” de turistas nos últimos anos. Perfis de humor na rede social satirizam o problema, como é o caso do @perrengue_chique, que traz vídeos e imagens de pontos turísticos famosos com superlotação e sem nenhum ‘glamour’.

Veneza, Paris, Santorini, Barcelona, Machu Picchu, Maiorca e até mesmo Ubatuba (SP), são alguns dos destinos que já sofrem as consequências do turismo em massa. Com uma população de 850 mil habitantes, Amsterdã, na Holanda, recebe anualmente mais de 20 milhões turistas, durante todas as estações do ano. Cansados dos turistas “baderneiros” que frequentam os icônicos coffeeshops e o Bairro da Luz Vermelha, a população local migrou para cidades mais calmas e se rebelou contra os turistas, fazendo com que a prefeitura tivesse que agir para controlar o turismo em massa.

LUCRATIVO, MAS PREDADOR

O turismo em massa é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que beneficia a economia local, destrói a identidade cultura e prejudica o meio ambiente

O turismo em massa é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que beneficia a economia local, pode destruir a identidade cultural e prejudicar o meio ambiente

Apesar do turismo arrecadar cerca de 82 bilhões de euros (US$ 91,5 bilhões) para a economia holandesa por ano, a cidade adotou uma postura firme para lutar contra o turismo em excesso. Em 2019, as autoridades turísticas holandesas decidiram parar de anunciar o País como destino turístico. Além disso, a prefeitura declarou o fim da construção de novos hotéis, lojas de suvenir e em 2018, o famoso letreiro “I amsterdam” foi removido a pedido dos moradores, pois o local concentrava uma multidão de turistas do lado de fora do Rijksmuseum, a principal galeria de arte da cidade.

Não dá para saber como o turismo em massa vai prejudicar esses destinos no futuro, tanto para os moradores quanto para o meio ambiente. Mas, alguns lugares apontam que as consequências do Overtourism serão cruéis. Os navios de cruzeiro já causaram danos ambientais significativos às hidrovias e lagoas da Veneza, por exemplo, de acordo com uma reportagem da CNN sobre como está lidando com a superlotação. Por esse motivo, a cidade implementou uma taxa de visitação que varia de 2,5 à 10 euros (de acordo com a sazonalidade) para tornar a atividade turística mais sustentável.

A falta de luz e água nas famosas ilhas gregas Mikonos e Santorini também já é uma realidade causada pelo número alto de turistas e falta de infraestrutura para suportar esse aumento no fluxo de visitantes. Em junho de 2018, a praia mais famosa da Tailândia, Maya Bay, em Koh Phi Phi Leh, foi fechada de forma temporária por conta do desgaste ao ecossistema provocado pelo Overtourism.

As autoridades locais anunciaram que a praia – que ficou famosa após a estreia do filme “A Praia” (2000) estrelado por Leonardo DiCaprio – permanecerá fechada para regeneração dos recursos naturais até pelo menos 2021, quando será realizada nova avaliação para saber se o local reabrirá para visitação turística. Após o filme, a praia que antes recebia poucos turistas passou a ter um fluxo de cinco mil visitantes por dia, o que prejudicou a vida dos corais da região.

Além da deterioração do espaço e a guerra entre turistas e moradores, existem outras consequências do turismo em excesso. O comprometimento da experiência da viagem, o aumento dos preços nos locais mais afetados pelo Overtourism, a escassez de recursos naturais e a especulação imobiliária resultante da ascensão do Airbnb e hospedagens alternativas também são algumas das implicações resultantes do turismo em massa.

É POSSÍVEL CORRIGIR ESSE PROBLEMA

Destinos como Fernando de Noronha, em Pernambuco adotaram soluções para combater a superlotação de turistas

Destinos como Fernando de Noronha, em Pernambuco adotaram soluções para combater a superlotação de turistas

Agentes de viagens, órgãos oficiais, operadoras de turismo e governos devem se unir para buscar soluções para esse problema. Muitos destinos já apresentaram medidas para contornar o Overtourism, como é o caso de Fernando de Noronha (PE), que para se proteger das consequências do turismo em massa criou uma série de regras e restrições.

O arquipélago declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), é considerado um dos paraísos brasileiros e é um case de sucesso no combate ao Overtourism. O governo de Pernambuco exige que cada visitante pague uma taxa diária de preservação ambiental que varia de acordo com o tempo de permanência do turista no destino, podendo ir de R$75 à R$5 mil.

O Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha, que abrange as principais praias da ilha, também possui uma taxa de ingresso com duração de dez dias, que vai de R$ 106,00 para brasileiros e R$ 212,00 para estrangeiros (preços baseados na cotação de 2019). Além disso, a oferta de voos e leitos é restrita e o acesso a ilha é feito apenas através de barcos. Todas as taxas cobradas também são convertidas para medidas de preservação do meio ambiente e planejamento.

Mas a cobrança de taxas ou aumento dos preços não são as únicas soluções disponíveis para parar o turismo em excesso. Lugares como Machu Picchu e Veneza tem investido na limitação de visitantes diários. A cidade perdida dos Incas, por exemplo, dividiu os horários de entrada no território e a visita só pode ser feita com a companhia de um guia oficial.

Já a cidade italiana, além das taxas de visitação, implementou catracas para restringir a entrada de turistas em regiões especificas durante a alta temporada, feriados ou finais de semana de maior movimento e colocou policiais nas ruas para “vigiar” algumas das áreas mais movimentadas da cidade, alertando e se necessário, multando os turistas que são pegos comendo ou bebendo em uma área não designada ou mergulhando em algum do canal da cidade – As multas podem chegar até € 500 (Aproximadamente R$ 2,5 mil).

Outras alternativas que tem sido adotadas pelos destinos que sofrem deste mal é o desvio de fluxo através da promoção de outras regiões. A França tem trabalhando fortemente no marketing e propaganda de destinos antes poucos explorados, como forma de desconcentrar o fluxo de turistas apenas na capital Paris. E essa medida funciona.

Uma pesquisa realizada pela Booking.com revelou que a busca por lugares menos conhecidos para tentar reduzir o excesso de turistas e assim proteger o meio ambiente é uma das tendências de 2020.51% dos viajantes brasileiros querem contribuir para reduzir o turismo excessivo, sendo que 53% deles estariam dispostos a mudar o destino escolhido por uma alternativa parecida, mas menos conhecida, se soubessem que isso resultaria em um menor impacto ambiental.

Além disso, para terem inspiração, quase 3 em cada 4 brasileiros (74%) gostariam de ter acesso a um serviço (seja um app ou website) que recomendasse destinos onde o aumento do turismo poderia impactar a comunidade local de forma positiva.

A busca por turismo de experiência e turismo sustentável tem crescido nos últimos anos e esse é o momento ideal para a indústria turística agir. Aproveitar essas tendências para promover novos destinos e reforçar a importância da preservação ambiental, educando os turistas e estimulando eles a escolherem destinos que proporcionem uma experiência mais ecológica e prazerosa.

A geração Z já se mostrou disposta a abandonar destinos que sofrem com o Overtourism por destinos que ofereçam experiência autênticas e mais sustentáveis

A geração Z já se mostrou disposta a abandonar destinos que sofrem com o Overtourism por destinos que ofereçam experiência autênticas e mais sustentáveis

Outra pesquisa realizada pela Booking.com revelou que a Geração Z (pessoas com idade entre 16 e 24 anos) mostrou estar consciente dos efeitos que suas decisões têm sobre o planeta e mais da metade (61%) dos brasileiros da Geração Z não consideraria visitar um local que esteja saturado de turistas.

Além disso, dois em cada três (65%) desses jovens argumentam que o impacto ambiental causado sobre seus destinos de viagem é um fator importante a ser levado em consideração. As demais gerações do País se mostram bem alinhadas e afirmam que deixariam de visitar um destino caso soubessem de antemão que ele é ameaçado pelo excesso de turistas. 65% dos entrevistados da Geração X (pessoas com idade entre 40 e 54 anos) e 65% dos Baby Boomers (pessoas acima dos 50 anos) afirmaram se preocupar com o Overtourism. Somente os Millenials (pessoas com idade entre 25 e 39 anos) mostraram-se menos preocupados com a situação, com 57%.

Os destinos já consolidados podem investir na distribuição de eventos no calendário anual, como forma de espalhar o fluxo de turistas ao longo do ano, através da criação de festivais e atrações que possam atrair o público em temporadas consideradas menos movimentadas. Cidades como Rio de Janeiro, Porto Seguro e São Paulo investem em um calendário de eventos extenso durante o ano inteiro como forma de evitar a superlotação e estimular a economia em épocas do ano em que o comércio tinha uma baixa por conta da diminuição da atividade turística.

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