CAMPO GRANDE – Um mercado que movimenta mais de 700 milhões de pessoas e cerca de US$ 200 bilhões de dólares ao ano, de acordo com dados do Banco Mundial. Este é o cenário da pesca esportiva. No Brasil este número já ultrapassou R$ 1 bilhão. Como principal destino do segmento no País, o estado do Mato Grosso do Sul trouxe o tema para debate no seminário “Isto é Mato Grosso do Sul”.
O biólogo e apresentador do programa Biopesca, da FishTV, Lawrence Ikeda, mostrou o retrato da pesca esportiva do Brasil, o seu impacto e os desafios, entre eles o da regulamentação. Ikeda citou o exemplo de ações realizadas no Mato Grosso do Sul, como a proibição da pesca em período de reprodução (defeso), a proibição de pesca em área de conservação e a principal delas, a “Cota Zero”, que passará a valer a partir de 2020. Na “Cota Zero” a pesca esportiva no estado será 100% no modelo “pesca e solta”, proibindo o transporte de peixe para fora das regiões de pesca.
“O MS até pelo seu histórico criou uma legislação muito mais restritiva que a federal. A gente chegou a um nível tão crítico que temos que proteger. Se não protegermos o recurso ambiental vai se esgotar uma cadeia. Se a gente não tem peixe, não tem turismo e não tem nada e não garante o futuro das próximas gerações”, destacou o biólogo.
Ikeda ainda citou a pesca esportiva como um segmento novo no País, com pouco mais de 30 anos, período em que se desenvolveu o processo de conscientização dos praticantes, passando da ideia de levar o peixe ao pensamento de preservar o ecossistema. “Com essa conscientização, está melhorando o estoque dos peixes no Mato Grosso do Sul. É importante a gente considerar o peixe como um símbolo de preservação ambiental. O pescador amador hoje sabe que é importante soltar o peixe. Isso não era comum no passado, achava-se que o recurso era inesgotável”, completou.
Lawrence ainda destacou a importância de incluir o tema no planejamento do setor público. “Pesca esportiva é um segmento muito novo e temos que discutir e incluir isso nos planejamentos de gestão pública. Isto é fundamental. A pesca representa muito para a economia do estado”, salientou.
REGISTRO E OUTROS GARGALOS
Estima-se que o Brasil tenha 6 milhões de praticantes da pesca esportiva, sendo apenas 500 mil regulamentado com licenças. Esta diferença ainda é prejudicial, seja pela questão estatística, tanto para recursos de preservação. “Essas licenças são importantes para estatística, para sabermos o número de praticantes. Além disso Recurso destas licenças servem para investir e ações de conservação, pesquisa, fiscalização”, destaca Lawrence.
Ikeda ainda falou sobre outros gargalos a serem resolvidos, como o desafio da preservação de recursos ambientais, o investimento em infraestrutura e saneamento básico, a falta de investimento em pesquisa científica, e redução de conflito entre a pesca esportiva e a pesca comercial, além da educação ambiental e fiscalização. Em contrapartida, ele ressalta os impactos sociais e econômicos apontando o crescimento da indústria de equipamentos, do agenciamento turístico e principalmente do impacto social e econômico nas comunidades.
CASES DE SUCESSO
Após a apresentação de Lawrence Ikeda, o seminário “Isto é Mato Grosso do Sul” trouxe cases de sucesso sobre modelos na associação entre a pesca esportivo e a preservação. Julivan Trindade, da Pousada Rio Manso, do Mato Grosso, mostrou o crescimento e o sucesso do modelo de pesca e solta, com mais de 500 hóspedes em 2019 e 60% de ocupação já garantida para 2020. O empreendimento tem um impacto social em 17 famílias da região.
Já Carlos Araújo, da Pousada Asa Branca, de São Miguel do Araguaia/GO, conta como foi a transição para o modelo de cota zero, que trouxe um número maior de turistas e ampliou o negócio. Hoje são 60 guias e outros 30 funcionários fixos, impactando 90 famílias. O número chega a 100 em alta temporada.
Outro modelo de transição foi apontado por Joice Carla Santana Marques, do Joice Pesca & Tur, vencedora do prêmio Isto é Mato Grosso do Sul. A operadora conta com barcos que recebem turistas de pesca esportiva e revelou o impacto da mudança do modelo de pesca e solta. A principio visto como uma ameaça aos negócios, a mudança gerou um aumento nos negócios e uma mudança no perfil, trazendo mais mulheres e crianças, além de impactos sociais, como a redução do turismo sexual e desenvolvimento da comunidade.
“Hoje temos três embarcações com 107 funcionários CLT. Mostramos para comunidade que o peixe é a ferramenta dela. Quanto mais peixe e mais preservação, teremos mais turismo. Ninguém engana mais o turista e temos uma geração que veio para mudança, a geração que não vai querer entrar em um barco que mata peixes”, destacou Joice.