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Política

ENTREVISTA EXCLUSIVA: conheça as propostas de Lula para o Turismo

Encontro Lula e Alckmin com microempreendedores

Luiz Inácio Lula da Silva (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Para entender em detalhes todas as propostas para o desenvolvimento do Turismo dos dois candidatos à presidência que disputam o segundo turno, o MERCADO & EVENTOS entrevistou Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Numa reportagem EXCLUSIVA, os dois candidatos detalharam todas as suas propostas e promessas para o setor turístico brasileiro. Abaixo é possível conferir a entrevista com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto de Jair Bolsonaro é possível LER AQUI.

MERCADO & EVENTOS – Em 2019, antes da pandemia, a contribuição do Turismo para o PIB brasileiro foi de 7,7%, percentual menor do que o registrado no Chile e Argentina, por exemplo. Qual a posição de investimento e protagonismo da indústria turística dentro do seu plano de governo e como, na sua visão, o setor pode ser usado para alavancar a economia do país?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – O turismo precisa voltar a crescer e as pessoas, a viajar e conhecer esse país. A forma com que procedemos nos mandatos anteriores do presidente Lula traz bons aprendizados: criamos o Ministério do Turismo, montamos uma equipe profissional de primeira linha, com história e conhecimento do mercado, organizamos e ampliamos o orçamento, construímos o primeiro plano nacional de turismo e, a partir dele, dois planos de marketing em conjunto com o setor: um para o mercado nacional – o plano CORES – e outro para o mercado internacional – o plano AQUARELA, que gerou a Marca Brasil.

Fizemos programas de desenvolvimento de pessoas, obras de infraestrutura (como, por exemplo, o PRODETUR Nacional) e estruturação de destinos por todo o país. Entre os grandes resultados, estão o crescimento do número de turistas domésticos – passamos de 30 para mais de 100 milhões de passageiros em aviões por ano, a tarifa média caiu de R$ 900,00 para R$ 400,00, o Brasil passou a ser top 10 no ranking de eventos internacionais da ICCA.

“Vamos fazer mais e melhor, resgatando bons programas e reconstruindo o turismo com agendas contemporâneas”

Desta vez, vamos fazer mais e melhor, resgatando bons programas e reconstruindo o turismo com agendas contemporâneas, como desenvolvimento sustentável, combate ao desemprego, às desigualdades, e com estímulos a pesquisa, inovação e novas experiências para a transformação do turismo nas regiões brasileiras, valorizando nossa cultura, nosso patrimônio histórico, nossa biodiversidade e nos vários e segmentos deste mercado.

Além de aumentar a renda dos brasileiros para inserirem viagens em sua cesta de consumo, aos profissionais, a atenção precisa estar no acesso facilitado ao crédito. Empresários individuais (MEI) e empresas de micro, pequeno e médio porte precisam de condições facilitadas para acesso ao dinheiro, com juros mais baratos, e é isso que será feito por meio dos bancos públicos.
Por meio do turismo, incentivaremos o fomento ao desenvolvimento econômico, social e ambiental e na geração de emprego e renda no Brasil, valorizando as comunidades locais e facilitando a acessibilidade a pessoas com deficiência.

M&E – Quais medidas consistentes e eficazes que seu governo propõe para estimular a demanda interna de lazer e ampliar a base de consumidores do Turismo?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Precisamos criar condições para as pessoas voltarem a viajar e conhecerem esse país. Para isso, as medidas prioritárias serão: Retomar a capacidade de consumo dos brasileiros, por meio de programas de geração de emprego e renda, e de um efetivo aumento real do salário mínimo; Retorno de programas como, por exemplo, o Viaja Mais Melhor Idade, para reforçar nosso mercado interno nos períodos de baixa estação; Revisar e modernizar a política nacional de turismo, com foco em eliminar os gargalos que geram custos diferentes entre os segmentos de transportes e de hospitalidade no país, muito mais caros aqui em relação ao resto do mundo, e incluir a agenda contemporânea, como sustentabilidade e inovação; e reorganizar as políticas de promoção e marketing doméstico e internacional, em que o Brasil já foi muito eficiente.

M&E – Desde 2005, o país registra um déficit de US$ 156,5 bilhões na balança de gastos de turistas (a diferença do que entra com a visita de estrangeiros e as despesas dos brasileiros em viagens internacionais). É possível reverter esse cenário a curto prazo? Como?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – É possível trabalhar com este objetivo a médio e longo prazos. Reverter esse cenário de déficit de bilhões na balança de gastos de turistas, que vem se agravando nos últimos anos, não é tarefa para poucos meses. Hoje, os estrangeiros não querem vir para o Brasil, porque só escutam falar de desmatamento, violência e fome. Precisamos recuperar nossa imagem, em primeiro lugar. Certamente, recuperar este estrago não será fácil, mas o país reúne recursos e produtos que o habilitam a disputar esse mercado mundial de turismo novamente.

“Vamos fortalecer a Embratur, incorporar mecanismos e ferramentas de gestão com base em dados confiáveis, em pesquisas, em ciência, em big data e em inteligência artificial”

Vamos fortalecer a Embratur, incorporar mecanismos e ferramentas de gestão com base em dados confiáveis, em pesquisas, em ciência, em big data e em inteligência artificial. Vamos organizar novo plano internacional de marketing e restabelecer o uso de uma Marca Brasil, baseada em estudos aprofundados e campanha de recall com os grupos de interesse no produto turístico brasileiro e, com isso, estabelecer relacionamento com os principais operadores de turismo, companhias aéreas e jornalistas e comunidades de cada mercado.

Em 2002, os estrangeiros gastaram no Brasil US$ 2 bilhões, segundo o Banco Central. Em 2003, quando Lula assumiu a presidência pela primeira vez, esse valor subiu para US$ 2,5 bi e, em 2010, chegou em quase US$ 6 bilhões, um aumento de mais de 260%. É possível aumentar as viagens e os gastos dos estrangeiros no país, mas eles precisam querer visitar o Brasil.

M&E – A atual gestão promoveu a concessão de dezenas de aeroportos em todo o país, deixando a modernização destes terminais na mão da iniciativa privada. É este o caminho para o desenvolvimento do setor?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Foi no governo Lula que iniciamos a discussão e estabelecemos as bases legais para licitações e parcerias público-privadas, em 2004. O programa federal de concessões de aeroportos teve início em 2012, sob a gestão da Presidente Dilma. O papel do Estado é o de abrir portas, facilitar e não criar problemas. Vamos cumprir todos os contratos, buscar mecanismos mais eficientes de parcerias público-privadas e ampliar o uso da população por esses equipamentos, já que nos últimos anos os brasileiros deixaram de viajar, pela pandemia ou perda de seu poder de compra.

“Vamos cumprir todos os contratos, buscar mecanismos mais eficientes de parcerias público-privadas e ampliar o uso da população por esses equipamentos”

É necessário uma nova visão das relações políticas e empresariais. Os empresários do turismo precisam liderar o desenvolvimento de produtos e serviços diferenciados e sustentáveis, com clareza de mercado e qualidade, sendo apoiados por um Estado forte, com foco em planejamento, boa governança, cooperação pactuada, inteligência e inovação.

M&E – Enquanto França, Espanha e Itália mais que dobraram sua população em número de turistas/ano, os EUA somaram mais de 90 milhões e a pequena Cuba 4,2 milhões, o Brasil, com todo seu potencial natural, recebeu pouco mais de 6 milhões em 2019. Esse número é recorrente há anos. Como virar a chave e colocar o país definitivamente na rota dos grandes receptores de turistas estrangeiros?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Mau humor, fome, pobreza, desmatamento e violência não atraem turistas. Em 2002, antes do presidente Lula assumir o primeiro mandato, o Brasil recebeu 3,7 milhões de turistas estrangeiros e, em 2010, ao final do meu governo, foram 5,2 milhões, um crescimento de 35%. Desde 2016 que esse número está parado em 6 milhões, um retrocesso. Vamos virar essa chave fazendo mais e melhor, reconstruindo a imagem do país no exterior. Para isso, vamos reconstituir a Embratur, retomar o profissionalismo da gestão da promoção internacional, organizar novo plano de marketing, direcionar investimentos aos mercados-alvo, aprimorar ferramentas, e, principalmente, dialogar com os setores público e privado.

M&E – Estima-se que a próxima temporada de cruzeiros no Brasil seja a maior da última década, impactando R$ 3,8 bilhões na economia nacional e gerando 48 mil empregos no País. Contudo, o setor de turismo náutico no País não é amplamente aproveitado como poderia. Apesar de ter capacidade para ter cruzeiros o ano inteiro, a exemplo de países da Europa e dos EUA, isso não acontece. Como mudar essa situação? O que pode ser feito?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Vamos reformular a política nacional de turismo, inclusive com foco em investimentos para ampliação e melhoria de nossa infraestrutura. Temos poucos portos para passageiros de cruzeiros no país, precisamos melhorar equipamentos e seguranças em marinas, e nossos entraves burocráticos atrapalham demais.

“Temos poucos portos para passageiros de cruzeiros no país, precisamos melhorar equipamentos e seguranças em marinas, e nossos entraves burocráticos atrapalham demais”

Não por acaso, no ranking global de competitividade em viagens e turismo do Fórum Econômico Mundial (WEF), o Brasil perdeu 21 posições entre 2015 e 2021, e despencou da 28ª. para a 49ª. colocação. Esse índice retrata a capacidade de os países atraírem investimentos, turismo, talentos, a força e os esforços da diplomacia, das exportações, e demonstra a direção atual, em sentido contrário ao que deveria ser. No índice relativo à infraestrutura para a atividade turística do WEF, por exemplo, o país perdeu 20 posições entre 2017 e 2021, e está atualmente em sexagésimo, de um total de 120 países.

M&E – Os eventos são multiplicadores e desenvolvedores turísticos, ajudam a reduzir a sazonalidade e criam uma imagem positiva da cidade-sede. Como o senhor pretende/pode incentivar ou criar vias de patrocínio para que feiras comerciais e congressos sejam cada vez mais indutores de crescimento e geradores de empregos e renda?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – O setor de eventos foi um dos mais impactados pela pandemia, e ainda sofre. Não há qualquer política, no atual governo, para fortalecimento do setor no país, nem eventos profissionais nem manifestações culturais. Durante os mandatos anteriores do presidente Lula, o Brasil passou de 21º a 7º lugar no ranking ICCA (International Congress and Convention Association), passando de 62 eventos internacionais anuais em 2002 para 207. Atualmente, o país está em 27º lugar, 20 posições abaixo do que já ocupou.

“Será necessário reconstruir toda a rede de incentivo a eventos, facilitar e fomentar acesso a linhas de crédito para os empreendedores do setor, além de recuperar talentos que migraram a outros setores”

Vamos retomar a parceria que construímos com os Convention and Visitor Bureaux de todo o país, para captação e promoção de eventos, vamos estimular os setores que ainda podem gerar novas feiras para o país, com um olhar para as regiões que ainda não estão inseridas neste segmento, retomando nossa política de investimentos na infraestrutura necessária para tanto. Será necessário reconstruir toda a rede de incentivo a eventos, facilitar e fomentar acesso a linhas de crédito para os empreendedores do setor, de organizadores a centros de eventos, além de recuperar talentos que migraram a outros setores e, principalmente, possibilitar inovação e sustentabilidade na realização de eventos no país.

M&E – O Turismo brasileiro, além de carecer de mão de obra, precisa de políticas de incentivo para fomentar, principalmente, o lado sustentável e a economia criativa. É preciso uma revisão completa e um ajuste tributário para aumentar a competitividade do país perante a outros destinos turísticos, inclusive aqui na América do Sul, além de uma maior segurança jurídica e linhas de crédito desburocratizadas que atendam aos anseios do setor. Caso seja eleito, quais políticas de incentivo pretende criar para garantir ao setor justamente a segurança necessária para se desenvolver?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Foi na feira da ABAV, em 2002, também em Recife, que assumimos publicamente o compromisso de criar um ministério exclusivo para o turismo. Vamos fazer mais e melhor nos próximos quatro anos. Nossas diretrizes para os próximos quatro anos estão fundamentadas nas pessoas, no desenvolvimento sustentável e na inovação. Resumimos aqui as 13 ações estratégicas:

1. Construir uma nova política nacional de turismo centrada no desenvolvimento das pessoas e do país, a partir da modernização da legislação vigente e da organização de um novo Plano Nacional de Turismo Sustentável, alinhado à Agenda 2030 e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, assentado em mecanismos de gestão inteligente, dados confiáveis e conectado com as boas práticas em turismo no mundo.

2. Redesenhar o planejamento turístico para o curto, médio e longo prazos, restabelecendo as prioridades a partir dos desafios da década e incorporando a flexibilidade que mecanismos institucionais precisam para acompanhar as constantes transformações do turismo e das viagens no mundo.

3. Ampliar oportunidades de qualificação profissional, trabalho e renda para milhões de brasileiros, de todas as origens, cores, credos e orientações, observando a igualdade de gêneros. Promover o empreendedorismo e a empregabilidade a partir da capacitação e da qualificação contínua de talentos, nas áreas prioritárias para a reconstrução do turismo brasileiro e a partir do conhecimento desenvolvido em centros de pesquisas, organizações científicas, instituições de ensino técnico e superior e de representação de classe e organizações, públicas e privadas, em âmbitos científico, técnico, empreendedor e artístico.

4. Promover inovação a partir da valorização do conhecimento, das práticas de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, com foco na recuperação da competitividade e na transformação digital do turismo brasileiro. Parcerias público-privadas e aproximação de políticas públicas e de negócios do turismo a hubs de pesquisa e inovação, como parques tecnológicos e centros de pesquisa, para integração de saberes e de tecnologias rumo à inovação em todas as frentes.

5. Articular um orçamento capaz de atender aos principais programas estruturados no plano de desenvolvimento turístico.

6. Melhorar e expandir a infraestrutura e os equipamentos que viabilizem a acessibilidade e a conectividade no país.

7. Desenvolver mecanismos para gestão pública pautados em dados confiáveis e informações coletadas por meio de tecnologias como big data e inteligência artificial, para constante monitoramento da atividade e apoio às decisões qualificadas em políticas públicas, inclusive para promoção internacional.

8. Criar políticas, incentivos e investimentos em planos de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas, buscando reduzir riscos e otimizar oportunidades na transição rumo à economia de carbono neutro, como aprimorar mecanismos de crédito de carbono e engajar o turismo brasileiro nos compromissos internacionais assumidos, como o Acordo de Paris.

9. Fomentar e facilitar acesso a linhas de crédito e microcrédito para empreendedores de transporte, hospitalidade, gastronomia, eventos, operadores, distribuidores e demais setores ligados ao turismo de todos os portes no país, especialmente aos MEIs e às micro e pequenas empresas.

10. Recuperar a competitividade do turismo brasileiro mediante atuais padrões internacionais, colocando o país em posições de destino líder na América Latina, entre os maiores receptores de eventos internacionais e resgatar a liderança mundial nas áreas de patrimônio histórico, cultural e natural.

11. Reestruturar o Ministério do Turismo, atualizando e organizando sua gestão para que possa cumprir com as atribuições de coordenar a nova política nacional do setor, fazer as articulações necessárias e facilitar a implantação do Plano Nacional de Turismo Sustentável.

12. Fortalecer a Embratur, organizar novo plano internacional de marketing e restabelecer o uso de uma Marca Brasil para o turismo, baseada em estudos aprofundados e campanha de recall com os grupos de interesse no produto turístico brasileiro e, com isso, estabelecer relacionamento com os principais operadores de turismo, companhias aéreas e jornalistas e comunicadores de cada mercado.

13. Recuperar o protagonismo de instituições que representam a sociedade civil organizada, como o Conselho Nacional de Turismo, e agentes políticos, como o Fornatur, para o reposicionamento do turismo nacional.

M&E – Por fim, qual o recado o senhor (a) gostaria de deixar para todos os profissionais que trabalham na área do Turismo?

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Vamos voltar a sorrir e vamos voltar a ser felizes. Não há turismo com mau humor, violência, fome e desmatamento. O turismo voltará à cesta de consumo dos brasileiros e brasileiras. Turismo se faz de gente feliz para gente feliz: vamos voltar a viajar, a conhecer cada canto desse país. Chega de andar para trás, nós temos pressa de superar esta crise imensa em que estamos.

“Chega de andar para trás, nós temos pressa de superar esta crise imensa em que estamos. Turismo será, novamente, prioridade no governo Lula”

Turismo será, novamente, prioridade no governo Lula. Criamos o Ministério do Turismo, o Conselho Nacional de Turismo, fizemos o primeiro Plano Nacional de Turismo, o primeiro Plano de Marketing Internacional de Turismo do Brasil. Retomaremos a gestão profissional do turismo neste país.

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