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O futuro do turismo no mundo pós-moderno

O futuro do turismo no mundo pós-moderno

A boa notícia é que viajar entrou nos hábitos da sociedade como um bem de consumo necessário, sendo, em algumas faixas etárias, o maior desejo de consumo que as pessoas têm. Não tem sucesso melhor para uma atividade econômica do que quando o próprio consumidor decide colocar sua atividade no topo da lista de compra sem ter sido induzido. Comportamentos de consumo induzidos pela publicidade, por exemplo, têm uma duração menor, pois precisam ser constantemente estimulados. Consumos gerados pela mudança de desejo de uma sociedade viram uma forma de ser permanente e duradoura. Em matéria de comunicação, por exemplo, não é mais tão importante estimular o conceito de viajar, mas podemos logo comunicar “para onde” viajar, pois o primeiro elemento é implícito.

Pois bem, agora que sabemos que as pessoas querem viajar, é necessário desenhar um modelo de turismo que corresponda ao sonho que os viajantes têm. Para isso, precisamos entender qual o futuro da viagem para elaborar um contexto de máxima satisfação dos viajantes. Essa estrutura turística vai ser a chave do sucesso ou fracasso de um destino ou produto turístico. Temos que estar muito atentos sobre o fato de que mais pessoas querem viajar, mas o modelo mudou radicalmente e muito rapidamente, dificultando a organização do serviço oferecido.

Os destinos

A infraestrutura turística propriamente dita, com seus pontos de informações turísticos e placas em vários idiomas, sinalizando cada local da cidade, não é mais tão importante. Devem existir, mas não predominar no panorama estético da cidade a tal ponto de descaracterizá-la. É preciso manter o foco na originalidade do destino turístico para poder oferecer uma experiência original. Os destinos turísticos “construídos” para turistas estão todos em queda de público, pois o lado artificial não consegue alcançar o sonho do viajante, composto principalmente de imprevistos. O imprevisível encontra-se na autenticidade e não no excesso de organização.

Como entender o viajante?

Estamos acostumados a uma análise do viajante de forma demográfica, a ver dados como: quanto ele gasta, qual é a idade dele, aonde ele vai, quantos filhos ele tem. O big data está evoluindo e incluindo outras informações predominantes, tais como: desejos de consumo, marcas de produtos e roupas, gostos musicais e alimentares, esportes preferidos, e assim por diante.

Essa forma de analisar cria grupos de consumidores chamados de “tribos”, pois eles definem suas viagens pelos gostos pessoais e não pelo poder aquisitivo ou faixa etária. Essa análise reforça a necessidade de expressar a experiência que um destino turístico oferece, pois a captação de viajantes por tribo é bem mais complicada e abrangente. Essa dificuldade se deve ao fato deles não estarem geograficamente localizados da mesma forma. Vou dar um exemplo: se procuro captar público de famílias, basta escolher um prédio de vinte andares com uma área de lazer destinada a crianças e colocar uma publicidade no correio de cada morador. Mas quando procuro um público que gosta de Fórmula 1 e mora em São Paulo, fica bem mais complicado identificá-lo. Nesse quesito, as redes sociais nos ajudam muito.

Viagem corporativa ou viagem de lazer?

Nasce um novo termo chamado bleisure. Uma mistura de trabalho e lazer que não é nada mais que a formalização do senso de culpa que as pessoas tinham quando viajavam a trabalho e se divertiam muito discretamente. Hoje o mercado corporativo passa por uma transformação necessária de inserir o prazer na viagem para transformá-la em um momento agradável. Hotéis de cidade abrem academias, spas e outros serviços destinados a completar a estada dos hóspedes. Os guias de turismo oferecem visitas rápidas às cidades ou a museus destinados a viajantes que não vieram especificamente para isso, mas desejam aproveitar as poucas horas da presença no destino para conhecer algo diferente. Uma viagem é, acima de tudo, uma experiência cultural; quanto mais rica for, maior o sucesso será para o destino.

Viajante e não turista

Ao longo do tempo, o termo “turista” adquiriu um significado ultrapassado, ele simboliza a transição do mundo moderno para o pós-moderno. No primeiro cenário, identificávamos os turistas como um bando de pessoas subindo e descendo de ônibus, seguindo um guia com uma bandeirinha por um circuito preestabelecido. Ser turista era um estado de ser paralelo à sua personalidade natural, pois se encarnava um verdadeiro papel, até estético, utilizando objetos diferentes do nosso dia a dia.

Uma viagem é, acima de tudo, uma experiência cultural; quanto mais rica for, maior o sucesso será para o destino

No mundo pós-moderno, a viagem nada mais é que a extensão da nossa vida em outro lugar. A viagem está perfeitamente conectada ao meu ritmo de vida, deixando-a fluir de forma natural e muito menos programada. É querer ser mais um nativo do lugar e não uma pessoa distinta que veio visitar a cidade. Essa distinção nos leva a transformar o nome, de turista para viajante, pois, do ponto de vista de quem recebe essa mudança de terminologia, muda completamente a forma de receber e ser hospitaleiro.

Os conceitos de hospitalidade e de hóspede devem sua origem ao fato de acolher viajantes em busca de abrigo. Era dever do anfitrião providenciar o máximo de conforto e bem-estar para o viajante como gesto de boas-vindas. É de extrema relevância restabelecer o relacionamento de hóspede-viajante para poder aplicar a arte do bem receber, que se perdeu com o termo turista que massificou o conceito, deixando de lado a sensibilidade do atendimento necessário.

Viajar para contar

Antes a gente viajava para descansar, procurávamos um lugar tranquilo; hoje a gente viaja para contar sobre a nossa viagem. A nossa viagem é fundamental. Quem não gosta de convidar os amigos para conversar sobre a última viagem? Aliás, se você não viajou, está sem assunto dentro do seu círculo social. Hoje queremos viajar para nos relacionar, conhecer lugares, mas, principalmente, para conhecer pessoas: queremos fazer amizades durante a viagem.

Economias compartilhadas

Serviços turísticos compartilhados, como a sharing economy, crescem e é preciso se acostumar: eles vieram para revolucionar o segmento de viagens e não para ser mais um. Então, como conviver com isso, talvez seja um dos assuntos mais importantes a serem debatidos, pois vem causando grande impacto na cadeia produtiva da indústria do turismo. Com financiamentos milionários de fundo de investimentos, fazer turismo deixou de ser um negócio limitado a empresas especializadas para entrar definitivamente no mundo das finanças. Essa visão vai revolucionar o modo de fazer turismo? Talvez menos glamour e mais rentabilidade?

O verdadeiro luxo

Luxo exibido ou luxo sensível? Luxo não é mais ter uma Montblanc, não é ter um Rolex, não é ter uma bolsa Chanel. Não é proibido ter, não é ruim ter, mas não é preciso ter para exibição. O luxo de verdade, hoje, é o sensível. Hoje é possível encontrar uma Veuve Clicquot em qualquer duty-free de aeroporto e, agora, uma pessoa ter uma champanhe de edição limitada, sabendo de onde vem, e poder falar a respeito dela é o verdadeiro luxo. Ter um relógio mecânico e saber que foi feito por aquele artesão é, hoje, o verdadeiro luxo. Como aplicar o luxo no turismo, vai ser um desafio!

Turismo na dose certa

O turista faz a cidade e a cidade faz o turista. Cidades extremamente turísticas, atualmente, estão perdendo o fluxo de turistas, a exemplo de Roma, que é uma cidade onde o viajante quase não encontra um restaurante que tem um cardápio em italiano. Ele vai ao centro da cidade e tem cardápios em chinês, japonês, russo, em todos os idiomas possíveis, menos em italiano. A cidade virou tão turística que não há mais moradores na cidade, não há mais italianos que residem no centro de Roma, e ainda menos romanos de verdade. Exemplos como esse mostram cidades que se tornaram totalmente turís- ticas, perdendo sua identidade.

Serviços turísticos compartilhados, como a sharing economy, crescem e é preciso se acostumar: eles vieram para revolucionar o segmento de viagens e não para ser mais um.

No Brasil, precisamos repensar o turismo de forma mais atual, que nos aproxime das experiências dos viajantes e nos permita definir uma estratégia que dure pelos próximos quinze ou vinte anos. Temos todos os elementos necessários para um turismo da pós-modernidade. Esse nosso atraso é a vantagem que nos faz evitar ter que desmontar as rígidas estruturas turísticas criadas em outros países. O turismo no Brasil é um terreno fértil, mas temos que ser rápidos, pois a concorrência vem a todo vapor!

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