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Capítulo 11, lição 1: o que o sucesso da Latam pode prever sobre a reviravolta e futuro da Gol?

Latam e Gol Aeroporto Congonhas Foto Eric Ribeiro Capítulo 11, lição 1: o que o sucesso da Latam pode prever sobre a reviravolta e futuro da Gol?

Recuperada e líder de mercado, a Latam se tornou exemplo de turnaround no setor aéreo. Agora é a vez da Gol tentar decolar (Eric Ribeiro)

Em junho de 2025, a Gol Linhas Aéreas deve concluir seu processo de reestruturação financeira sob o regime do Chapter 11 nos Estados Unidos. A movimentação, que marca uma nova fase para a companhia, inevitavelmente convida a comparações com um precedente relevante no setor aéreo latino-americano: o processo da Latam Airlines, que enfrentou o mesmo desafio e saiu fortalecida.

A Latam concluiu sua reestruturação no dia 3 de novembro de 2022, após dois anos sob proteção judicial. Desde então, retomou sua liderança no mercado brasileiro e se consolidou como o maior grupo aéreo da América Latina, com presença sólida em rotas internacionais e liderança em diversos hubs regionais. Agora, a Gol mira trajetória semelhante – e as semelhanças entre os dois processos sugerem que o caminho, embora desafiador, pode ser promissor.

Estrutura semelhante, metas ambiciosas

Ambas as companhias recorreram ao Chapter 11 para reorganizar dívidas, atrair novos investimentos e preservar suas operações durante crises agudas: a Latam, duramente impactada pela pandemia de Covid-19, e a Gol, pressionada por dívidas acumuladas e dificuldades no mercado cambial.

A Latam obteve, durante o processo, US$ 8 bilhões em compromissos de financiamento, reduziu seu endividamento em 35% e saiu do Chapter 11 com uma estrutura de capital mais enxuta e eficiente. Já a Gol caminha para um desfecho semelhante: garantiu US$ 1 bilhão em financiamento emergencial DIP, captou mais US$ 1,9 bilhão em financiamento de saída com prazos de cinco anos e deverá converter até US$ 1,6 bilhão em dívidas em capital, reduzindo drasticamente sua alavancagem.

Enquanto isso, ambas mantiveram suas operações normalmente. Durante o Chapter 11, a Gol garantiu continuidade total de voos, programas como o Smiles e compromissos com fornecedores e funcionários, assim como a Latam fez entre 2020 e 2022.

O pós-Chapter: expansão, modernização e liderança

A experiência da Latam mostra que o sucesso após o Chapter 11 depende não apenas de equilíbrio financeiro, mas também de estratégia operacional ousada. Após sair do processo, a empresa acelerou a modernização da frota, consolidou alianças internacionais e fortaleceu sua malha regional, aproveitando a recuperação da demanda.

A Gol já dá sinais de que trilhará caminho parecido. A companhia planeja operar 167 aeronaves Boeing 737 até 2029, sendo que cinco novos 737 MAX serão incorporados ainda em 2025. Além disso, a empresa retomará a operação em 65 destinos domésticos e 16 internacionais ainda este ano, sinalizando uma recuperação robusta da malha.

O plano também inclui aumento de capital entre R$ 5,34 bilhões e R$ 19,25 bilhões, e estimativas otimistas para 2025: receita líquida de até R$ 22,7 bilhões e EBITDA de até R$ 5,9 bilhões. Números que, se confirmados, posicionam a Gol com fôlego renovado para disputar espaço em um mercado cada vez mais competitivo.

E o mercado, como reage?

A resposta do mercado à reestruturação da Gol tem sido positiva. Desde o anúncio da aprovação do plano pelo Tribunal de Nova York, as ações da companhia valorizaram, refletindo a confiança dos investidores na nova fase. Situação semelhante ocorreu com a Latam após sua saída do Chapter 11, quando o grupo retomou a confiança de clientes, parceiros e analistas.

Ainda assim, o cenário impõe desafios. A Gol precisará lidar com a concorrência de uma Latam já estabelecida e com uma Azul que, embora ainda enfrente dificuldades financeiras, é a única das três grandes brasileiras que não entrou em recuperação judicial. As negociações de fusão entre Gol e Azul seguem em curso via holding Abra, o que poderia reconfigurar o setor aéreo nacional.

O que esperar da Gol pós-Chapter?

Se o caminho trilhado pela Latam servir de guia, a Gol deve sair do Chapter 11 com maior capacidade de investimento, eficiência operacional e competitividade. O fortalecimento da malha, o foco na experiência do passageiro (com melhorias como internet a bordo e mais conforto) e a expansão das parcerias internacionais indicam uma empresa mirando o topo novamente.

O sucesso da empreitada dependerá, em grande parte, da execução disciplinada da estratégia. Como mostrou a experiência da Latam, sair do Chapter 11 é apenas o começo: o verdadeiro desafio está na construção de uma nova Gol, mais resiliente, inovadora e preparada para liderar os céus da América Latina.

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