Na última sexta-feira (13), uma greve de pilotos, tripulantes de aviação e equipe de apoio da companhia aérea Aerolíneas Argentinas exigindo aumentos salariais, resultou no cancelamento de 319 voos domésticos e internacionais, afetando mais de 37 mil passageiros, inclusive milhares de brasileiros.
Esta greve vai de encontro com uma decisão da própria Aerolíneas Argentinas. Na última terça-feira (10) foi anunciado que os assentos na Classe Executiva para seus pilotos e suas famílias não serão mais disponibilizados gratuitamente. Esta decisão, que só foi comunicada na sexta-feira (13) implica em um rebaixamento da categoria dos assentos, o que provocou descontentamento na APLA, de acordo com o Aviacionline.
A greve vai além da reivindicação por aumento salarial. É também contra a privatização da companhia. Porém, o próprio presidente, Fabián Lombardo, disse que administra a empresa com o objetivo de privatizá-la.
O presidente Javier Milei tentou privatizar a Aerolíneas Argentinas como parte de suas amplas reformas econômicas, mas foi forçado a remover a companhia da lista de empresas a serem privatizadas para aprovar suas medidas no Congresso no início deste ano.
GREVES
A paralisação dos trabalhadores na sexta-feira foi a segunda neste mês. De acordo com comunicado da Associação Argentina de Pilotos de Linha Aérea (APLA) na rede social X, enfrenta “um atraso salarial de 70% diante de uma inflação anual de 236,7% em agosto. O jornal La Nación informou que os sindicatos exigem um reajuste de pelo menos 25%. Já o governo argentino expõe que as exigências passam por manter benefícios que nenhuma outra companhia concede.
Mais de 37 mil pessoas afetadas
Todos os voos da Aerolíneas Argentinas que partem do Aeroparque Jorge Newbery, na Cidade de Buenos Aires, e do aeroporto internacional de Ezeiza, nos arredores da capital, foram afetados, refletindo também nas companhias aéreas Flybondi e Jetsmart, devido à interrupção do serviço de rampa no Aeroparque. As companhias aéreas de baixo custo mudaram seus serviços para Ezeiza naquele dia para evitar problemas.
“Do total de pessoas afetadas, cerca de 28 mil tinham viagens planejadas dentro do país, outras 5.500 para destinos regionais e os 3.500 restantes voos para o Caribe, Estados Unidos e Europa”, disse a companhia aérea.
Em fevereiro, mais de 300 voos foram cancelados devido a outra greve aérea na Argentina, que afetou pelo menos 24 mil passageiros. Desde então, os sindicatos têm procurado corrigir a disparidade salarial que representa uma diferença de 70% em relação à inflação registrada, que em agosto foi de 4,2% e atingiu 236,7% em relação ao ano anterior, segundo os últimos dados oficiais.
O secretário-geral da Associação do Pessoal Aeronáutico (APA), Juan Pablo Brey, disse à estação de rádio Urbana Play na sexta-feira que desde que Javier Milei assumiu o cargo em dezembro, o poder de compra do pessoal aeronáutico caiu 40%.
“Temos tripulantes de cabine que ganham 729 mil pesos (R$ 4.155 no câmbio oficial) e colegas que ganham 500.000 pesos (R$ 2.850), quando em companhias de baixo custo ganham o dobro”, disse ele.
Já o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, denunciou que os pilotos ganham entre US$ 10 e 20 mil (entre R$55 e 110 mil) e que todos os benefícios, como passagens grátis em primeira classe para toda a família, custam US$ 20 milhões anuais ao Estado.
Na própria sexta-feira, Javier Milei assinou um decreto “estabelecendo as diretrizes para declarar a aeronáutica civil e comercial um serviço essencial”, o que garante pelo menos uma porcentagem do serviço mesmo durante uma greve.