*Este texto foi atualizado após a publicação para inserção de novos posicionamentos

Felipe Neto, Virgínia Fonseca, Luísa Sonza… O que todos têm em comum? Além da fama, todos estão ligados ao Perse (Fotos: Divulgação-CriaG20/Espaço Unimed-Pam Martins/SBT-Rogerio Pallata. Arte: Patrick Peixoto-M&E)
Criado em 2021 pelo Congresso Nacional, o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE) tinha como objetivo oferecer um alívio econômico essencial para empresas diretamente afetadas pela pandemia de Covid-19, como eventos e alimentação fora do lar. Contudo, a aplicação desse benefício tem gerado indignação em diferentes setores devido à destinação controversa de seus recursos.
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Recentemente, veio à tona, após uma publicação feita na tarde desta segunda-feira (18) pelo perfil @dipietra no X, que a empresa (sob o CNPJ 39468922000163) associada à influenciadora Virginia Fonseca, teria recebido cerca de R$ 4,5 milhões em benefícios fiscais do programa.
Com uma presença marcante nas redes sociais, com mais de 50 milhões de seguidores somente no Instagram, onde exibe sua rotina repleta de luxos, incluindo mansões e bolsas de valores exorbitantes, a revelação causou revolta entre internautas e empresários que questionam como empresas com recursos expressivos e alta visibilidade têm se beneficiado de um programa que deveria atender quem foi duramente atingido pela pandemia.
A empresa de Felipe Neto (Play9) também recebeu mais de R$ 14 milhões em isenções fiscais do governo via programa Perse, assim como a SG11, da Luisa Sonza recebeu R$560 mil.

A Play9, empresa do Felipe Neto também consta ter recebido 14 milhões em benefícios fiscais do Perse até agosto de 2024 (reprodução/X)
Em paralelo, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também manifestou recentemente profunda indignação ao saber que o iFood, uma das gigantes do setor de delivery, obteve decisão judicial para manter os benefícios do Perse. A entidade considera “inaceitável e imoral” que uma empresa que prosperou durante a pandemia, registrando lucros substanciais enquanto bares e restaurantes enfrentavam severas dificuldades, receba os mesmos incentivos que pequenos e médios negócios que ainda lutam para se reerguer.
Para a Abrasel, essa lógica distorce os objetivos do programa, cujo teto de R$ 15 bilhões deveria ser priorizado para empresas que enfrentaram fechamento compulsório e queda acentuada no faturamento. Segundo a associação, cerca de 40% dos bares e restaurantes ainda estão com pagamentos em atraso, com dificuldades para honrar dívidas e retomar a estabilidade. “É inconcebível que empresas como o iFood, que cresceram significativamente durante a crise, disputem recursos destinados àqueles que mais sofreram”, pontua a entidade.
Em nota enviada ao trade em setembro, a Abrasel reforçou ainda seu apelo para que grandes beneficiários reconsiderassem suas posições e direcionassem os recursos a quem realmente precisa, transformando um gesto legal em um ato de responsabilidade social.
Os casos de Virginia Fonseca, Felipe Neto e do iFood levantam um debate crucial sobre a destinação de recursos públicos. Para empresários do setor de eventos e alimentação, a concessão de benefícios a grandes nomes ou plataformas que prosperaram durante a pandemia enfraquece a recuperação de quem realmente necessita.
O M&E procurou as assessorias dos influenciadores para maiores esclarecimentos. Até o momento da publicação, nenhum dos influenciadores ou suas equipes haviam se posicionado. Contudo, pouco tempo depois a Play9 se pronunciou sobre o assunto e enviou uma nota ao M&E, que você pode conferir aqui.
Ifood se posiciona
Já o Ifood enviou a seguinte nota ao jornal:
“O Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) foi criado para apoiar empresas ligadas direta ou indiretamente ao setor de eventos, incluindo bares e restaurantes. A atividade de intermediação, feita por plataformas como o iFood, também foi incluída no escopo do programa.
Durante a pandemia, o iFood implementou diversas atividades para apoiar o setor, em sua maior parte composto por pequenas e médias empresas. Foram destinados R$ 254 milhões para um fundo de assistência a restaurantes parceiros, que viabilizou uma redução de 25% nos valores cobrados na taxa de comissão, garantindo maior lucro por pedido aos estabelecimentos. A empresa também adiantou repasses e zerou a taxa cobrada dos estabelecimentos quando o pedido era retirado diretamente pelo consumidor (R$ 10,4 milhões em redução da taxa do serviço “para retirar” para os parceiros). Para os entregadores foram destinados mais de R$ 164 milhões a Fundos de Proteção, além da distribuição de equipamentos e kits de máscara e álcool em gel, incremento das gorjetas (R$ 6 milhões repassados para os entregadores) e custeio de seguros (R$ 915 mil).
É importante mencionar que o iFood encerrou o triênio de 2020, 2021 e 2022 com prejuízo de aproximadamente R$ 2 bilhões”, diz nota enviada ao M&E.