Crie um atalho do M&E no seu aparelho!
Toque e selecione Adicionar à tela de início.

Opinião

OPINIÃO – O terror, desta vez na forma de vírus

Gervásio Tanabe, presidente-executivo da Abracorp

Gervásio Tanabe, presidente-executivo da Abracorp

O presidente-executivo da Abracorp, Gervásio Tanabe, já atuava no Turismo em 2001, quando naquele dia 11 de setembro, o mundo do Turismo teve um grande baque. Na época trabalhando na Varig, ele conta que a perplexidade inicial foi muito parecida com a que vivemos agora, com o Covid19. Lições de como enfrentar a crise, bem como uma mensagem otimista para o futuro são abordados por Tanabe no artigo abaixo publicado com exclusividade pelo MERCADO & EVENTOS:

O TERROR, DESSA VEZ, NA FORMA DE VÍRUS

Por Gervásio Tanabe*

Eu estava trabalhando no escritório da Varig, na Rua da Consolação, naquela manhã de 11 de setembro de 2001. De repente, uma colega entrou, apavorada, na sala e me disse pra ligar a televisão. Sim, eu disse televisão, não acessar o whatsapp, até porque não existia. Ficamos boquiabertos vendo na tela da TV, a fumaça negra sendo expelida de uma das torres gêmeas do World Trade Center, em New York.

Atônitos e assustados, olhávamos um para a cara do outro com uma grande interrogação. Não tínhamos idéia do que se tratava aquilo. Até então, um inacreditável acidente de avião. Mas de repente, ao vivo, um outro avião batendo na outra torre. E aos poucos íamos sendo surpreendidos com notícias de que mais 2 aeronaves tinham sido lançadas sobre edificações nos Estados Unidos.

Pânico geral no setor. Ligações não paravam, até porque a Varig voava, naquela época, para New York, Miami e Los Angeles. Não existia a internet na velocidade de hoje, e como comentei, nem o whatsap ppara , em segundos, espalhar tudo para todo o globo terrestre.

Mas o espaço aéreo norte americano já estava bloqueado. Todos os aviões foram forçados a descer e logo depois, nenhum avião entrava ou saía dos Estados Unidos. Começava ali uma crise, até então, sem precedentes na história da aviação e, como consequência, como hoje, reflexo direto no setor de viagens como um todo, mas tendo como epicentro, apenas os Estados Unidos. Notícias da época, pós 11 de setembro, dão conte de que o setor de aviação perdeu cerca de US$ 11 bilhões. Negócios e eventos foram interrompidos no mundo todo, naqueles dias e talvez semanas.

De um jeito ou outro, o setor se adaptou e alterou sua agenda, mudou roteiros, evitando os Estados Unidos, com medo do terrorismo.

De um jeito ou outro, o setor se adaptou e alterou sua agenda, mudou roteiros, evitando os Estados Unidos, com medo do terrorismo. O tráfego entre o Brasil e a Europa, Oriente Médio ou Ásia manteve-se normal e movimento dentro do Brasil não sofreu qualquer ruptura. Enfim, a vida seguiu, inclusive dentro dos Estados Unidos. Lojas não fecharam, as escolas não fecharam, shoppings não fecharam, as fronteiras não se fecharam. As pessoas podiam se reunir, conversar, cumprimentar com um beijo ou aperto de mãos. Não aconteceu o isolamento.

E aí chegamos aos dias atuais, especificamente em dezembro 2019, quando a China anuncia o surgimento de um vírus letal, chamado COVID19. Imediatamente o efeito de uma nova bomba, desta vez invisível ao olho humano. Conclusão, cidades em quarentena e, rapidamente, o país e continentes em quarentena. Ninguém voa, ninguém sai de casa. Mas a bomba já havia se espalhado e voava para o mundo todo.

E vemos agora, em março 2020, o efeito dessa bomba. O mesmo pânico, só que ampliado exponencialmente. Não atingiu somente um país, atingiu continentes inteiros, atingiu o globo. Fechamento de fronteiras em várias partes do mundo. Frotas inteiras de aviões e navios paradas, hotéis e centros de eventos fechados. Para piorar, aglomerações proibidas no mundo todo, comércio afetado, shows afetados, tudo, literalmente tudo, até uma festa de aniversário, de casamento, proibidos.

Passados esses 18 anos, o que podemos concluir da similaridade entre as 2 ocorrências é sobre a fragilidade humana, o pavor que toma conta das pessoas e das organizações, levando todos ao desespero. Que não tem rico ou pobre. E que nunca estamos preparados para o inusitado.

O mais grave? As vítimas, claro. O 11 de setembro fez cerca de 3.000 vítimas fatais, até agora, o covid19 matou mais de 8.000 pessoas no mundo todo. Mas essa crise pode e terá efeitos colaterais intensos, matando, além de pessoas, as empresas, causando um gravíssimo problema social e econômico pela falta de empregos.

Essa crise pode e terá efeitos colaterais intensos, matando, além de pessoas, as empresas, causando um gravíssimo problema social e econômico pela falta de empregos

O que é diferente? A velocidade das informações. Até que isso é positivo, mas muitas delas, fakenews, que prejudicaram e continuam a prejudicar todo mundo. Isso leva-nos a concluir que o Covid19 é muito pior que o 11 de setembro, exatamente porque contamina todos e provocará um tempo muito maior de exposição da crise. Um verdadeiro tsunami cuja onda invadiu a China, cobrindo rapidamente toda a Ásia, depois seguiu pra Europa e agora invade as Américas. Assim, tal como o efeito do tsunami, enquanto já temos notícias de que a Ásia começou a reconstrução da região, aqui nas Américas estamos fechando as fronteiras. Enquanto lá aviões começam a voar, aqui os aeroportos estão fechados, praticamente. Vá ao Netflix e você achara uma dezena de filmes produzidos há 10, 15 anos atrás. Sua conclusão será que a vida imita a arte. Todos eles terminam, porém, com a esperança de um recomeço.

Se em 2001 a única ameaça em aeroportos, hotéis, espaços públicos era em relação a uma eventual bomba escondida numa mala ou no banheiro, em 2020, a ameaça é aquilo que mais demonstraria a força econômica, aglomeração e movimento de pessoas. Todos os espaços com gente é um convite à propagação do Covid19. Logo, uma bomba invisível, de efeito retardado e que pode matar ainda de maneira seletiva, pessoas que estejam com imunidade baixa são as vítimas mais frequentes. Idade é risco, sim, mas a pessoa que está com boa saúde e à plenos pulmões, não deverá ser afetada, prova disso é a senhora chinesa com mais de 100 anos que foi infectada e se curou.

E o futuro? Comparando-se os dois momentos, pós 11 de setembro e pós covid19, o efeito atual é catastrófico. Os prejuízos são incalculáveis.

O que é certo. Se em 2001 uma nova realidade de segurança foi estabelecida, agora uma nova ordem econômica será estabelecida, após o choque da Covid19. Uma nova realidade em todos os aspectos, indo do social ao econômico. Primeiro que não existem tribos, minorias ou maiorias, todos são iguais, literalmente, perante Deus ou perante à crise. Compartilhar, verbo sinônimo de disrupção até dezembro de 2019 virou sinônimo de propagação de doença no mês seguinte. Você acreditaria que isso poderia acontecer? Empresas bilionárias vão se transformar em milionárias e outras poderão até desaparecer na mesma velocidade que surgiram. Como consequência, as relações de negócios seguirão uma lucidez mais lógica. A pressão que existe hoje nas relações de negócios, terá uma trava natural, a dura realidade econômica, onde todos terão se ajudar mais e serem mais compreensivos.

Voltando a nova ordem econômica, o mundo pós Covid19 será mais tecnológico do que nunca, as APPs irão se propagar de maneira exponencial na solução da mobilidade. Mas por outro lado conhecimento e a experiência serão o diferencial. Parte dos efeitos da Covid19 deve-se ao excesso de informação que o público tem acesso, de forma indiscriminada e algumas delas falsas, para piorar, como já comentei. O setor de viagens é, sem dúvida, uma das maiores vítimas dessa catástrofe. Todo o ecossistema está sendo impactado, aviação, hotelaria, locação, agencias de viagens e eventos, operadoras, equipamentos de reuniões. Mas uma certeza, tal como 2001, a crise vai passar, com um redesenho na gestão de negócios, na maneira de fazer negócios. O mercado renascerá para uma nova realidade, com uma consciência e entendimento maior sobre investimentos, resultados e emergências.

E com certeza, o aperto de mão voltará para celebrar novos negócios.

*Gervásio Tanabe é presidente-executivo da Abracorp

Receba nossas newsletters