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Destinos / Fotos

Reserva Indígena Pataxó da Jaqueira, em Porto Seguro, reabre para visitação

Folha da patioba utilizada como instrumento de comunicação

O uso de máscara é obrigatório para a visitação na aldeia.

PORTO SEGURO – Literalmente, o mote “Descubra sua tribo” de Porto Seguro cai como uma luva para aqueles que se aventurarem a descobrir, ou melhor, redescobrir o nosso passado ancestral, anterior à descoberta e posse da Terra Brasilis pelo homem branco.

O contato com a cultura indígena e imersão por algumas horas ou dias é uma experiência única em Porto Seguro, um dos destinos turísticos mais procurados do país. E justamente ali, e o melhor, a menos de 15 minutos do centro da cidade, está a Reserva Indígena Pataxó da Jaqueira.

No local, o visitante terá contato com o cacique e o pajé da tribo, com as tradições e a cultura de um dos povos mais antigos do Brasil. A entrada na aldeia somente é permitida com o uso de máscara, higienização das mãos com álcool em gel e manutenção de distanciamento social entre desconhecidos.

Os passeios (existem três opções, inclusive com pernoite @reservapataxodajaqueira @pataxoturismo) incluem caminhadas pela trilha da Lagoa Seca, imersão total na natureza, além da observação da biodiversidade da Mata Atlântica, de espécies raras de árvores nativas, como o pau-Brasil e Imbiriba, e de animais ameaçados de extinção.

Para Nayara – “Vida”, em patxohã – filha de uma das três líderes da aldeia, sim, na reserva a última palavra é delas, desde 1997 quando a reserva foi demarcada, o solo sagrado da Jaqueira tornou-se e hoje é “vida e o maior bem querer” desta comunidade formada por pouco mais de 110 indivíduos, entre adultos e crianças.

Na aldeia cortada pelo rio Itinga todos trabalham juntos, ajudando uns aos outros na construção de moradias, as quijemes, por exemplo, e demais espaços comuns, como o Aragwaksâ, espaço sagrado onde se realizam rituais, casamentos e batismos…

Os adultos confeccionam de peças de artesanato variado, que inclui toda sorte de utensílios de uso diário e decoração feitos de madeira e barro, além de cocares multicoloridos, lanças de caça, sarabatanas, arcos e flechas e muita, muita bijuteria elaborada com sementes das mais variadas espécies encontradas na mata.

Nos passeios guiados os visitantes são convidados a viver experiências diversas da cultura Pataxó, como a confecção de colares e brincos com sementes da terra ou peças em barro, sempre orientados por mulheres da aldeia. A inspiração para a realização das peças pode vir da própria natureza ou das que estão expostas no Museu Pataxó.

O acervo em exposição foi produzido quase em sua totalidade pelo artista Oiti Pataxó, que se refere ao espaço como Casa de Memória do Povo Pataxó. Entre outras informações, as peças detalham como se fosse uma Linha do Tempo a evolução da indumentária da etnia, desde a chegada do europeu.

NATUREZA – Há 24 anos, desde o estabelecimento da Reserva da Jaqueira – com 827 hectares de área e quase 100% de Mata Atlântica preservada – em Porto Seguro, Nayara e o cacique Syratã recordam e reforçam todos os dias o compromisso com a natureza e o meio ambiente, a cultura e as tradições de sua etnia.

“É isso o que queremos passar ao visitante. Para nós, índio e mata é um conjunto único que se completa. Um depende do outro para sobreviver”, assinala Nayara. No Sul da Bahia, incluindo os distritos de Arraial d’Ajuda, Trancoso e Caraíva existem 40 aldeias Pataxó com cerca de 20 mil índios, das quais somente seis delas estão demarcadas.

O cacique Syratã diariamente lidera o ritual de canto e dança realizado duas vezes ao dia para agradecer o “dia seguro e sem problemas para a aldeia” e, também aos visitantes “por estarem em nossa casa”. O rito acontece no espaço comunitário Aragwaksã.

O pajé Imburé, 73 anos, cuida da saúde de toda sua gente. Ele desde muito jovem já conhecia por intuição boa parte da flora medicinal encontrada na mata ao seu redor. Isso já demonstrava que nascera na condição de pajé.

“Cuido desde sempre da saúde física e espiritual de meu povo e passo o que posso dos meus conhecimentos da mata”, explica. Para ajudar o sustento da aldeia, o pajé Imburé lembra que muitas das ervas, raízes e sementes medicinais são colhidas e tratadas, algumas transformadas em chás e incensos, e embaladas para venda na mesma aldeia aos visitantes ou em feiras e praças de Porto Seguro.

Na escola primária da reserva todas as crianças em idade escolar estão matriculadas. As aulas, claro, são ministradas em português, mas também inclui no currículo o patxohã, a língua Pataxó. Boa parte dos filhos da reserva quando adultos e formados retornam à tribo para ajudar na sua manutenção e desenvolvimento.

Na reserva ainda se usa a folha da patioba para passar recados entre familiares e amigos. Na verdade, a folha da palmeira pode ser comparada ao celular de hoje, inclusive pela distância alcançada pelo som tribal emitido e os recados que cada um repassa.

Toda a aldeia Pataxó da Jaqueira com idade apta para receber a vacina contra a Covid-19 está imunizada, incluindo Taquara, a índia mais velha e primeira a receber o imunizante, com 102 anos. O uso de máscara já é habitual, bem como o distanciamento quando cerca de 600 visitantes ao longo do dia passam pela reserva.

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