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Aviação

“Primeiro desafio é fazer com que futuro não se resuma a 2020”, afirma CEO da Latam

Jerome Cadier

Jerome Cadier, CEO da Latam Airlines Brasil

Flexibilização do setor, corte de custos e queda de até 40% na demanda em relação ao pré-pandemia. Essa é análise do CEO da Latam Airlines Brasil, Jerome Cadier, sobre o futuro do setor aéreo após a turbulência provocada pela crise do coronavírus. Em entrevista ao jornal O Globo, o executivo analisou o desafio de prever o cenário dos próximos meses e a necessidade de mudanças em algumas regras do setor e de ajuda governamental para garantir a sobrevivência das companhias brasileiras a curto e a médio prazo.

“Ainda é desafiador falar sobre o que vai acontecer daqui a um ano, mas algumas coisas já estão claras. O primeiro desafio é não fazer com que o futuro da companhia se resuma a 2020. É equacionar o caixa, folha, fornecedores, etc. Mas depois vem uma segunda onda que também é forte e que vai deixar o setor muito diferente. Teremos menos passageiros e um excesso de capacidade empurrando os preços pra baixo”, destacou o executivo.

Tentando se adequar a esta realidade, a companhia reduziu em 95% sua malha para abril. Jerome explica que no momento de desenhar a malha para o mês, a Latam identificou que o número de passageiros representava uma malha 50 voos, muito menor que os 750 operados pela companhia mensalmente. Ele ressalta que, mesmo com este corte, voos seguem vazios, se resumindo a transporte de equipamentos e profissionais de saúde.

“Estamos queimando combustível. A minha malha hoje não paga o custo variável. Os únicos países em que estamos operando hoje são Chile e Brasil, atendendo a uma demanda dos governos. O ideal hoje seria parar de voar”, explica.

Em meio às dificuldades, o CEO da Latam reforça a necessidade de ajuda governamental para garantir a sobrevivência do setor, algo já exigido também pelo presidente da Azul, John Rodgerson. “Sem ajuda governamental a indústria não sobrevive. A depender de quanto tempo durar a crise, com demanda inexistente, as empresas chegarão em situação de insolvência absoluta. E aí vai precisar uma ajuda mais contundente. As empresas precisam ter acesso a crédito. E ele terá de vir de fundos públicos”, afirma.

Queda na demanda em 2021

Além do impacto imediato, Cadier também prevê uma forte redução entre 30% e 40% na demanda de passageiros para 2021, comparando com o período pré-pandemia. De acordo com ele, essa queda vai atingir tanto o segmento de lazer, quanto o corporativo.

Nesse cenário, ele ressalta os dilemas das companhias: impossibilidade de reduzir oferta na mesma proporção, devido ao excesso de aviões, e impossibilidade de recuperar margens aumentando o preço do bilhete, por conta da necessidade de ocupar aviões e tornar voos rentáveis. De acordo com o executivo, isso levará a uma necessidade de cortar em 25% os custos da operação.

“Temos dificuldade em reduzir oferta. Avião parado tem custo. E nesse ambiente, o custo de operação virou o fator número 1. Como eu terei me endividado para sobreviver à primeira onda, vou querer botar o avião para voar. Se a margem não for positiva no curto prazo, eu morro no médio prazo. Vai ser um cenário muito crítico. Quem não tiver custo baixo, não sobrevive. Talvez as empresas sobrevivam à primeira onda. Mas muitas podem desaparecer em 2021, 2022”, completa.

Flexibilidade

O executivo aponta que esta mudança drástica deve gerar também uma mudança também no modelo de negócio da aviação no Brasil, que passará tanto por uma flexibilização de regras. “Tem que mudar tudo: a maneira de remunerar o tripulante e contratar mão de obra, os contratos com os lessors (empresas de leasing de aviões) e com os fabricantes, que terão de ser mais flexíveis”, analisa. “No pós crise, a ineficiência vai ser inaceitável. Vai ser uma oportunidade para Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Congresso e sindicatos sentarem juntos para desenhar uma aviação que fique em pé”, completa.

Essa flexibilização deve atingir às relações entre companhia e passageiro, de acordo com Cadier. “O passageiro que estiver voando daqui a um ano, vai estar preocupado com a higienização a bordo. O bilhete também vai ter que ficar mais flexível. Se eu não tiver como alterar o bilhete, não compro. Vamos ter que caminhar na direção de mais flexibilidade. E o setor é tudo menos flexível”, afirma.

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