No início de 2020, o setor de cruzeiros vivia um cenário de expectativas positivas e números expressivos. Com cerca de 30 milhões de passageiros transportados em 2019 e um impacto econômico superior a US$ 150 bilhões, a indústria sinalizava crescimento. A previsão para o ano era de 32 milhões de passageiros e 19 novos navios, fazendo o setor se aproximar dos 300 navios em operação em todo mundo.
Passados nove meses a realidade e totalmente contrária. Em meio a criação de protocolos de saúde e segurança, o setor tenta se recuperar da maior crise de sua história e inicia lentamente uma retomada das operações. O estrago provocado pela pandemia de covid-19 paralisou o setor por mais de cinco meses e forçou grandes players a se adaptarem de forma brusca à nova realidade.
Uma das primeiras afetadas foi a Pullmantur, que além de suspender operações iniciou um processo de recuperação judicial na justiça espanhola. Gigantes como Royal Carribean, Norwegian e Carnival apelaram ao mercado financeiro, por meio de aumento de capital, venda de ações e repasse de títulos, para mitigar os impactos da paralisação do setor. Cortes nos salários dos principais executivos e demissões também foram comuns neste período.
Cada medida foi adotada conforme os impactos na indústria foram se revelando. Primeiro, a suspensão das operações, ampliadas seguidas vezes por todas as companhias. Na sequência, o surgimento de políticas de cancelamento e remarcação, que em síntese favoreceram quem optasse por usar os créditos em cruzeiros futuros, evitando o reembolso. Outra marca foi flexibilização de datas dos cruzeiros, adotada pela maioria das armadoras.
Após esta primeira etapa, as empresas se concentraram na gestão da crise, com medidas administrativas, como cortes e redução de salários, busca por recursos e gestão de frota, o que gerou a desativação de navios inteiros e o atraso nas entregas. Inaugurações aguardas como as do Odyssey of the Seas, da Royal Caribbean, Mardi Grass, da Carnival, Firenze, da Costa, e Virtuosa, da MSC ficaram para 2021.
Simultaneamente a essas ações, as companhias trabalharam arduamente no desenvolvimento de protocolos para se adaptar ao novo cenário. Foram comuns parcerias entre armadoras, como ocorreu com Royal e Norwegian, e entre companhias e grupos de saúde e de biosegurança. Os resultados trouxeram novos elementos, como testagem universal de passageiros, uso de máscaras restrição de saídas, mudanças nos bufês, redução de capacidade e até monitoramento de passageiros para rastrear casos de infecção.
Com protocolos rígidos, a MSC Cruzeiros foi a primeira grande companhia a retomar operações. A armadora iniciou operações em agosto no Mediterrâneo, seu principal mercado, com dois navios e embarques limitados a passageiros do espaço de Schengen. Já a Costa iniciou em setembro as suas operações. A retomada no Mediterrâneo e significativa e serve de base por se tratar do segundo maior mercado do setor. Já o Caribe, principal mercado, ainda segue sem previsão de retorno, em meio a restrições nos Estados Unidos e outros países da região.