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Estratégias de guerra: um mercado em busca dos artifícios certos

Margens reduzidas, dólar congelado e câmbio fixado são estratégias para manter vendas dos pacotes internacionais quando a moeda norte-americana ultrapassa R$ 4

Margens reduzidas, dólar congelado e câmbio fixado são estratégias para manter vendas dos pacotes internacionais quando a moeda norte-americana ultrapassa R$ 4


Para fugir de uma retração maior no volume de negócios com a explosão do Dólar Turismo — vendido a R$ 4,22 no dia do fechamento desta edição —, as agências de viagem vão focar na oferta de produtos nacionais no lugar dos pacotes internacionais em 2016. Com a disparada da moeda norte-americana de forma inesperada nos últimos meses, em algumas agências a proporção, que costumava ser equilibrada, está em média 75% (nacional) x 25% (internacional), aponta a Abav Nacional.

De acordo com Edmar Bull, presidente da Abav Nacional, o mercado tem promoções mesmo para destinos internacionais, ancoradas em estratégias como dólar congelado e maior parcelamento. Segundo ele, em geral, o brasileiro que já está acostumado a viajar vai manter seus planos, mesmo em destinos fora do Brasil, optando por serviços menos dispendiosos ou viagens mais curtas.

“Nesse momento o agente de viagens é indispensável, pois ele pode guiar o cliente em relação a produtos que oferecem uma ótima qualidade com economia, e ajustar o preço da viagem às suas possibilidades. Os consumidores, entretanto, têm pesquisado mais (pedido mais cotações do que o habitual) e demorado mais pra fechar negócios”, afirma Bull.

A presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Magda Nassar, espera uma reação no mercado. “Creio que 2016 vai ser melhor que 2015, principalmente com trunfos como as Olimpíadas”. Já o presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, não vê perspectiva de melhora para os próximos dois anos. “A crise pressiona pelo encolhimento do mercado de aviação, com redução de oferta de voos, corte de frequência e de destinos”, relata.

Especialista em finanças pessoais, Fábio Gallo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que esse não é o momento de vender pacotes para fora do país. Se não há como, a recomendação aos agentes é ajudar os seus clientes na elaboração de uma planilha bem organizada que estime os gastos durante os dias de viagem em manhã, tarde e noite. Segundo ele, essa é a melhor e mais realista forma de viajar, e sem preocupação com as oscilações repentinas da cotação da moeda americana. “A pessoa deve pegar o valor que ela de fato pode gastar e, aí sim, começar a distribuir durante todos os dias. É um roteiro financeiro”, justifica ele. Gallo também diz que quem tem um prazo maior até a data o embarque, deve fazer a compra fatiada de dólares para que não haja a exposição a uma única cotação. “Mas deve-se estar atento às variações e ir à casa de câmbio somente nos dias de baixa, ou você fará a pior média possível”, recomenda.

​Brasil ainda é vital para Disney, que já adota medidas preventivas

Focando em promoções e maior número de capacitações, a Disney enxerga o Brasil ainda como um mercado-chave para seus parques na Flórida em 2016. Em entrevista ao M&E, a gerente de Vendas da Disney Destinations para o país, Gabriela Delai, afirma que a Disney já está preparada para os imbróglios relacionados ao mercado brasileiro. “Estamos pensando em possíveis dificuldades e desde janeiro lançamos a oferta do plano de Refeição Grátis para todo o mercado da América Latina neste primeiro semestre. É sem dúvida uma ótima opção, já que as despesas com alimentação sempre são caras”, explica.

Para Gabriela, a questão da super valorização do Dólar, atualmente bem acima dos R$ 4, não assusta tanto, embora ela saiba que o turismo de compras, bem conhecido pelo público brasileiro, já não exista mais. “Estamos passando para o agente de viagens e para as operadoras estratégias de vendas dos ingressos de parques e hotéis. Focar no ingresso de cinco ou mais dias, por exemplo, é bem válido por conta do custo-benefício. O Dólar não assusta e o público brasileiro ainda é um dos mercados que mais visitam os parques da Disney na Flórida anualmente. Ele está, sem dúvida, entre os tops”, finalizou a gerente de Vendas, Gabriela Delai.

Euro e Dólar reduzidos

A estratégia de adotar Euro e Dólar abaixo do valor oficial vem sendo utilizada pela CVC há cerca de três anos. Essas promoções facilitam o planejamento financeiro da viagem, uma vez que os consumidores utilizam as taxas de câmbio reduzido para fazer a conversão para Reais no ato da compra, com parcelamento em até 12x sem juros (em Reais). Isso só é possível pelo fato da CVC fazer reservas em grandes volumes junto aos seus fornecedores. Para conseguir oferecer tarifas ainda mais atraentes, a companhia também passou a fazer, em 2015, negociação direta com a hotelaria no exterior.

A MSC segue a mesma linha. Nas casas de câmbio o Dólar já ultrapassou a casa dos R$ 4, mas para os clientes da armadora a cotação ainda está em R$ 2,99. Esta foi a aposta da empresa para a Temporada 2015-2016 no Brasil. “Não alteramos a nossa meta devido ao atual momento da economia. Teremos 100% de ocupação na temporada”, garante o diretor Comercial da empresa, Adrian Ursilli. “É importante lembrar que esta condição também é valida para os nossos roteiros internacionais”, complementa. Para o executivo, esta é a melhor maneira para que o passageiro tenha o controle dos seus gastos durante a viagem, uma vez que a promoção também é valida para a reserva de excursões e pacotes de bebidas. “Esta é uma das promoções mais competitivas do mercado”.

Adaptação no orçamento

Ainda que as passagens sejam cotadas em Dólar e alguns dos destinos preferidos dos brasileiros usem a moeda norte-americana como referência, dá para viajar para fora do país e ainda assim economizar. Segundo balanço da CVC Viagens, o consumidor não tem deixado de lado os destinos internacionais, no entanto, tem procurado adaptar a viagem ao orçamento. Destinos tradicionalmente para compras como Miami, na Flórida, estão sendo substituídos por cidades onde passeios turísticos são o principal chamariz.

Quem mantém os planos de viajar para o exterior, por exemplo, tem priorizado pacotes mais curtos (e mais econômicos) e com opções de hospedagens em hotéis e resorts com sistema “tudo incluído”, que elimina gastos extras no destino com alimentação, como é o caso dos destinos do Caribe, como Cancun e Punta Cana. Os Estados Unidos lideram o ranking de destinos mais procurados. No entanto, com o Dólar americano atingindo patamares cada vez mais altos, o Canadá (que utiliza como moeda o Dólar Canadense) tem se mostrado uma opção econômica para quem planeja viajar para o exterior. Levantamento realizado pela CVC também aponta aumento de 11% nos embarques para o Canadá, no 1º semestre de 2015, quando comparado ao mesmo período de 2014.

Segundo o diretor-executivo da Tam Viagens, Marcelo Dezem, para as operadoras de turismo, a flutuação do Dólar traz impacto tanto nos gastos operacionais quanto nas vendas, mas isso não tem interferido no planejamento de viagem dos brasileiros. “Devido à ascensão da moeda americana, os consumidores têm buscado cada vez mais alternativas e formas de pagamento facilitadas, optando por alterar o destino, diminuir a viagem, enxugar os opcionais do pacote ou escolher roteiros de viagem que permitam planejamento e controle de gastos”, afirma.

Ainda segundo Dezem, apesar da alta do dólar, viagens para o Orlando, na Flórida (EUA), continuam sendo bastante procuradas na Tam Viagens. A re
de também identificou uma maior procura no segmento de cruzeiros internacionais, sendo que os mais procurados deste ano são o Caribe (que partem da Flórida), a América do Sul (com saídas de portos brasileiros), além de Europa/Mediterrâneo (partindo principalmente da Espanha e Itália).

Outro indicador de que o brasileiro não freou o interesse em viajar para fora do país é que no transporte internacional, a demanda das empresas aéreas brasileiras teve em novembro de 2015 alta pelo 21º mês consecutivo, com avanço de 8,5% na comparação anual, segundo a Anac. As companhias transportaram 6,7 milhões de passageiros ao exterior de janeiro a novembro, quase 1 milhão a mais que no mesmo período de 2014 e o dobro de 2007.

All inclusive também é atrativo

Os chamados pacotes “all inclusive”, com hospedagem, alimentação, refeições e lazer incluídos, são outro chamariz para um cliente com receio de gastar e que não quer sustos no cartão de crédito. Ao ver a demanda esfriar, as agências correram para renegociar preços com fornecedores e tentar oferecer opções mais atraentes para os clientes.

O gerente de Produtos Internacionais da Tam Viagens, Arthur Sorelli, falou sobre as oportunidades. “Mas mesmo com os descontos, o cliente tem receio do que vai gastar durante a viagem, especialmente em Dólar. Isso tornou os pacotes ‘all inclusive’ mais atrativos”, ressalta. Hoje, os pacotes com refeição e lazer incluídos, como cruzeiros e resorts, representam 25% das vendas da agência, número que a empresa estima que será maior em 2016.

Na Tam Viagens as vendas de opções “all inclusive” para destinos internacionais aumentaram 45% no primeiro semestre de 2015, mais do que a expansão de 8% nas vendas da empresa “Os cruzeiros no exterior são até 20% mais baratos que uma opção similar em hospedagem terrestre e não têm risco cambial”, compara.

A CVC também sentiu um interesse maior do cliente pelos pacotes “all inclusive”. “Uma cerveja no exterior que custa US$ 10, já virou mais de R$ 40. Ninguém quer se estressar com isso nas férias. O cliente quer deixar tudo pago e curtir a viagem”, salienta o vice-presidente de Vendas, Produtos e Marketing, Valter Patriani.

Viajante de Intercâmbio é um público-alvo

As viagens para o exterior não se limitam apenas ao turismo. Com a desvalorização do real, escolas de idioma e de cursos profissionalizantes têm procurado adaptar os valores para o bolso dos brasileiros. Segundo o coordenador de cursos no exterior da agência Student Travel Bureau (STB), Bruno Contrera, diante do recesso econômico, as escolas que oferecem cursos em outros países estão trabalhando com preços promocionais para América Latina e com descontos atrativos para continuar atraindo os estudantes do país.

“Os brasileiros estão buscando novas oportunidades em países com moeda mais baixa e oportunidade de trabalho como Canadá, Austrália e Nova Zelândia e até mesmo em países como a Irlanda, onde o estudante poderá ficar até 8 meses e combinar o estudo do idioma com trabalho”, afirma.

​Pesquisa: 65% dos brasileiros não realizaram viagem planejada em 2015

Pesquisa do Instituto Data Popular* divulgada em meados de janeiro aponta que a redução do consumo atingiu 91% dos brasileiros em 2015 na comparação com o ano anterior. O estudo mostra, porém, que os entrevistados não estão dispostos a repetir o comportamento do ano passado: 72% dos que deixaram de realizar alguma atividade de consumo planejada em 2015 pretende retomá-la em 2016.

A maior frustração dos brasileiros, de acordo com a pesquisa, foram as viagens internacionais: 65% dos entrevistados disseram que não puderam realizar a viagem planejada no ano passado. Desses, 42% desejam viajar este ano.

Para 81% dos entrevistados pelo instituto, o Brasil “com certeza” está em crise; 18% disseram que o país “provavelmente” vive uma crise e 1% diz que “provavelmente” não. Dos que acham que existe crise, 55% a consideram a pior que já enfrentaram

Nas respostas múltiplas, a crise econômica liderou as indicações, sendo apontada por 97% dos entrevistados, enquanto 93% consideram haver crise política. Também foi apontada a existência de uma crise de liderança (por 92%) e de perspectiva (90%).

*O Data Popular entrevistou 3,5 mil consumidores em 153 municípios de todos os Estados brasileiros entre os dias 4 e 12 de janeiro. A margem de erro da pesquisa é de 1,66 ponto percentual para mais ou para menos em um intervalo de confiança de 95%, segundo o instituto.

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