O alerta de um possível terremoto enviado para dispositivos Android nesta sexta-feira (14) causou preocupação, confusão e agora virou alvo de investigação. Por volta das 2h15 da manhã, moradores de São Paulo e Rio de Janeiro, além de Minas Gerais (estado também confirmou recebimento), se surpreenderam ao receber uma notificação do Google informando sobre tremores em suas proximidades. Junto com ela, recomendações de segurança e a origem (epicentro) do fenômeno: em Ubatuba, litoral norte do estado paulista.
Conforme divulgado pelo M&E mais cedo, os dispositivos Android possuem um tipo de mini sensor, que detecta atividades sísmicas antes que um terremoto aconteça e, assim, permite que o usuário tome medidas necessárias para se proteger.
A Defesa Civil do estado e o Centro de Sismologia da USP negaram qualquer tremor na região e o Google desativou o sistema temporariamente. O que chama a atenção neste caso o alerta só é enviado quando muitos aparelhos detectam atividades semelhantes ao mesmo tempo. O servidor do Google usa essas informações entendendo que um terremoto pode estar acontecendo e começa a enviar os alertas, bem como características do evento, seu epicentro e magnitude.
Lançado em 2020, o “Earthquake Alerts System” (Sistema de Alertas de Terremoto) registrou erros e acertos desde então. Em 2021, por exemplo, um terremoto nas Filipinas foi detectado e os moradores receberam um alerta antecipado. Mas em 2023, o sistema supostamente falhou ao enviar alertas durante um terremoto na Turquia, embora o Google diga que funcionou corretamente. Em 2024, foi lançado nos Estados Unidos e passou a testar o recurso nos estados da Califórnia, Oregon e Washington. Ao que consta, está funcionando. Mas hoje, falhou em larga escala pela primeira vez.
Conversamos com um meteorologista para entender o que pode ter motivado o alarme falso. Ele explicou que o princípio da coleta de dados possa estar errado, já que o Brasil não há terremotos. “Nós não estamos sobre falha tectônica. O que temos, às vezes, são abalos sísmicos, que ocorrem porque houve um terremoto muito intenso em algum país vizinho, ou por conta de desmoronamentos de encostas, quando chove muito”, enfatizou Marcos Jean.
“Há também a questão de que os smartphones têm um dispositivo que capta quando há muita aceleração. E foi através disso que houve o falso alerta.”
O especialista mencionou que o sistema percebeu um tipo de aceleração qualquer e identificou como um terremoto. Desta forma, disparou o alerta para os dispositivos que estão próximos à região de onde começou tal aceleração, assim como enviou essa informação para o servidor do Google simultaneamente. “Foi um erro o que aconteceu. Tanto é que o sistema foi desativado temporariamente para entender o porquê ocorreu essa falha e voltar a funcionar”, complementou Jean.
Sobre exemplos de tipos de aceleração que o sistema detectou, somente o Google pode responder, já que o desenvolvimento desse mini sensor só é acionado a partir de um tremor de 4.5 de magnitude.
Por enquanto, a empresa emitiu a seguinte nota:
“O Android Earthquake Alert System é um sistema complementar que usa telefones Android para estimar rapidamente as vibrações de terremotos e fornecer alertas às pessoas. Ele não foi projetado para substituir nenhum outro sistema de alerta oficial. Em 14 de fevereiro, nosso sistema detectou sinais de celular perto do litoral de São Paulo e disparou um alerta de terremoto para usuários na região. Desativamos prontamente o sistema de alerta no Brasil e estamos investigando o incidente. Pedimos desculpas aos nossos usuários pelo inconveniente e continuamos comprometidos em melhorar nossas ferramentas.”
Além do Google, a Anatel também se pronunciou, já que os avisos não partiram do sistema da agência, o Defesa Civil Alerta, e disse que vai investigar o caso:
“Considerando o caso noticiado e o impacto causado na população, a Anatel instaurou um processo administrativo para avaliar a situação em detalhes, a fim de compreender os mecanismos de geração e de disseminação de tais alertas via redes de telecomunicações. Verificada qualquer irregularidade, a Agência adotará as providências adequadas junto à empresa responsável, de modo a impedir novos episódios do evento observado, preservando a eficácia e a credibilidade do Defesa Civil Alerta perante a sociedade”.