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Redação ME

Do Mediterrâneo para o Amazonas

Na última semana tive o prazer de ficar uma semana inteira num cruzeiro pelo Mediterrâneo. Foi uma experiência maravilhosa. Agora, estou eu novamente em um cruzeiro, mas dessa vez em plena Amazônia. Isso mesmo, durante uma semana inteira fiz um roteiro bem diferente e cheio de surpresas pelo Rio Negro a bordo do Iberostar Grand Amazon. O navio-hotel tem a chancela Grand Collection, a mais alta do Grupo Iberostar, com base em um conceito de luxo e sofisticação. Engana-se quem acha que este é um passeio menos interessante que o Mediterrâneo, por exemplo, ou qualquer outro cruzeiro. O navio, como disse, é luxuoso e o roteiro tem atrativos que encantam os turistas. Eu me considero uma pessoa bem urbana, e no entanto, me diverti muito. A viagem começa em Manaus, porta de entrada Amazônia. O cruzeiro tem duas saídas semanais durante todo o ano, partindo sempre de Manaus – capital do Estado do Amazonas, alternando sua rota pelos rios Negro e Solimões. No roteiro, escalas em diversos pontos de selva a fim de realizar excursões em pequenos barcos de exploração.

 

Iberostar Grand Amazon Do Mediterrâneo para o Amazonas

Iberostar Grand Amazon

Antes de contar como foi a viagem, vamos fazer algumas observações sobre o Rio Negro. Primeiro, você sabe por que suas águas são negras? Segundo nosso guia Milton, elas tem essa cor devido a grande decomposição de folhas que possuem um ácido chamado tanino. Além disso, por ser uma água ácida há poucos peixes no rio, que também tem altas temperaturas, chegando a 32º graus. Quase toda a região do Rio Negro e arredores é protegida e não se pode construir ou morar. Somente os habitantes que já estavam instalados na região tem o direito de permanecer no local. Apesar do Iberostar fazer excursões pelo local, seu compromisso com o meio ambiente é grande e se traduz num modelo de turismo sustentável que se integra ao ecossistema. A comunidade local participa ativamente desse turismo e é beneficiada. Agora que já sabemos um pouco mais, vamos ao roteiro.

 

Rio Negro tem águas negras por causa de sua acidez Do Mediterrâneo para o Amazonas

Rio Negro tem águas negras por causa de sua acidez

Nossa primeira parada foi em Jaraqui, onde fizemos uma caminhada em trilhas da região de igapós (estreitos cursos de água). Neste passeio tivemos além da presença do guia do navio, o nativo sr. Manoel, que nos ensinou um pouco sobre a fauna e flora da região. No percurso, graças à Deus, não encontramos nenhum animal – já que 80% deles são de hábitos noturnos. Mas tivemos a oportunidade de caminhar dentro da mata e aprender um pouco sobre as árvores locais. Como a Sorva, que de sua seiva pode-se produzir chiclete; ou ainda o Pau Rosa e o Breu Branco, usados como fixador de perfumes. O primeiro é usado até hoje no mais famoso e caro perfume do mundo: o Chanel nº 5. Além do Arabá, uma árvore de raiz aberta (escora) que produz sons utilizados para comunicação. Seu som é tão alto que pode ser ouvido a quatro quilômetros de distância.

 

Sr. Manoel fazendo sons com a raíz de escora da árvore Do Mediterrâneo para o Amazonas

Sr. Manoel fazendo sons com a raíz de escora da árvore

Nossa próxima parada foi em Anavilhana. Este é o maior arquipélago fluvial do mundo em águas e o segundo maior em número de ilhas. São 400 ilhas catalogadas em mais de 90 quilômetros de extensão. Você sabe onde fica o maior arquipélago fluvial de ilhas do mundo? Aqui mesmo no Rio Negro, ele se chama Mariuá. Segundo nosso guia, a região só tem duas estações no ano. O verão e o inverno. Mas o inverno não é bem como conhecemos, porque por aqui não faz frio nunca. As estações se diferenciam somente pela quantidade de chuva. Enquanto no verão o calor é infernal e o nível dos rios baixam; no inverno as temperaturas são um pouco mais amenas e chove muito, fazendo o nível dos rios subirem e alagarem a maior parte da região. Nesse período, muitas ilhas ficam submersas e é nessa época também que as aves aparecem para se reproduzirem.

Novo Airão foi nosso próximo passeio. E pra mim, o mais especial de todos. Foi onde tivemos a oportunidade de ver e interagir com o boto cor de rosa. Aliás, ele não é cor de rosa. Sua cor esta mais para cinza do que outra coisa. Somente seu peito é mais rosado e o correto é boto vermelho. Segundo o guia, ele foi denominado de cor de rosa pelo famoso oceanógrafo Jacques Cousteau, depois de sua visita à região. Há dois tipo de botos, o cinza e o vermelho. O primeiro vive em comunidade e nunca é visto desacompanhado, porém, ele não é muito de fazer amizades com os seres humanos; já os vermelhos são seres mais solitários e se relacionam muito bem com as pessoas. Em Novo Airão tem um local chamado Flutuante dos Botos Cor de Rosa, um antigo restaurante flutuante onde 16 animais costumam vir se alimentar. Nessa ocasião, os turistas podem interagir com os botos.

 

Boto cor de rosa em Novo Airão Do Mediterrâneo para o Amazonas

Boto cor de rosa, em Novo Airão

A história desse lugar é bem interessante. A dona Marilda tinha um restaurante flutuante, que recebia os turistas da região. Ela sempre jogava os restos dos peixes que servia no rio e foi quando os botos começaram a aparecer e se alimentarem desses peixes. Isso enlouqueceu os turistas e seu restaurante ficou famoso. Quando o restaurante fechou, suas duas filhas continuaram a alimentar os botos que continuavam a procurar por comida no local. Os moradores da região ficaram preocupados já que a lenda do boto é muito forte. Eles tinham medo que as meninas engravidassem do boto. Aliás, disse o guia que até hoje as mulheres mais velhas não chegam perto da beira do rio após às 18h. Vai entender! Hoje em dia, o projeto dos botos é monitorado pelo Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A tarde fomos visitar uma comunidade indígena da etnia Baré. Eles ficam à beira do rio Cuieiras numa comunidade chamada Nova Esperança. Lá, vivem apenas 118 pessoas e há cerca de cinco anos eles começaram um trabalho de recuperação das tradições e cultura dessa etnia. Eles não são originais dessa região, migrando para cá há cerca de 23 anos. Com isso, muito de seus costumes se perderam. Assim, decidiram resgatar essas raízes e desde então todas as crianças da tribo são alfabetizadas na língua Portuguesa e também na língua original deles, que é a Nheengatu. Eu adorei ter contato com os índios e é uma delícia ver as crianças nadando e se divertindo no rio.

 

Comunidade de Nova Esperança Do Mediterrâneo para o Amazonas

Comunidade de Nova Esperança

 

Crianças Baré se divertem na beira do rio Do Mediterrâneo para o Amazonas

Crianças Baré se divertem na beira do rio

 

Garoto da comunidade Nova Esperança pintado com desenhos indígenas Do Mediterrâneo para o Amazonas

Garoto da comunidade Nova Esperança pintado com desenhos de sua etnia

Neste mesmo dia que estivemos em Novo Airão fizemos também um passeio noturno de barco para focagem de jacarés. Isso mesmo, jacarés! Eu estava morrendo de medo, mais por ser um passeio noturno do que pelos próprios animais. Para minha sorte e azar dos outros que estavam juntos, não tivemos muita sorte. Acho que os animais não estavam para muitos amigos. Só apareceram poucos e ainda bem pequenos. O guia Piro ficou super frustado. Mas pra mim já valeu! Na volta, nosso grupo de jornalistas ficou sentado a beira da piscina olhando para o céu e vendo as estrelas. O guia Rafael estava junto e nos contou muitas histórias e lendas da região. Ficamos horas assim. O céu era tão estrelado como eu nunca tinha visto. Ainda por cima tivemos oportunidade de ver várias estrelas cadentes. Se todos os meus pedidos forem atendidos, esse ano será maravilhoso!!!

 

Guia Piro com um jacarézinho Do Mediterrâneo para o Amazonas

Guia Piro com um jacarézinho

A manhã seguinte começou bem cedo. Com o amanhecer do dia. Acordamos para ver o nascer no sol, exatamente às 5h45. O espetáculo deve ser bem bonito, a bordo de um dos barquinhos de expedição…. eu falei deve porque nesse dia tivemos o azar de termos uma nuvem enorme bem onde o sol nasceu. Ou seja, o espetáculo ficou para outro dia. Depois de acordarmos direito, foi a vez de pescarmos piranha e avistar mais alguns animais a beira do rio e nos igapós, como preguiça, jacaré, macacos e aves. A pescaria foi um fracasso, as piranhas não estavam nem um pouco com fome, mas, mais uma vez tivemos a sorte de vermos alguns botos, que ficaram se exibindo para nós. No final da tarde fomos a uma praia. Mesmo com a região alagada nessa época, algumas praias ainda são possíveis de acessar. E eu claro, não perdi a oportunidade de nadar no rio Negro. A água é bem quentinha e ficamos horas aproveitando a tarde que estava super ensolarada e gostosa.

Amanhã (12/04) já nosso último dia de viagem. Pela manhã iremos ver o encontro dos rios Negro e Solimões. Depois, seguimos para a capital para um city tour de três horas pelos principais atrativos da cidade. Então, é hora de irmos para o aeroporto e voltarmos para São Paulo, no meu caso. Volto em um outro post para contar como foi o último dia e também os passeio.

Lisia Minelli

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