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Aviação

Auxílio às aéreas soma US$ 53 bi nos EUA e Europa; América Latina segue sem ajuda

BRASIL - BRASILIA -BSB - 24/09/2015 - EC - AVIACAO COMERCIAL: CEUS FECHADOS: Avioes fazem o sequenciamento antes da decolagem no aeroporto internacional de Brasilia. O governo brasileiro vem retardando a ratificacao de acordos internacionais que aumentariam a concorrencia no setor aereo brasileiro e poderiam reduzir tarifas de passagens para os turistas que vao ao exterior. Em outubro, vence o periodo previsto de quatro anos para que o Brasil ratificasse o acordo celebrado em 2011 com os EUA chamado de Open Skies. FOTO ANDRE COELHO / Agencia O Globo

Companhias como American Airlines, United, Delta, TAP, Lufthansa e Air France/KLM já receberam ajuda governamental. No Brasil, empresas ainda negociam auxílio.

Desde que a pandemia de Covid-19 se intensificou na Europa e nos Estados Unidos, em março, o setor aéreo começou a acumular perdas, inicialmente com a demanda e depois, consequentemente, com queima de caixa, desvalorização de mercado e prejuízos operacionais.

Este cenário tornou inevitável a necessidade de ajuda governamental, que veio por meio de aportes diretos, empréstimos, aumento de participação acionária a até nacionalização. Entre os principais grupos aéreos europeus e norte-americanos os auxílios já totalizam cerca de US$ 53 bilhões (quase 45 bilhões de euros). Estes “pacotes bilionários” já fizeram a diferença para amenizar prejuízos, como apontado em balanços de segundo trimestre.

Na América Latina, no entanto, as companhias ainda não receberam grandes resgates por parte dos governos locais. No Brasil, se arrasta há cinco meses uma negociação entre o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as principais companhias aéreas, que prevê um ajuda de R$ 3,6 bilhões a Azul, Gol e Latam. A participação do BNDES representa 60% de um montante que chegará a R$ 6 bilhões, incluindo a empréstimos de bancos privados (10%) e captação no mercado (30%).

Os termos já foram apresentados às aéreas e a expectativa é de que o acordo seja finalizado nas próximas semanas. Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, a demora nas negociações se ve à construção de um modelo inédito.

“É um conceito singular, único no mundo, porque não é todo o recurso do BNDES. São 60% do BNDES e 30% capitado no mercado e 10% dos bancos envolvidos. Isso, por ser inovador, levou a um debate mais longo. As informações que disponho dão conta de que todas as empresas já estão com propostas e já superaram a fase de debates e ajustes, e há uma expectativa de que em algumas semanas tenhamos uma conclusão deste processo. É importante ressaltar que isso significa que ainda não houve nenhum repasse de recurso em grande escala das companhias aéreas”, afirmou Sanovicz em entrevista ao M&E Play, no último dia 6.

Eduardo Sanovicz, Presidente da Abear

Eduardo Sanovicz, Presidente da Abear

O impasse brasileiro não é isolado. Em meio a sua recuperação judicial nos EUA, a Latam Airlines ainda não obteve ajuda de nenhum governo da região. No Chile, a ajuda financeira do governo parece improvável. A relação do presidente, Sebastián Piñera, que é próximo à família Cueto e que já foi acionista da Latam, poderia ser apontada como um interesse pessoal pelas autoridades do país.

Já Avianca Holdings, que anunciou recuperação judicial em maio, tenta há meses, sem sucesso, ajuda do governo colombiano. A Aeromexico é outra latino-americana a procurar proteção na justiça norte-americana. “Hoje, dos 20 maiores grupos de aviação do planeta, 13 já foram objetivo de decisões de seu governo. Aqui na América Latina isso ainda não se configurou”, ressaltou Sanovicz. “Eu gosto da solução americana, pois ela foi rapidamente adotada e permitiu que a sangria de caixa parasse muito rápido. Não deixou as empresas sangrando em praça pública”, completou o presidente da Abear.

Estados Unidos

Como citado por Sanovicz, a resposta mais rápida ocorreu nos EUA, que garantiu já em abril um pacote que garantiu US$ 25 bilhões a onze companhias aéreas, incluindo as gigantes American Airlines, Delta e United. O montante veio por meio do programa de suporte à folha de pagamento (Payroll Support Program – PSP), criado para combater os impactos econômicos da pandemia. Em contrapartida, as companhias aceitaram não realizar demissões até 30 de setembro. A medida faz parte do pacote econômico de US$ 2,2 trilhões, aprovado pelo Congresso dos EUA em março, chamado de Lei Cares.

A ajuda teve efeito prático imediato. No 2º trimestre, a United reportou um abatimento de US$ 1,59 bilhão no prejuízo líquido, em função da Lei Cares. No balanço da Delta o auxílio aparece no prejuízo ajustado, em um abatimento de US$ 3,2 bilhões, que inclui também encargos de reestruturação e investimentos em ações.

No congresso norte-americano, já existem movimentações de representantes e senadores para que o pacote seja prorrogado além de setembro, com a injeção de mais US$ 25 bilhões no setor. Paralelamente a este lobby, as empresas já negociam termos para obter empréstimos federais com juros menores.

americandeltaunited

American Airlines. Delta e United já reportaram o impe ato do auxílio do governo em seu balanço trimestral.

Europa

Na Europa, o apoio financeiro já soma 23,6 bilhões de euros (aproximadamente US$ 28 bilhões). No entanto, os auxílios às principais companhias aéreas, envolveram impasses antes de sua liberação. Um exemplo foi o Grupo Lufthansa, para qual o governo alemão destinou um pacote de 9 bilhões de euros. A companhia chegou a convocar a acionistas para aprovarem o acordo, temendo uma possível rejeição da proposta em Assembleia. O acordo, porém, foi aprovado no fim de junho.

Do valor total da ajuda, 5,7 bilhões de euros virão por meio do Fundo de Estabilização Econômica (WSF – sigla em alemão), € 3 bilhões em empréstimos fornecidos por bancos privados e pelo KfW, banco estatal de desenvolvimento da Alemanha. O Fundo ainda adquirirá ações para formar uma participação acionária de 20% no Grupo Lufthansa, o que equivale a um investimento total de caixa de cerca de € 300 milhões, totalizando assim o montante de 9 bilhões de euros. Esta participação acionária e a concessão de slots em Frankfurt e Munique fora apontados como principais motivos do impasse na aprovação.

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Ajuda à Lufthansa foi aprovada por acionistas em junho

Já o grupo Air France/KLM receberá cerca de 10,4 bilhões de euros, sendo 7 bilhões do governo francês e 3,4 bilhões do holandês. No entanto, a participação da Holanda ficou em dúvida após o governo questionar o pagamento de bônus a executivos durante o período de pandemia. Enquanto a ajuda da França à Air France foi anunciada em abril, o aporte holandês à KLM foi autorizado somente em junho.

Um caso à parte foi a Alitalia. A empresa, que já enfrentava sérias dificuldades financeiras antes da pandemia, viu sua situação se agravar e foi nacionalizada pelo estado italiano, após não encontrar investidores privados. O governo ainda anunciou um orçamento de 3 bilhões de euros para companhia.

Outro exemplo de controle estatal se configura na TAP. O governo português adquiriu parte do capital privado da companhia, que pertencia ao empresário David Neeleman, chegando a uma participação de 72,5%. Com a aquisição, o estado assegurou o controle da empresa, e decidirá sobre o futuro de seu conselho executivo, condição estabelecida para conceder um auxílio de 1,2 bilhão de euros.

Além dos auxílios diretos, outras formas ainda se apresentam para companhias europeias. Na Espanha, o Governo criou, por meio da Sociedad Estatal de Participaciones Industriales (Sepi), um fundo de resgate de 10 bilhões de euros, que pode ser acessado pelas aéreas. A ajuda, no entanto, já foi descartada pelo International Airlines Group (IAG), controlador da Iberia, pois o acesso ao auxílio afetaria o processo de aquisição da Air Europa.

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