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Aviação

RETROSPECTIVA 2019: O ano da aviação – Parte 4

Retrospectiva 2019

O dinheiro também foi a bola da vez na aviação no ano de 2019. Grandes investimentos, negociações, concessões vendas e aquisições movimentaram cifras impressionantes no segmento. Algumas destas movimentações mexeram em cheio com a estrutura comercial da aviação brasileira. A mais surpreendente delas, certamente, foi a compra de parte Latam pela Delta Air Lines, anunciada em 26 de setembro de 2019.

Leia também:
O ano da aviação – Parte 1 (Avianca, Gerra dos Slots e ICMS)
O ano da aviação – Parte 2 (Low-costs, MP das aéreas e companhias brasileiras)
O ano da aviação – Parte 3 ( Crise do 737 MAX e fim do A380)

A companhia norte-americana chegou a um acordo de US$ 1,9 bilhão (cerca de R$ 7,9 bilhões) por 20% da companhia sul-americana. O negócio foi anunciado como uma parceria estratégica que combina as forças das companhias aéreas líderes das Américas do Norte e Latina. Juntas, as duas empresas viajarão para 435 destinos no mundo todo.

A companhia espera incentivar as vendas dos agentes de viagens de todo o Brasil

Delta e Gol encerraram este ano uma parceria iniciada em 2011.

O anúncio caiu como uma bomba no mercado e afetou, além das duas empresas, as suas principais parceiras comerciais nas Américas. Pelo lado da Latam, a atingida foi a American Airlines, com quem possuía um amplo acordo de codeshare, cancelado dias após o anúncio negócio. Além do fim do acordo, a American revelou planos de ampliar o número de voos de seu hub em Miami para Santiago, Lima e Guarulhos, principais hubs da Latam.

Já pelo lado da Delta, a grande afetada foi a Gol, que além de ter seus voos abastecidos pelos passageiros da companhia, tinha a empresa americana como acionista. A condição de acionista se encerrou no início de dezembro, quando a Delta vendeu sua participação na Gol, alienando 5% das ações preferenciais. Já os acordos de codeshare devem acontecer de maneira gradual.  A Gol emitiu um comunicado agradecendo a parceria, mas afirmando que ela foi responsável por aproximadamente 0,3% da receita total da Gol no período.

JOINT VENTURE E CODESHARE

O desenrolar desta negociação ainda pode gerar outros efeitos, como uma possível parceria entre a American Airlines e a Gol, e um predomínio de Delta e Latam no continente americano. Além das aéreas envolvidas, outras grandes companhias também reagiram ao negócio. Avianca, United Airlines e Copa Airlines estudam a criação de uma joint venture. A aliança deve incluir também a brasileira Azul.

Enquanto a esta grande aliança ainda está em negociação, outra foi aprovada no início de dezembro. O Conselho da Azul Linhas Aéreas aprovou a criação de uma joint venture com a TAP. O objetivo é unir as duas empresas que contam com controle acionário de David Neelemann, em uma parceria para oferecer mais conexões e destinos aos clientes de ambas. A ideia é alinhar benefícios, programas de passageiros frequentes e experiência.

Abih Shah, vice-presidente de Receitas da Azul, anunciou a aprovação da joint venture durante o Azul day, realizado em dezembro.

Abih Shah, vice-presidente de Receitas da Azul, anunciou a aprovação da joint venture durante o Azul day, realizado em dezembro.

Além da TAP, a Azul também costurou um acordo de codeshare com a Avianca Holdings permitindo à companhia colombiana acessar a 27 destinos no Brasil. Acordo semelhante também firmou a Copa Airlines com Azul e Gol, expandindo a parceria que já existia.

O novo acordo com a Azul garantirá partidas de de Belo Horizonte (para Cuiabá, Caldas Novas, São Luis e Teixeira de Freitas), Manaus (para Tabatinga), Recife (para Cuiabá), Rio de Janeiro/GIG (para Campos, Ribeirão Preto e São José dos Campos) e Salvador (para Campinas), que passaram a ganhar o código de voo CM da Copa Airlines.

Já com a Gol, a parceria vai garantir saídas de Brasília (para Belém, Cuiabá, João Pessoa, Maceió, Natal, Palmas, Porto Seguro, Rio Branco, São Luis, São Paulo/CGH e Teresina) e de Guarulhos (para Cascavel, Cruz, Ilhéus, Joinville, Montes Claros, Passo Fundo, Sinop e Vitória da Conquista).

Além da Copa, a Gol também inicia em janeiro um acordo de código compartilhado com a Air Europa, que atenderá a 20 destinos a partir de São Paulo, Recife e Salvador. A expectativa é que este acordo seja ampliado também para Fortaleza, onde a companhia espanhola iniciou operações em dezembro.

AIR EUROPA E IAG

Se o negócio entre Delta e Latam mexeu com as Américas, a Europa foi palco de um transação de 1 bilhão de euros, que tornou o International Airlines Group (IAG) proprietário das três maiores empresas aéreas da Espanha. O grupo britânico, que já controla Iberia e British Airways, aceitou a proposta bilionária pela compra da Air Europa, pertencente ao Grupo Globalia.

Com a aquisição, a Air Europa passa a fazer parte da gigante britânica da aviação.

Com a aquisição, a Air Europa passa a fazer parte da gigante britânica da aviação.

Com a aquisição, o grupo tem como objetivo fazer de Madri um dos maiores hubs de aviação do planeta, desafiando os maiores terminais da Europa, como o Heathrow, de Londres, e Charles De Gaulle, em Paris. A Air Europa se juntará ao conglomerado de companhias aéreas da IAG, que inclui também a Aer Lingus da Irlanda as companhias aéreas de baixo custo Vueling (Top 3 da Espanha em número de passageiros) e Level.

AEROPORTOS

As cifras milionárias não movimentaram somente as companhias aéreas, mas também os aeroportos, quem entre ampliações e inaugurações se tornaram verdadeiras obras arquitetônicas. O grande destaque fica por conta do Aeroporto Internacional de Pequim (Beijing Daxing International Airport), que teve suas obras concluídas em julho, resultado de um investimento de US$ 14,5 bilhões (100 bilhões de yuan).

Novo aeroporto Pequim Daxing

Novo aeroporto Pequim Daxing

O novo aeroporto tem uma área de 700 mil metros quadrados, o equivalente a 100 campos de futebol. A expectativa é de que o terminal receba 41 milhões de passageiros em 2021, chegando a capacidade de 75 milhões de passageiros até 2025.

Em 2040 serão 100 milhões. Somando o tráfego do novo aeroporto e do atual, a expectativa é de que a capital chinesa registre uma movimentação de 170 milhões de passageiros. Em outubro o Beijing Daxing recebeu seus primeiros voos internacionais.

Enquanto na China a inauguração do aeroporto foi notícia, no Qatar o anúncio da reforma atraiu os holofotes. O Aeroporto Internacional de Hamad divulgou seu plano de expansão para atender à demanda da Copa do Mundo de 2022. O terminal deve expandir sua capacidade para 53 milhões de passageiros por ano até o ano do mundial.

O destaque da expansão não é somente o aumento da capacidade, mas as características arquitetônicas do projeto, que abusará dos recursos hídricos, como a construção de um jardim tropical interno no aeroporto. Os obras estão previstas para iniciar em 2020.

Arte conceitual do jardim tropical do Aeroporto Internacional de Hamad

Arte conceitual do jardim tropical do Aeroporto Internacional de Hamad

CONCESSÕES

Se no Oriente as obras movimentaram cifras, aqui no Brasil o impacto financeiro ficou por conta da 5ª rodada de concessões de aeroportos do governo federal, o primeiro a acontecer em bloco. Com um ágio de mais de 1.000%, 12 aeroportos do lote foram arrematados por R$ 2,37 bilhões.

O Nordeste, bloco de maior interesse, foi arrematado pelo grupo espanhol Aena Desarrollo Internacional, com um investimento inicial de R$ 1,900 bilhões. O vencedor será responsável por Aeroportos de capitais como Recife (PE), Maceió (AL), Aracajú (SE), João Pessoa (PB), além de grandes cidades como Campina Grande (PB) e Juazeiro do Norte (CE).

Representante da Aena arremata o bloco nordeste ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Representante da Aena arremata o bloco nordeste ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Já o bloco Centro-Oeste foi arrematado pelo Consórcio Aeroeste, que no leilão fez a proposta de investimento inicial de R$ 40 milhões, enquanto o Sudeste, que conta com os aeroportos de Vitória (ES) e Macaé (RJ), teve como vencedora a Zurich Airport Latin America, com investimento inicial de R$ 437 milhões.

Além dos aeroportos ad 5ª rodada, o Ministério da Infraestrutura também anunciou os terminais que integrarão a próxima rodada de concessões. Previsto para o início do segundo semestre de 2020 o leilão incluirá, Curitiba (PR), Bacacheri (PR), Foz do Iguaçu (PR), Londrina (PR), Joinville (SC), Navegantes (SC), Pelotas (RS), Bagé (RS) e Uruguaiana (RS), somente na região sul

Na região Norte serão sete: Manaus (AM), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Tefé (AM), Tabatinga (AM), Rio Branco (AC) e Cruzeiro do Sul (AC). A região Centro-Oeste terá seis aeroportos concedidos: Goiânia (GO), Palmas (TO), São Luís (MA), Teresina (PI), Imperatriz (MA) e Petrolina (PE). Para este grupo da 6ª rodada está prevista a arrecadação de R$5 bilhões.

Ministros Santa Cruz, da Secretaria de Governo e Tarcisio Freitas, da Infraestrutura, com os vencedores da quinta rodada de concessões

Santa Cruz, então ministro da Secretaria de Governo, e Tarcisio Freitas, da Infraestrutura, com os vencedores da quinta rodada de concessões

Fechando as metas do governo, a sétima rodada de concessões contará com três blocos e uma arrecadação prevista de R$ 5,28 bilhões. Esta rodada é considerada a principal, por englobar os aeroportos de Santos Dumont (RJ) e Congonhas (SP), que foram deixados para o final para garantir a sustentabilidade da Infraero.

BOAS PERSPECTIVAS

Os acontecimentos de 2019 abriram diversas discussões sobre o futuro do setor, quem vão desde a necessidade de uma desregulamentação para atrair novas companhias e investimentos, como mostrou a MP das aéreas, à necessidade de uma rigidez  maior em questões de segurança, como mostrou o acidente com o MAX.

No Brasil, após o impacto da Avianca, fechamos o ano com uma Azul cada vez mais consolidada, iniciando sua segunda década de vida com uma série de conquistas, como rotas internacionais, entrada na ponte-aérea e um crescimento constante em demanda e ampliando ainda mais sua liderança e número de destinos atendidos.

Já a Gol, apesar de prejudicada pela crise do MAX, segue apostando em sua expansão internacional, que deve incluir um número cada vez maior destinos na América do Sul. Na outra ponta está investindo também na aviação regional, operando rotas antes apontadas como improváveis para um 737, e também investindo parcerias com companhias menores, como VoePass e Twoflex.

A Latam, por sua vez, sai de 2019 muito maior do que entrou, com um novo programa de fidelidade estabelecido, uma parceria forte e o início das operações de suas primeiras aeronaves remodeladas para atender ao mercado corporativo.

Investimento em aeroportos, crescimento da aviação regional, chegada das low-costs, mais destinos e corte de impostos para o setor abrem caminho para uma aviação mais forte em 2020, após um turbulento e agitado 2019.

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